quinta-feira, 7 de dezembro de 2023

Os operantes de pequena escala


 Ilustração hipotética de um experimento com eletrodos na mão, gerada pela Inteligência Artificial “DALL·E”, modificada em 29/11/2023.

Wildson Cardoso Assunção
Carlos Eduardo Costa
Verônica Bender Haydu
 

Para os analistas do comportamento, o termo "comportamento operante" é definido como o comportamento que envolve a interação entre uma resposta do organismo e o ambiente, produzindo consequências, as quais afetam a probabilidade de emissão de novas respostas da mesma classe operante (Cooper et al. 2020; Skinner, 1957). Um campo de estudo interessante no domínio do comportamento são os operantes de pequena escala, também chamados de “operantes encobertos" (cf. Hefferline & Keenan, 1963), que envolvem respostas muito sutis e muitas vezes não observáveis diretamente, mas que podem ser detectados e analisados por meio de aparelhos específicos.

No experimento conduzido por Hefferline e Keenan (1963), foi avaliado o condicionamento de minúsculas contrações no polegar dos participantes utilizando um reforçador secundário (i.e., pontos trocados por dinheiro). Os participantes foram informados que o objetivo era medir sua habilidade para relaxar e que pontos seriam exibidos em um monitor à sua frente, quanto mais estivessem relaxados. Três eletrodos foram conectados na base palmar do polegar esquerdo, na borda medial da esquerda da mão e no lóbulo da orelha esquerda do participante, mas somente um deles estava ativo (o eletrodo colocado no polegar esquerdo).

O procedimento teve três fases: (a) nível operante (NO) - consistia em medir, por meio da detecção eletromiográfica, a frequência de microcontrações do polegar esquerdo sem a liberação de pontos no monitor; (b) condicionamento - pontos eram liberados no monitor para as microcontrações do polegar esquerdo; (c) extinção - a liberação dos pontos era suspensa. Os resultados indicaram que durante o NO, as microcontrações do polegar eram pouco frequentes, mas aumentaram quando os pontos começaram a ser liberados para as ocorrências das microcontrações e diminuíram quando os pontos deixaram de ser liberados. Ao final do experimento, os participantes foram questionados sobre qual era a condição em que eles haviam notado ter acesso aos pontos no monitor; nenhum deles soube responder corretamente. Esse dado indica que tanto o condicionamento da microcontração quanto sua extinção não ocorrem de maneira “consciente”, isto é, de forma que o indivíduo pudesse ser capaz de relatar o que ocorreu.

O aspecto importante desse experimento é o fato de que os organismos, como um todo, são sensíveis às consequências de seus comportamentos. Em uma perspectiva analítico-comportamental, um comportamento pode ser descrito como “inconsciente” no sentido de que aquele que se comporta não é capaz de descrever as variáveis da qual seu comportamento é função - às vezes não é capaz de descrever nem o que fez em certo contexto. O experimento de Hefferline e Keenan (1963) demonstra isso elegantemente.

 

Referências

Cooper, J. O., Heron, T. E., & Heward (2020). Applied Behavior Analysis (3rd ed.). Pearson.

Hefferline, R. F., & Keenan, B. (1963). Amplitude-induction gradient of a small-scale (covert) operant. Journal of the Experimental Analysis of Behavior, 6(3), 307–315. https://doi.org/10.1901/jeab.1963.6-307

Skinner, B. F. (1957). Verbal Behavior. Copley Publishing Group.