sexta-feira, 26 de julho de 2019

Jogos educativos e o descarte de resíduos sólidos da construção civil



Raquel Neves Balan

Verônica Bender Haydu


O descarte incorreto de resíduos comuns (e.g., plásticos, vidros, papéis e metais) pode gerar diversos prejuízos ao meio ambiente, como contaminação de solo, lençóis freáticos, poluição do ar e a proliferação de animais que são vetores e transmissores de doenças. Devido a isso, constata-se a existência de diversas formas de intervenção direcionadas para a educação ambiental da população em relação ao descarte desse tipo de material. Por exemplo, campanhas na televisão e outros tipos de mídia, aulas educativas nos diversos tipos de instituições, dentre outras. Essas campanhas e aulas, contudo, enfatizam pouco o deve ser feito com outros tipos de materiais, como os resíduos sólidos da construção civil (RSCC).
Alguns dos RSCC, como tijolos, madeiras, areia, cimento e telhas, devem ser descartados em caçambas para posteriormente serem direcionados a empresas especializadas em separar e reciclar esses resíduos. No entanto, também são descartados em caçambas outros materiais que inviabilizam o processo de reciclagem, como tintas, orgânicos, isopor e eletrônicos. Considerando que não existem intervenções que ensina a população quanto ao descarte de RSCC (Pozzobon, 2013), e que o descarte correto desses resíduos pode favorecer o processo de reciclagem e diminuir o consumo de produtos naturais para realização de novas obras, a educação ambiental da população sobre o descarte de RSCC é necessária.
A educação, de maneira geral, pode ser definida como planejamento de contingências que aceleram o processo de aprendizagem e proporcionam situações para que comportamentos específicos sejam emitidos (Skinner, 1968/1972). Uma das maneiras de ensino especificadas na literatura para a educação ambiental são jogos eletrônicos ou de tabuleiro que ensinam crianças e adultos sobre sustentabilidade. O ensino por meio de jogos deve possuir algumas características em conformidade com os princípios de aprendizagem da Análise do Comportamento. Algumas dessas características, de acordo com Perkoski e de Souza (2017), são: a definição clara dos comportamentos a serem ensinados (operacionalização), o uso de estímulos que representem a situação natural (programação da generalização), fornecimento de feedbacks imediatos para maior efetividade na seleção dos comportamentos e a evolução no ritmo do aprendiz.
Os jogos citados na literatura referentes à comportamentos sustentáveis (e.g., Branco et al., 2015; Patriarcha, Zanon, & Souza, 2005; Rosa & de Oliveira, 2009) visam ensinar aos jogadores conhecimentos sobre fauna e flora, conservação de áreas verdes, poluição de ambientes, equilíbrio entre ecossistemas, entre outros. Os resultados dessas pesquisas científicas demonstraram que os jogos desenvolvidos foram eficazes para ensinar aos jogadores os comportamentos pretendidos. diante dos efeitos promissores desses estudos, destaca-se que a área de pesquisa sobre jogos educativos pode ser um dos meios importantes para ensinar crianças, adolescentes, adultos e idosos sobre o descarte correto dos RSCC.
Evidencia-se, assim, o papel dos cientistas do comportamento humano para compreender as variáveis ambientais que selecionam e mantêm repertórios não sustentáveis e, a partir disso, modificar o ambiente por meio de instrumentos e procedimentos específicos a fim de desenvolver comportamentos pró-ambientais. As mudanças de comportamentos individuais evidenciadas nos estudos podem ser replicadas e ampliadas, de modo a gerar grandes alterações na maneira como os homens se comportam em relação ao meio ambiente. Assim como pontuou Skinner (1974, p. 8), “Os principais problemas enfrentados hoje pelo mundo só poderão ser resolvidos se melhorarmos nossa compreensão do comportamento humano”.


Referências
Branco, M. A. A, Weyermüller, A. R., Müller, E.F., Schneider, G. T., Hupffer, H. M, Delgado, J, Mossman, J. B, Bez, M. R, & Mendes, TG. (2015). Games in the environmental context and their strategic use for environmental education. Brazilian Journal of Biology, 75(2, Suppl.), 114-121.
Patriarcha-Graciolli, S., Zanon, Â., & Souza, P. (2013). “Jogo dos predadores”: uma proposta lúdica para favorecer a aprendizagem em ensino de ciências e educação ambiental. Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental, 20.
Perkoski, I., & de Souza, S. (2017). "O Espião”: Uma perspectiva analítico comportamental do desenvolvimento de jogos educativos de tabuleiro. Perspectivas Em Análise Do Comportamento, 6(2), 74-88.
Pozzobon, M. P. (2013). Resíduos da construção civil (Especialização em Direito Ambiental Nacional e Internacional). Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil.
Rosa, A. V., de Oliveira, H. T. (2009). Jogos Educativos sobre sustentabilidade na Educação Ambiental Crítica. Tese de Doutorado, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, São Paulo, Brasil.
Skinner, B. F. (1968/1972).  Tecnologia do ensino. São Paulo: Herder.
Skinner, B. F. (1953/2003). Ciência e comportamento humano. São Paulo: Martins Fontes.



Pais de crianças com autismo: devemos inclui-los na intervenção?




Victória Druzian Lopes
Nádia Kienen
Verônica Bender Haydu

Quantas vezes você já ouviu falar sobre o Autismo (Transtorno do Espectro Autista) esse ano? A popularização do termo, que vem acontecendo nos últimos anos, tem sido acompanhada pelo aumento de campanhas de conscientização e pelo número de diagnósticos realizados. A intervenção que tem demonstrado eficácia, a Análise do Comportamento Aplicada (ABA), deve ocorrer de forma intensiva, a partir de mudanças ambientais. Assim, incluir pais nas intervenções comportamentais de seus filhos com Autismo é muito importante para favorecer o desenvolvimento de repertórios comportamentais adaptativos das crianças.
            As intervenções comportamentais para crianças com diagnóstico de autismo, com base na ABA, devem ser individualizadas, intensivas, duradouras e de início precoce (Barboza, 2015). É necessário analisar funcionalmente os comportamentos da criança, elaborar objetivos terapêuticos, propor estratégias e avaliar mudanças comportamentais das crianças. Devido à complexidade e ao caráter intensivo da intervenção, é um serviço normalmente com alto custo financeiro ao qual poucas famílias conseguem ter acesso. Assim, o treinamento de pais para a aplicação de procedimentos de intervenção baseados na ABA possibilita que mais crianças com Autismo tenham acesso à intervenção continuada e intensiva recomendada (Ferreira, 2015; Oliveira, 2017).
            Os procedimentos de intervenção baseados na ABA dependem fundamentalmente de mudanças no ambiente no qual a criança se comporta, o que necessariamente implica na capacitação dos pais para aprenderem a manejar essas variáveis ambientais no dia a dia da criança com autismo. Eles são parte significativa do ambiente da criança, convivendo com ela a maior parte do tempo. Portanto, eles podem intervir de maneira eficaz no comportamento dos filhos, favorecendo a aprendizagem de novos comportamentos em contextos diversos.
            A ABA é uma forma eficaz de intervir no comportamento das crianças com autismo, desde que seja realizada de forma frequente e intensiva. Considerando o papel dos pais na modificação de variáveis ambientais e a dificuldade de acesso de muitas famílias às intervenções, o treino de pais parece ser uma alternativa viável e pertinente para o desenvolvimento de repertórios comportamentais importantes em crianças com Autismo. 


Referências

Barboza, A. A. (2015). Efeitos de videomodelação instrucional sobre o desempenho de cuidadores na aplicação de programas de ensino a crianças diagnosticadas com autismo (Dissertação de Mestrado). Universidade Federal do Pará, Belém, PA, Brasil. Recuperado de http://ppgtpc.propesp.ufpa.br/ARQUIVOS/dissertacoes/adriano%20alves%20barboza%202015.pdf.

Ferreira, L. A. (2015). Ensino conceitual em ABA e treino de ensino por tentativas discretas para cuidadores de crianças com autismo (Dissertação de Mestrado). Universidade Federal do Pará, Belém, PA, Brasil. Recuperado de http://ppgtpc.propesp.ufpa.br/ARQUIVOS/dissertacoes/Luciene%20Ferreira%202015.pdf.

Oliveira, J. S. C. de. (2017). Intervenção implementada por profissional e cuidador a crianças com TEA (Dissertação de Mestrado). Universidade Federal do Pará, Belém, PA, Brasil. Recuperado de http://ppgtpc.propesp.ufpa.br/ARQUIVOS/dissertacoes/Juliana%20Sequeira%20Cesar%20de%20Oliveira%202017.pdf.