terça-feira, 20 de outubro de 2015

PEDOFILIA E ABUSO SEXUAL INFANTIL: LIMITES ENTRE O TRANSTORNO E O CRIME



Annie Wielewicki
Alex Eduardo Galo


    O abuso sexual infantil é um tema extremamente relevante e amplamente explorado na literatura científica, abarcando aspectos como sua prevenção, avaliação e tratamento. No entanto, frequentemente são abordados aspectos relacionados à vítima e sua família, ou ainda aos profissionais envolvidos no atendimento, pouco porém se encontra a respeito do agressor e há, portanto, muitas lacunas a serem preenchidas e distorções a serem esclarecidas.

    O primeiro esclarecimento que se faz necessário diz respeito a quem é o abusador e, nesse campo, cabe a diferenciação entre a pedofilia e o abuso sexual propriamente dito. Alguns estudos mostram que veículos de comunicação tendem a empregar os termos pedofilia e abuso sexual como sinônimos ao noticiar situações de abuso ou de exploração sexual de crianças. Porém, isto é uma impropriedade e pode obscurecer algumas das relações envolvidas no abuso.

    Um abusador sexual é aquele que utiliza da relação de poder sobre à vítima para obter vantagens sexuais. Qualquer pessoa pode ser um abusador, independente do sexo ou do tipo de relação com a vítima, podendo ser um desconhecido ou até mesmo um familiar e, em geral, tende a apresentar transtornos de personalidade antissocial. As vítimas, podem variar em características quanto ao sexo, idade, raça, classe social etc. Para os propósitos desse texto estamos circunscrevendo os abusadores de crianças e pré-púberes.

    A pedofilia trata-se de uma parafilia, transtorno psiquiátrico de preferência sexual descrito do DSM V (Manual Diagnóstico Estatístico dos Transtornos Psiquiátricos) e CID -10 (Catálogo Internacional de Doenças). Para ser caracterizado como tal, é necessário que a pessoa apresente fantasias sexuais recorrentes envolvendo crianças e pré-púberes, por um período mínimo de 6 meses, que tenha idade a partir de 16 anos e diferença de pelo menos 5 anos de idade com a criança com a qual fantasia e seus impulsos devem produzir sofrimento para si próprio. O transtorno pode ocorrer tanto em homens quanto em mulheres, porém é observado predominantemente no sexo masculino.

    Como transtorno, o tratamento psiquiátrico e psicológico seria o caminho desejável para esse público, atuando na prevenção de casos de violência sexual contra criança. Pois ainda que a fantasia seja recorrente, isso não é sinal, por si só, de que se tornará concreto e, nesse sentido, o tratamento poderia reduzir  as chances de ocorrência da violência.

    Há na internet grupos que se intitulam pedófilos virtuosos, que dizem respeito à pessoas que apresentam o transtorno, porém buscam auxílio para que o abuso não se torne concreto. Muitos pedófilos tem desejos frequentes e persistentes, porém nunca os converterá em violência sexual. Pois como já mencionado, nem todo pedófilo é um abusador, embora, em geral, a pedofilia venha à publico apenas quando o abuso já ocorreu e talvez, este seja um fator que contribua para permanecer no imaginário que os pedófilos são todos abusadores e vice versa.

    A pedofilia não é crime tipificado em lei, é, como citado anteriormente, termo que designa um trastorno psiquiátrico específico, porém quando o pedófilo atravessa o limite entre a fantasia e a realidade, concretizando seus desejos, só então ele terá se tornado um abusador e deverá responder criminalmente por seus atos.


    É justamente no limite entre a fantasia e a realidade, entre o transtorno e o crime que a intervenção psicoterápica e psiquiátrica tem uma de suas inúmeras possibilidades de atuação, auxiliando na prevenção de que crianças e pré-púberes se tornem vítimas de abuso sexual infantil e auxiliando no tratamento do indivíduo que apresenta quadro de pedofilia. 

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Gerenciando o tempo para melhorar a qualidade do estudo

Fernanda Torres Sahão
Natália Gomes Soares
Shimeny Michelato
Nádia Kienen

Estudar é uma atividade exigida desde a entrada no sistema formal de ensino e mantém-se como uma exigência mesmo depois que os profissionais já estão formados.   Além disso, estudar é uma atividade socialmente valorizada: os pais dizem aos filhos que é preciso estudar para ter uma profissão e uma vida melhor, os professores cobram de seus alunos que estudem. No entanto, raramente se ensina deliberadamente como estudar, como se essa fosse uma atividade simples ou que ocorresse naturalmente. Para a Análise do Comportamento, estudar é um processo comportamental complexo composto por diversos outros comportamentos (também chamados de pré-requisitos), de modo que é necessário desenvolver vários comportamentos a fim de que se possa estudar com eficácia. Além disso, esse comportamento é resultado de aprendizagem e pode ser ensinado e aprimorado.
Devido à complexidade envolvida no estudo, estratégias para facilitar esse processo podem ser utilizadas antes, durante e após o estudo. Dentre as estratégias de pré-estudo, daremos ênfase à avaliação e administração do tempo disponível para estudar, já que essas são estratégias fundamentais para quem precisa organizar seus estudos ao longo do tempo. Para melhor gerenciar o tempo existem alguns passos que podem ser seguidos: 1. Diagnosticar o uso do tempo 2. Estabelecer objetivos para a vida acadêmica, pessoal e profissional 3. Definir as atividades que precisam ser realizadas para alcançar os objetivos e 4. Organizar as atividades ao longo do tempo.
Muitas vezes afirmamos “não termos tempo” para fazer as atividades que a universidade exige, para ler livros e ver filmes, para sair com os amigos e para descansar. Um primeiro passo para “encontrarmos” tempo é analisar o tempo que temos utilizado com cada atividade. Para isso, uma boa estratégia é registrar as atividades realizadas ao longo do dia, bem como o horário e a duração delas (veja um modelo de tabela para efetuar esse registro clicando aqui). Deve-se anotar tudo: desde atividades de higiene pessoal (ex.: escovar os dentes, tomar banho) até atividades acadêmicas (ex.: estudar para uma prova considerada difícil). Feito esse registro, é possível começar a descobrir “o que se tem feito com o tempo” a fim de administrá-lo melhor.
Além de descobrir como tem gasto o tempo, é importante estabelecer objetivos para a vida acadêmica, pessoal e profissional, o que possibilitará definir limites e prioridades. Isso é importante para realizar, em sua rotina, aquilo que é coerente com o que quer fazer em longo prazo. Para estabelecer objetivos, podemos pensar em três âmbitos da nossa vida que devem ser considerados: (1) a vida acadêmica, (2) a vida pessoal e (3) a vida profissional.
Quanto à vida acadêmica, é necessário identificar o que priorizar dentre tantas possibilidades de aprendizado. “Será que é preciso tirar 10 em todas as disciplinas? Ou será que posso conciliar meu tempo de estudo com outras atividades que poderiam trazer benefícios à minha formação?”. Em relação à vida pessoal, é importante que haja tempo para relações sociais, atividades de descanso e de lazer, atividade física etc. e, para isso, também é necessário refletir sobre quais são as prioridades e reservar um tempo para elas. Por último, e talvez o mais difícil, diz respeito à vida profissional. Estando na universidade, com tantas coisas para aprender, os objetivos relacionados ao que fazer depois de formados podem acabar sendo esquecidos, resultando em sentimentos de ansiedade e despreparo. Ao parar para pensar nesses fatores, é possível direcionar melhor o que fazer, dando mais sentido às atividades que têm realizado, o que pode contribuir para uma vida pessoal, acadêmica e profissional mais efetiva e que produza maior satisfação.
Estabelecidos os objetivos, é hora de definir as atividades que precisam ser realizadas para alcançá-los. Suponha que para a vida acadêmica, você tenha estabelecido que quer fazer uma Iniciação Científica. Para isso, é preciso encontrar um professor que trabalhe com um assunto que seja de seu interesse e conversar com ele sobre essa possibilidade. Para a vida pessoal, você pode esperar sair mais com seus amigos, reservando um dia da semana para isso. Já no âmbito profissional, talvez você queira conhecer melhor quais áreas de atuação estão disponíveis, suas dificuldades e seus benefícios. Um modo para descobrir isso seria conversar com ex-alunos e até mesmo professores, assim como assistir a palestras etc.
            Depois de ter noção de como tem utilizado o tempo disponível, de estabelecer os objetivos e as atividades para alcançá-los, é preciso colocar tudo isso no “papel”. Um planejamento das atividades requer uma organização delas, de acordo com as urgências, prioridades e dificuldades. A utilização de algum instrumento para registro das atividades pode ser útil nesse momento, evitando o esquecimento e até mesmo a procrastinação. Há vários recursos disponíveis, desde agendas, bloco de notas, post-it, aplicativos no celular ou computador, lousa, calendários (...) as opções são infinitas!
Fazer uma lista de todas as atividades que tem para a semana é extremamente importante, pois possibilita uma visão mais geral do que deverá ser realizado. Posteriormente, é necessário determinar quanto tempo será requerido para realizá-las, bem como quando irá fazê-las. Levar em consideração o período do dia em que se sente mais disposto, separando esse momento para fazer atividades mais complexas ou que considera mais difíceis também pode ser útil. Lembre-se de reservar um tempo após a realização da atividade para fazer algo que considera prazeroso, como comer, passear com o cachorro, ver TV etc.. Além do planejamento em curto prazo (semanal), é importante ter um calendário visível, para o planejamento em longo prazo, no qual datas importantes como provas, trabalhos e seminários fiquem destacados, permitindo assim planejar tudo com antecedência evitando o acúmulo de atividades.
            Vale destacar que as informações aqui apresentadas não devem ser seguidas como regras fixas, ou “receitas” prontas para uma gestão perfeita do tempo, mas sim como algumas dicas para auxiliar na identificação de fatores que podem estar relacionados ao seu desempenho acadêmico. Aprender a gerir o tempo é também importante para a vida profissional, permitindo articular metas a serem atingidas com uma manutenção da vida pessoal, aumentando consequentemente a motivação para o trabalho e produzindo mais qualidade de vida.