segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Jogos Educativos: um quebra-cabeça desafiante para os Designers de Jogos



Raissa Roberti Benevides
Verônica Bender Haydu
Silvia Regina de Souza

Os jogos educativos são um meio divertido e eficaz para ensinar diversos comportamentos, desde os mais simples, como higiene bucal, até os mais complexos, como os acadêmicos e os pró-sociais. Em vista disso, é interessante que professores sejam ensinados a elaborar e adaptar jogos para serem utilizados como recursos adicionais em sala de aula. Contudo, criar um jogo que tenha por finalidade o ensino de comportamentos tão complexos não é uma tarefa fácil. O desenvolvimento de jogos, baseado nos princípios do Design de Jogos, compreende um conjunto de etapas para que o produto final garanta a imersão do aprendiz e a aprendizagem dos comportamentos-alvo. Este texto tem por finalidade apresentar, sucintamente, as principais etapas envolvidas no processo de criação de jogos.
O processo para a criação de jogos compreende uma série de etapas por parte de quem cria o jogo, ou seja, o designer. Mas quais são essas etapas? A seguir apresentamos algumas delas que foram resumidos a partir de proposições das áreas do Design de Jogos e da Análise do Comportamento.

Etapa 1. Primeiramente é importante que os comportamentos-objetivo e o público-alvo do jogo sejam definidos. Essa etapa do procedimento é importante, pois a escolha do público-alvo e dos comportamentos-objetivo é afetada uma pela outra, uma vez que a complexidade do comportamentos-objetivo depende do repertório inicial dos participantes. Após a definição desses aspectos, o designer deve se perguntar se a decisão tomada por ele na escolha do público-alvo e dos comportamentos-objetivo são pertinentes. Caso a resposta seja não ele deverá adequar seus objetivos e refazer a pergunta até que o público-alvo e o comportamento-objetivo estejam alinhados (Botomé, 1977).
Etapa 2. Uma definição apropriada dos comportamentos-objetivo possibilita o desenvolvimento adequado dos elementos do jogo como a mecânica, a tecnologia, a estética e o enredo.
A mecânica diz respeito aos procedimentos e regras do jogo, isto é, como o jogador alcançará os objetivos do jogo. A tecnologia é como o jogo será apresentado, suas ferramentas e infraestrutura. A estética envolve o conceito de cinestesia e as sensações dos participantes e deve refletir aquilo que o jogador sentiria caso o jogo não fosse uma simulação. Por fim, o enredo pode ser definido como os eventos e as características do contexto/ambiente criado, as regras dessa nova realidade (Schell, 2008).
Essa etapa é importante na medida em que, ao elaborar a mecânica, a tecnologia, a estética e o enredo apropriadamente, o designer garantirá a imersão e o engajamento dos jogadores, haja vista que são esses elementos que entrarão em contato direto com o jogador. Após a finalização dessa etapa, que tem como consequência a elaboração de um protótipo (modelo da ideia do jogo, passível de ser jogado), passa-se para a terceira etapa que é a de teste.
Etapa 3. Nessa etapa, o designer terá que testar o jogo em duas instâncias:
1.             Verificar a jogabilidade e o engajamento do jogador. Esse teste pode ser feito pelo próprio designer, que, usando o protótipo, joga com seus colaboradores e familiares, e depois os testes podem ser realizados com a população-alvo. Nessa etapa, analisam-se as jogadas e as partidas durante o teste, bem como entrevistas após o jogo, a fim de averiguar, por exemplo, a compreensão das regras, engajamento dos jogadores na partida, dificuldades dos jogadores. A partir da análise do desempenho dos jogadores nas partidas-teste, é possível verificar quais aspectos do jogo precisam ser reformulados, o que pode levar à modificação e à criação de um novo protótipo. Os testes e suas análises devem ser repetidos até que reformulações não sejam mais necessárias (Fullerton, 2008).
2.             Verificar a aprendizagem dos comportamentos-objetivo propostos por meio do jogo. A efetividade do jogo no ensino de uma determinada habilidade pode ser avaliada de diversas formas. Por exemplo, o ensino dos comportamentos-objetivo pode ser avaliado por meio de testes, questionários, entrevista, observações e registro dos comportamentos dos jogadores durante os jogos. Além disso, pode-se perguntar para os jogadores como foi a sua experiência com o jogo, a fim de verificar possíveis pontos a serem modificados (Fullerton, 2008).
O desenvolvimento de jogos é um processo que se inicia com a definição dos objetivos e segue para a criação dos quatro elementos do jogo e teste. O jogo produzido, portanto, deve estar em constante avaliação, o que pode levar a sua modificação, podendo o designer avançar e retroceder diante dos resultados dos testes.
Criar jogos educativos pode ser uma atividade tão complexa quanto os próprios comportamentos que eles pretendem ensinar. Entretanto, ensinar técnicas de desenvolvimento de jogos a educadores e analistas do comportamento pode ser relevante. Isso porque os jogos educativos permitem criar ambientes mais interessantes de aprendizagem, possibilitando maior engajamento do aprendiz na tarefa e uma aprendizagem ativa, aspectos com os quais os estudiosos da Análise do Comportamento e os educadores frequentemente se preocupam.
  
Referências



Botomé, S. P. (1977). Atividades de ensino e objetivos comportamentais: no que diferem. [manuscrito não publicado].

Fullerton, T. (2008). Game design workshop: a playcentric approach to creating innovative games. (2nd ed.). USA: Taylor & Francis, Elsevier.

Schell, J. (2008). The art of game design: A book of lenses. (2nd ed.) Burlington, MA: Elsevier.

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