domingo, 8 de março de 2020

8 de março: luta, protagonismo e ciência


Jordana Fontana

“Parabéns às mulheres, sábias encantadoras, que transformam a vida em algo leve e suave. Parabéns às mulheres que embelezam o mundo e adoçam nossos olhos. Que com sensibilidade deixam a vida mais bonita”. Esse é o tipo de mensagem que mulheres costumam receber a cada dia 8 de março. Mas cabe a pergunta: que tipo de comportamento estão sendo reforçados com essas afirmações? O gênero feminino é historicamente estereotipado e inferiorizado: a mulher é vista como delicada e amável, cujo dever é tornar a vida mais leve e bonita – e consequentemente, viver em função de agradar o outro.  Elogiar mulheres apenas pela sua sensibilidade, delicadeza significa reforçar comportamentos de submissão. É promover a manutenção da mulher no lugar de cuidadora, e somente disso.  É promover a exclusão das mulheres em espaços públicos, em posições de poder, no mundo do trabalho, na ciência.
O dia 8 de março é marcado exatamente pelo contrário. É um dia que surgiu da luta das mulheres trabalhadoras por direitos, do questionamento, da revolução. Reforçar comportamentos de submissão é incompatível com o significado desse dia.
Mulheres têm a cada dia mais participado da ciência, e contribuído para a construção de um mundo melhor. Entretanto, sempre ficam apagadas, silenciadas atrás de nomes masculinos. Poucos lembram que a primeira publicação da teoria da relatividade tinha dois autores: Albert Einsten e Mileva Einsten. Quando se fala da “viagem do homem à lua”, pouco se fala de Margaret Hamilton, que desenvolveu o programa de voo usado no Apollo 11.
Na ciência do comportamento, muitas vezes o movimento é o mesmo. Muito se fala dos homens que contribuíram para o desenvolvimento da teoria e das pesquisas, pouco se lembra das mulheres. Marian Breland Bailey, Rosalie Rayner, Evalyn Segal, K. Eileen Allen, Kathleen Kinkade, Beth Sulzer-Azaroff, Marian DeMeyer, Betty Hart, Mary Cover Jones, Ellen Reese, Barbara Etzel, Suzan Meyer Markle, Carolina Bori, Maria Amelia Matos, Maria Amalia Pie Abib Andery, Marta Hübner, Sonia Meyer.
E é por essas mulheres e por muitas outras Marias, Carolinas, Amandas, Anas, Camilas, Verônicas, Silvias e Alines que esse dia deve ser lembrado pela luta, pela participação em um espaço que não é visto como feminino. Pela revolução, pelas mudanças e pelas contribuições. Pela indignação e pela busca de um mundo melhor, com mais saúde e justiça social. Nesse 8 de março, que nossa parabenização seja às conquistas das mulheres. Que continuemos sendo cada dia mais protagonistas na psicologia, na ciência e na sociedade.

Para saber mais:
https://www.publico.es/sociedad/admiralas-mujeres-cambiaron-ciencia-suenen.html