Raissa Roberti
Benevides
Verônica Bender
Haydu
Silvia Regina de
Souza
Os jogos educativos são um
meio divertido e eficaz para ensinar diversos comportamentos, desde os mais
simples, como higiene bucal, até os mais complexos, como os acadêmicos e os
pró-sociais. Em vista disso, é interessante que professores sejam ensinados a
elaborar e adaptar jogos para serem utilizados como recursos adicionais em sala
de aula. Contudo, criar um jogo que tenha por finalidade o ensino de
comportamentos tão complexos não é uma tarefa fácil. O desenvolvimento de jogos,
baseado nos princípios do Design de Jogos, compreende um conjunto de etapas
para que o produto final garanta a imersão do aprendiz e a aprendizagem dos
comportamentos-alvo. Este texto tem por finalidade apresentar, sucintamente, as
principais etapas envolvidas no processo de criação de jogos.
O processo para a criação
de jogos compreende uma série de etapas por parte de quem cria o jogo, ou seja,
o designer. Mas quais são essas etapas? A seguir apresentamos algumas delas que
foram resumidos a partir de proposições das áreas do Design de Jogos e da
Análise do Comportamento.
Etapa
1.
Primeiramente é importante que os comportamentos-objetivo e o público-alvo do
jogo sejam definidos. Essa etapa do procedimento é importante, pois a escolha
do público-alvo e dos comportamentos-objetivo é afetada uma pela outra, uma vez
que a complexidade do comportamentos-objetivo depende do repertório inicial dos
participantes. Após a definição desses aspectos, o designer deve se perguntar se
a decisão tomada por ele na escolha do público-alvo e dos
comportamentos-objetivo são pertinentes. Caso a resposta seja não ele deverá adequar
seus objetivos e refazer a pergunta até que o público-alvo e o
comportamento-objetivo estejam alinhados (Botomé, 1977).
Etapa
2.
Uma definição apropriada dos comportamentos-objetivo possibilita o
desenvolvimento adequado dos elementos do jogo como a mecânica, a tecnologia, a
estética e o enredo.
A mecânica diz respeito
aos procedimentos e regras do jogo, isto é, como o jogador alcançará os
objetivos do jogo. A tecnologia é como o jogo será apresentado, suas
ferramentas e infraestrutura. A estética envolve o conceito de cinestesia e as
sensações dos participantes e deve refletir aquilo que o jogador sentiria caso
o jogo não fosse uma simulação. Por fim, o enredo pode ser definido como os eventos
e as características do contexto/ambiente criado, as regras dessa nova
realidade (Schell, 2008).
Essa etapa é importante
na medida em que, ao elaborar a mecânica, a tecnologia, a estética e o enredo
apropriadamente, o designer garantirá a imersão e o engajamento dos jogadores, haja
vista que são esses elementos que entrarão em contato direto com o jogador. Após
a finalização dessa etapa, que tem como consequência a elaboração de um
protótipo (modelo da ideia do jogo, passível de ser jogado), passa-se para a terceira
etapa que é a de teste.
Etapa
3.
Nessa etapa, o designer terá que testar o jogo em duas instâncias:
1.
Verificar
a jogabilidade e o engajamento do jogador. Esse teste pode ser
feito pelo próprio designer, que, usando o protótipo, joga com seus
colaboradores e familiares, e depois os testes podem ser realizados com a população-alvo.
Nessa etapa, analisam-se as jogadas e as partidas durante o teste, bem como
entrevistas após o jogo, a fim de averiguar, por exemplo, a compreensão das
regras, engajamento dos jogadores na partida, dificuldades dos jogadores. A
partir da análise do desempenho dos jogadores nas partidas-teste, é possível
verificar quais aspectos do jogo precisam ser reformulados, o que pode levar à
modificação e à criação de um novo protótipo. Os testes e suas análises devem
ser repetidos até que reformulações não sejam mais necessárias (Fullerton,
2008).
2.
Verificar
a aprendizagem dos comportamentos-objetivo propostos por meio do jogo.
A efetividade do jogo no ensino de uma determinada habilidade pode ser avaliada
de diversas formas. Por exemplo, o ensino dos comportamentos-objetivo pode ser
avaliado por meio de testes, questionários, entrevista, observações e registro dos
comportamentos dos jogadores durante os jogos. Além disso, pode-se perguntar
para os jogadores como foi a sua experiência com o jogo, a fim de verificar
possíveis pontos a serem modificados (Fullerton, 2008).
O desenvolvimento de
jogos é um processo que se inicia com a definição dos objetivos e segue para a
criação dos quatro elementos do jogo e teste. O jogo produzido, portanto, deve
estar em constante avaliação, o que pode levar a sua modificação, podendo o
designer avançar e retroceder diante dos resultados dos testes.
Criar jogos educativos pode
ser uma atividade tão complexa quanto os próprios comportamentos que eles
pretendem ensinar. Entretanto, ensinar técnicas de desenvolvimento de jogos a
educadores e analistas do comportamento pode ser relevante. Isso porque os
jogos educativos permitem criar ambientes mais interessantes de aprendizagem, possibilitando
maior engajamento do aprendiz na tarefa e uma aprendizagem ativa, aspectos com
os quais os estudiosos da Análise do Comportamento e os educadores
frequentemente se preocupam.
Referências
Botomé, S. P.
(1977). Atividades de ensino e objetivos
comportamentais: no que diferem. [manuscrito não publicado].
Fullerton,
T. (2008). Game design workshop: a
playcentric approach to creating innovative games. (2nd ed.). USA: Taylor
& Francis, Elsevier.
Schell,
J. (2008). The art of game design: A book
of lenses. (2nd ed.) Burlington, MA: Elsevier.
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