“Liderança
organizacional” ou “liderar pessoas”... Qual a diferença?
Nayara Janaína Machado Neri
Nádia Kienen
Qual a importância de um líder dentro de uma
organização? Quais características estão relacionadas com uma “boa liderança”?
Como “desenvolver habilidades de liderança”? Qual o melhor “estilo de
liderança” a ser utilizado em cada contexto? Essas e tantas outras perguntas
são recorrentes quando o tema é liderança organizacional. No entanto, apesar de
todos os questionamentos, parece haver um consenso entre pessoas que estudam
e/ou atuam na área organizacional de que este é um fenômeno que impacta
diretamente no comportamento das pessoas que participam da organização, e
consequentemente, nos resultados produzidos por ela.
Apesar da relevância desse tema, que se evidencia,
por exemplo, no amplo número de treinamentos, cursos, livros e material de
apoio disponível, parece não haver uma clareza de como os aspectos relacionados
a uma liderança eficiente (que variam muito de autor para autor) são colocados
em prática. Ademais, percebe-se que ainda há muita subjetividade envolvida na
descrição dos comportamentos de liderança. “Desafiar o estabelecido”, “inspirar
uma visão compartilhada”, “permitir que os outros ajam”, “apontar o caminho” e
“encorajar o coração” são algumas expressões comumente utilizadas para descrever
comportamentos que o líder deve apresentar (Benedetti, Hanashiro, &
Popadiuk, 2004, p.62). Esses são exemplos de nomeações que pouco explicam sobre
o comportamento do líder e tampouco sobre as consequências produzidas por estes
no ambiente organizacional e nos liderados. Uma das implicações da utilização
desses termos é a dificuldade de caracterização do fenômeno, e
consequentemente, de identificar e ensinar alguns comportamentos básicos que o
líder necessita aprender para estabelecer uma liderança efetiva no ambiente
organizacional.
Uma forma de avaliar esse fenômeno de maneira mais
direta é pensar sobre ele não mais na forma de um estado substantivado (a
“liderança”), mas sim como comportamentos que são apresentados pelo líder em
sua interação com o meio. Nesse caso,
elimina-se a menção a uma “liderança organizacional”, e no lugar disso,
menciona-se o comportamento de “liderar pessoas”. Sendo o
comportamento constituído sempre a partir da relação entre estímulos
antecedentes, respostas e estímulos consequentes, ou seja, o líder se comporta
em uma organização dentro de um determinado contexto (situação), apresentando
respostas (ação) que alteram esse ambiente, da mesma forma que o ambiente
altera as respostas por ele apresentadas (consequência) (Skinner, 1953/2003).
A partir disso, perguntas como: “Quais
comportamentos um líder necessita apresentar para liderar de maneira efetiva as
pessoas de sua equipe?”, ou “Quais variáveis estão relacionadas com o
comportamento de liderar pessoas em um contexto organizacional?”, poderiam
contribuir para respostas mais concretas, uma vez que se passaria a olhar para as
variáveis que podem estar controlando o comportamento de “liderar pessoas”. É a
partir da identificação das variáveis que controlam um comportamento que é
possível avaliar quais delas devem ser rearranjadas para que seja possível
aumentar a probabilidade de um comportamento ser aprendido e apresentado de uma
determinada maneira. Kienen, Kubo e Botomé (2013) discutem a importância de
rearranjar as contingências nas quais um aprendiz está inserido (neste caso, o
líder) a fim de que se aumente a probabilidade de que, ao término do processo
de ensino, ele esteja apto para emitir os comportamentos definidos como
comportamentos a serem ensinados (comportamentos-objetivo).
Mas antes
mesmo de pensar em quais as condições serão criadas para que um novo
comportamento seja ensinado, é preciso descobrir e caracterizar os
comportamentos menos complexos que o constituem. Por isso, caracterizar quais
são os comportamentos que o líder deve apresentar é condição essencial para
pensar no planejamento das condições de ensino.
Portanto,
identificar por meio de estudo científico quais comportamentos caracterizam o
comportamento de “liderar pessoas”, pode ser um começo para entender melhor
esse fenômeno e seus impactos nas organizações. Após essa caracterização,
outras decorrências poderão surgir, como a aplicação desse conhecimento
científico no contexto organizacional, por meio de estratégias e práticas como:
a descrição precisa da função do líder a partir das descobertas dos
comportamentos que deve apresentar (descrição do cargo) e maior clareza sobre os
comportamentos que devem ser ensinados em treinamentos de liderança para o
desenvolvimento de um repertório efetivo. Essas práticas podem resultar em
líderes mais bem preparados e consequentemente, em melhorias efetivas nos
ambientes organizacionais, na realização das tarefas e principalmente, na
relação entre as pessoas.
Referências
Benedetti, M. H.,
Hanashiro, D. M. M., & Popadiuk, S. (2004). Liderança: uma relação com base
no gerenciamento de Stakeholders, a partir da ótica dos liderados. Organizações & Sociedade. 11 (31).
59-76.
Krapfl, J. E. & Kruja,
B. (2015). Leadership and Culture. Journal
of Organization Behavior Management. 35 (1-2). 28-43.
Kienen, N., Kubo, O. M.
& Botomé, S. P. (2013). Ensino Programado e programação de condições para o
desenvolvimento de comportamentos: alguns aspectos no desenvolvimento de um
campo de atuação do psicólogo. Acta
Comportamentalia. (21), 4. 481-494.
Skinner, B. F. (2003). Ciência e comportamento
humano.
São Paulo: Martins Fontes.