domingo, 28 de maio de 2023

A Análise do Comportamento e os efeitos da música sobre o comportamento

  

Burrhus Frederic Skinner tocando uma música do Peter Bjorn and John em seu violino (risos). 

Essa imagem foi gerada com a Inteligência Artificial “DALL·E 2” em 22/05/2023, às 22:05:23.


Wildson Cardoso Assunção

Universidade Estadual de Londrina

Lidiane Diniz de Andrade

Universidade de Brasília

Verônica Bender Haydu

Universidade Estadual de Londrina


A música é maravilhosa! Quase todas as pessoas concordam com essa afirmação, não é mesmo? E não é à toa que a música desperta interesse em diversas áreas científicas. Física, matemática, sociologia, antropologia e até a Análise do Comportamento estão entre as ciências que se dedicam a explorar a música, cada uma com suas próprias perspectivas e métodos. Um interesse em comum é referente a quais efeitos a música causa nas pessoas e porque ela causa esses efeitos.

Se você fosse realizar um estudo sobre esse tema, quais perguntas de pesquisa você gostaria de responder?

Analistas do comportamento têm feito perguntas de pesquisa sobre os efeitos da música no comportamento tanto de humanos quanto de animais não humanos. Podem ser encontradas na literatura pesquisas experimentais e aplicadas relacionadas com a avaliação dos  efeitos da música no alívio do estresse, na produtividade, motivação, aprendizagem, atividade física e desempenho atlético, bem como mo comportamento de pessoas com o Transtorno do Espectro Autista (TEA).

O Journal of Applied Behavior Analysis e o Journal of the Experimental Analysis of Behaviors publicaram diversos estudos sobre o tema. Por exemplo, Gibbs et al. (2018) conduziram um estudo que focou em vocalização estereotipada (comportamento vocal repetitivo, sem função comunicativa e que geralmente é mantido por reforço automático). Os autores avalairam se a combinação de duas intervenções, Estimulação Combinada (intervenção que fornece acesso não contingente a estímulos que correspondem às consequências do comportamento-alvo e a Interrupção) e o Redirecionamento da Resposta (intervenção que interrompe comportamentos inadequados e redireciona o indivíduo para um comportamento mais apropriado) seriam mais eficaz do que o uso de apenas uma isoladamente. Os resultados indicaram que a combinação das duas intervenções foi mais eficaz na redução da vocalização estereotipada, resultando em maior foco dos participantes nas tarefas e requerendo menos intervenções.

Outros estudos exploraram o uso da música como reforço em diferentes contextos, como no tratamento de comportamentos problemáticos em crianças com desenvolvimento atípico  (Barmann et al., 1980), no treino de nadadores competitivos (Hume & Grossman, 1992), e por meio de um programa de enriquecimento musical no reforço alimentar (motivação para comer) (Kong et al., 2022). Essas pesquisas ampliam muito o que sabemos sobre como a música afera o comportamento dos organismos. Contudo, ainda há muito o que investigar: gênero musical, duração, velocidade, fatores relacionados à preferência individual, fatores relacionados à idade, efeitos de diferentes intervenções musicais sobre os diferentes tipos de transtornos, enfim... muita coisa. Agora que você conhece essas evidências, quais perguntas de pesquisa você faria, se fosse realizar um estudo sobre música e Análise do Comportamento?

 Referências

Barmann, B. C., Croyle-Barmann, C., & McLain, B. (1980). The use of contingent-interrupted music in the treatment of disruptive bus-riding behavior. Journal of Applied Behavior Analysis, 13(4), 693-698. https://doi.org/10.1901/jaba.1980.13-693.

Gibbs, A. R., Tullis, C. A., Thomas, R., & Elkins, B. (2018). The effects of noncontingent music and response interruption and redirection on vocal stereotypy. Journal of Applied Behavior Analysis, 51, 899-914. https://doi.org/10.1002/jaba.485

Hume, K. M., & Grossman, J. (1992). Musical reinforcement of practice behaviors among competitive swimmers. Journal of Applied Behavior Analysis, 25, 665-670. https://doi.org/10.1901/jaba.1992.25-665.

Kong, K. L., Eiden, R. D., Morris, K. S., Paluch, R. A., Carr, K. A., Epstein, L. H. (2022). Reducing relative food reinforcement of infants using a music enrichment program: a randomized, controlled trial. American Journal of Clinical Nutrition, 116(6), 1642-1653. https://doi.org/10.1093/ajcn/nqac209.