Otávio Beltramello
Verônica Bender
Haydu
Nádia Kienen
Um dos fazeres responsável
pelo acompanhamento de pessoas com transtornos psiquiátricos, deficiência
física, dependentes químicos, crianças e adolescentes com dificuldades no
processo de escolarização e idosos no enfrentamento de situações decorrentes do
envelhecimento, é denominado Acompanhamento Terapêutico (AT). O AT é um serviço
que ocorre em variados locais, como em escolas e nas casas das pessoas
acompanhadas. Trata-se de um serviço em que o profissional auxilia seu cliente realizando
juntamente com ele atividades cotidianas, com o objetivo de maximizar suas condições
de autonomia em atividades diárias. E é por conta dessas características que esse
tipo de fazer apresenta algumas particularidades que exigem do profissional um
repertório clínico bastante sofisticado (Zamignani, Vermes, & Kovac, 2007).
Na Psicologia, apesar da
existência de diferentes contribuições científicas para a definição do AT,
ainda há a necessidade de mais investigação sobre os comportamentos do
psicólogo envolvidos com a prestação desse serviço. Como exemplo, a produção
científica sobre AT, embora variada e diversa, pouco tem contribuído para a
formulação de uma definição consensual do que caracteriza esse tipo de serviço.
Isso porque os pesquisadores, em geral, ao realizarem investigações sobre o AT,
têm utilizado metáforas para se referir aos comportamentos que o profissional
deve desempenhar neste tipo de acompanhamento. Como exemplo, há pesquisadores
que apontam que o acompanhante terapêutico é o profissional responsável por
articular uma “rede terapêutica” que propicia aos acompanhados a possibilidade
de desenvolvimento de “novas referências” (Nogueira, 2009). Aqui, “rede
terapêutica” é uma metáfora utilizada para fazer referência aos comportamentos do
profissional ao se relacionar com diferentes profissionais e instituições (por
exemplo, psiquiatras, psicólogos e instituições como a escola), enquanto “novas
referências” se refere ao desenvolvimento de comportamentos (do cliente) que lhe
propiciam uma maior autonomia.
O uso de metáforas para
se referir a comportamentos afasta a identificação dos reais componentes desses
comportamentos. Como exemplo, pense que você está buscando serviços em um
jornal, e que ao encontrar um anúncio de vaga para um serviço, a função está
descrita no anúncio como: “bater fio”. Imagino que isso tenha lhe produzido um
estranhamento inicial e/ou confusão. Pois bem, “bater fio” é uma metáfora para
se referir a comportamentos como os de atender ao telefone, conversar ao
telefone ou realizar uma ligação telefônica para alguém. E agora perguntamos,
qual é o serviço anunciado no jornal? Será que você deve atender ou realizar
ligações? Será um serviço de secretaria, de telemarketing, ou de atendente? Ou
será que estamos errados e na verdade se trata de um emprego que envolve a
costura de roupas?
Esse exemplo, embora
extremado, parece demonstrar a problemática existente ao utilizarmos metáforas
para fazer referência a comportamentos. É nesse sentido que a pesquisa que
originou este texto vem sendo desenvolvida: há a necessidade de investigação do
que o acompanhante terapêutico faz. Estamos, portanto, propondo investigar
quais são os comportamentos característicos da intervenção de um psicólogo que
atua como acompanhante terapêutico na sociedade. Isso significa,
primordialmente, superar o uso de metáforas e de construtos para se referir aos
comportamentos.
Em
nossa pesquisa realizaremos uma avaliação minuciosa de livros publicados sobre AT,
onde serão identificados quais são os comportamentos primordiais para que esse serviço
ocorra. Para isso, contamos com um procedimento que nos permite não só
identificar, mas também avaliar e corrigir a linguagem que tem sido utilizada
para se referir aos comportamentos. Buscamos assim, contribuir com a dissolução
de parte das problemáticas existentes em relação à atuação do psicólogo como
acompanhante terapêutico no Brasil. Por fim, esperamos que os dados produzidos
pela pesquisa possam atingir professores, pesquisadores, profissionais e,
principalmente, as pessoas que necessitam desse tipo de atendimento.
Caso queira saber mais sobre o
Acompanhamento Terapêutico:
Zamignani, D. R.; Kovac, R. e Vermes, J.
S. (2007). A clínica de portas abertas: Experiências e fundamentação do
acompanhante terapêutico e da prática clínica em ambiente extraconsultório.
ESETec, 412 p.
Londero, I. (2010). Acompanhamento
Terapêutico: Teoria e técnica na terapia comportamental e cognitivo-comportamental.
GEN & Santos, 166 p.
ótimo tema , parabéns..
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