terça-feira, 20 de junho de 2017

Entendendo o TOC por meio de modelos experimentais com animais







Thiago Soares Campoli
Verônica Bender Haydu
Célio Estanislau


Já deve ter acontecido algo parecido contigo: você sujou a mão com algo muito nojento e, mesmo depois de ter lavado as mãos uma ou duas vezes, continua ‘agoniado’ por lavá-las novamente. Ou, você ouviu falar sobre roubos na região e passar a checar repetidas vezes se a porta está fechada. Não há nada de errado em você ter passado por situações parecidas com essas. Mas, para algumas pessoas, isso chega ao nível de atrapalhar as atividades diárias. Por exemplo, elas lavam as mãos ou checam as portas várias dezenas de vezes ao longo do dia. Isso é o que ocorre no Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC). As pessoas com TOC podem apresentar pensamentos e impulsos repetitivos (obsessão), realizando atividades ou rituais como respostas (compulsão) que podem levar segundos, minutos ou até horas a fim de aliviar um desconforto. Pesquisas realizadas em laboratório com a utilização de metodologia experimental, instrumentos e ambientes adequados, podem nos ajudar a compreender melhor esses comportamentos não adaptativos e auxiliar no desenvolvimento de procedimentos de intervenção.
Como forma de tratamento, a psicoterapia e o uso de fármacos podem ajudar a reduzir comportamentos não adaptativos. A intervenção psicoterápica utiliza de análises e técnicas para que o cliente possa entender melhor sobre o transtorno, assim como controlar a ocorrência dos comportamentos que o caracterizam. Há muitas pesquisas com o propósito de entender o TOC e seus tratamentos em humanos. Contudo, a pesquisa com modelos experimentais com animais, em muitos casos, é um meio mais econômico, controlável, rápido e acessível para investigar alguns tipos de questões.
No contexto de laboratório, em algumas situações, os ratos emitem um comportamento que parece estar mais relacionado ao ambiente do que o estado da pele em si, o grooming. Este é um comportamento de limpeza apresentado pelos ratos e mais frequente em ambientes novos. O rato faz grooming quando esfrega ligeiramente seu nariz, passando pela cabeça e lambendo em direção a sua calda. Essa sequência é exacerbada e estereotipada, sendo análoga aos comportamentos repetitivos observados em pessoas com TOC.
Cientistas e profissionais da área estão estudando esse comportamento como modelo experimental para entender melhor sobre o que funcionaria mal no TOC. Com efeito, podemos encontrar diversas pesquisas com diferentes áreas de conhecimentos (Psicologia, Genética, Neurofisiologia, Neuropsicologia, Psicofarmacologia etc.) que estão contribuindo para a compreensão do TOC tanto em contexto aplicado quanto experimental. A colaboração entre essas diversas áreas é necessária para fazer frente e esse transtorno que, estima-se, acomete cerca de 2 % da população mundial. 

Sugestão de leitura complementar
Graybial, a M., & Rauch, S. L. (2000). Toword a neurobiology of obsessive-compulsive disorder. Neuron, 28(2), pp. 343-347. Recuperado de: http://ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/11144344