domingo, 17 de setembro de 2023

A extinção de respostas ansiogênicas como consequência da prática de mindfulness


Um homem meditando. A posição das mãos visa mais conforto do que uma representação religiosa. Essa imagem foi gerada com a Inteligência Artificial “DALL·E 2” em 05/09/2023.

Wildson Cardoso Assunção
Camilla Sant’Anna da Silva
Verônica Bender Haydu


Podemos considerar o treinamento em mindfulness como um meio viável no tratamento de distúrbios envolvendo medo e ansiedade? Como uma análise funcional do comportamento nos permite fazer essa descrição? Quais princípios podem ser considerados?

Vamos considerar alguns dos princípios da Análise do Comportamento.

A extinção respondente consiste no enfraquecimento de uma resposta reflexa devido à apresentação repetida do estímulo eliciador condicional sem emparelhá-lo com o estímulo eliciador incondicional. A extinção operante consiste na redução da frequência ou cessação de uma resposta operante devido à suspensão do reforço que anteriormente mantinha essa resposta (Sturmey et al., 2020). Resistência à extinção, por sua vez, ocorre quando a emissão da resposta previamente condicionada persiste, mesmo quando ela não é mais reforçada.

Conforme enfatizado por Petscher et al. (2008), a extinção pode produzir efeitos indesejáveis quando utilizada isoladamente em contextos clínicos e educacionais. Devido a esse aspecto, além do uso de programas de reforço, alguns analistas do comportamento (e.g., Fuller & Fitter 2020; Kasson & Wilson, 2017) propuseram uma alternativa para diversos contextos que consiste na prática de mindfulness (meditação guiada).

Em um estudo desenvolvido por Björkstrand et al. (2019), tomado como exemplo, foi demonstrado que a mindfulness não só facilitou a extinção de comportamentos ansiosos, mas também diminuiu a taxa de recuperação espontânea de tais respostas. Os participantes foram distribuídos em dois grupos e um praticou meditação guiada diariamente por um período de 10 a 20 minutos durante quatro semanas. Ambos os grupos passaram por um procedimento de condicionamento pavloviano aversivo, seguido de um procedimento de extinção e o grupo experimental apresentou uma retenção significativamente melhor da aprendizagem de extinção do que o grupo controle.

Além desses achados, a influência da mindfulness na sensibilidade à mudança de contingências e na redução da ressurgência comportamental (comportamento que volta a ocorrer em condições similares à aprendizagem inicial) foi investigada por McHugh et al. (2012). Nesse estudo, participantes foram treinados sob diferentes esquemas de reforço e depois expostos a tarefas de atenção focada (mindfulness) ou desfocada. No esquema de extinção, o grupo com atenção focada mostrou extinção rápida e menor ressurgência comportamental que o grupo controle.

Ambos os estudos, de Björkstrand et al. (2019) e o de McHugh (2012) são relevantes porque enfatizam princípios fundamentais da Análise do Comportamento aplicados a uma intervenção clínica, ilustrando como a mindfulness pode ter um potencial significativo para analistas do comportamento.

Referências

Björkstrand, J., Schiller, D., Li, J. et al. (2019). The effect of mindfulness training on extinction retention. Scientific Reports 9, 19896 . https://doi.org/10.1038/s41598-019-56167-7.

Fuller, J. L., & Fitter, E. A. (2020). Mindful Parenting: A Behavioral Tool for Parent Well-Being. Behavior Analysis in Practice, 13, 767-771. https://doi.org/10.1007/s40617-020-00447-6.

 Kasson, E. M., & Wilson, A. N. (2016). Preliminary Evidence on the Efficacy of Mindfulness Combined with Traditional Classroom Management Strategies. Behavior Analysis in Practice, 10(3), 242-251. https://doi.org/10.1007/s40617-016-0160-x.

McHugh, L. et al. (2012). The effect of mindfulness on extinction and behavioral resurgence. Learning & Behavior, v. 40, n. 4, p. 405-415. https://doi.org/10.3758/s13420-011-0062-2.

 Petscher, E. S., Rey, C., & Bailey, J. S. (2009). A review of empirical support for differential reinforcement of alternative behavior. Research in Developmental Disabilities, 30(3), 409–425. https://doi.org/10.1016/j.ridd.2008.08.008

 Sturmey, P., Ward-Horner, J., & Doran, E. (2020). Respondent and operant behavior. In P. Sturmey (Ed.), Functional Analysis in Clinical Treatment (Second Edition) (pp. 25-56). Academic Press. https://doi.org/10.1016/B978-0-12-805469-7.00002-4