segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

Ano novo, hábitos velhos: como definir objetivos e conseguir alcançá-los?



Fernanda Torres Sahão

         Ah, o final do ano chegou! Férias, confraternizações, descanso e... frustração? Muitas pessoas acabam se sentindo decepcionadas com elas mesmas por não conseguirem cumprir os objetivos que definiram para o ano que se passou, e se esquecem de olhar para tudo que conseguiram realizar. Por que isso acontece? Por que é tão difícil alcançar nossos objetivos? Muitas vezes o problema está na definição desses objetivos: inicialmente, pensamos muito em como cumpri-los, mas não temos esse cuidado na hora de defini-los. Será que é possível definir objetivos passíveis de serem alcançados? Já adianto que sim!

quarta-feira, 20 de novembro de 2019

Dia da Consciência Negra em um país desigual




Thainã Eloá

O dia 20 de Novembro é celebrado como Dia da Consciência Negra, por ser a data de falecimento de Zumbi dos Palmares, no ano de 1695. E no dia 13 de Novembro de 2019, uma notícia tomou proporções virais em muitas das principais redes sociais atualmente utilizadas: a maioria dos estudantes das universidades públicas, pela primeira vez no Brasil, é de negros, totalizando 50,3% das vagas atualmente. Ainda dentro de dados estatísticos, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 63,5% das crianças vítimas de trabalho infantil são negras, e a população negra recebe, em média, metade do salário de pessoas brancas. Isto, é claro, levando-se em conta os que estão vivos: o número de assassinatos de pessoas negras, a cada 100 mil habitantes, subiu de aproximadamente 37 para 43 indivíduos no período de 2012 a 2017, enquanto o número de vítimas da cor branca se manteve em aproximadamente 16. Estes números representam uma coisa bem clara: ainda vivemos em um país extremamente desigual quando falamos de raça, mesmo que agora tenhamos mais negros nas universidades, segundo os dados citados. Mas o que exatamente a Psicologia tem a ver com isso?

segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Mulheres e sociedade: o problema da saúde mental


             

Jordana Fontana

        Muito já se ouviu falar sobre a mulher ser o sexo frágil, inclusive no que se refere a doenças psicológicas. Dados da Organização Mundial de Saúde (em inglês, WHO, 2001) demonstram que mulheres têm mais chance de desenvolver transtornos psicológicos, principalmente depressão e ansiedade. Qual o motivo dessa diferença? Seria a mulher biologicamente ou essencialmente mais propensa a ter mais problemas de saúde mental? Alguns estudos da psicologia, em especial da análise do comportamento, têm demonstrado que os problemas de saúde da mulher são uma consequência da nossa sociedade, constituída por práticas que oprimem as mulheres.
        A cultura em que vivemos é caracterizada pela desigualdade entre gêneros – isso não significa uma simples diferença, mas sim que um gênero se beneficia em detrimento do outro: homens são maioria em posições de poder e têm mais acesso a benefícios, ficando as mulheres com menos oportunidades de emprego, salários mais baixos, trabalhos de menor prestígio e condições financeiras mais precárias. Mulheres aprendem que certas coisas são tarefas “de homem”, e que elas não têm capacidade para fazer tais coisas. Falar que algo é “de mulher” é uma expressão comumente utilizada em tom pejorativo, e, portanto, o feminino é visto como inferior. Mulheres são menos respeitadas e sua capacidade intelectual é comumente colocada em cheque. Além disso, sofrem diariamente diversas formas de assédio e violência, que muitas vezes chegam ao extremo, no caso do feminicídio (Fontana, 2019). 

terça-feira, 10 de setembro de 2019

Onde está a ciência no dia a dia?


Laira Cristine Estabile
Carlos Eduardo Costa
Verônica Bender Haydu

Você provavelmente já procurou um médico quando esteve com dor ou consultou a previsão do tempo do lugar onde passou as férias. Você também pode ter usado a matemática para avaliar seu orçamento e decidir comprar ou não algo interessante. Esses são exemplos de como as pessoas usam e recorrem ao conhecimento científico no cotidiano. No entanto, é muito comum a falta de conhecimento da função do cientista. Muitos concordam com a afirmativa de que “o papel do cientista é fazer ciência”, mas desconhecem como e porque a ciência é produzida da forma que é. Além disso, podem pensar que fazer pesquisa é trabalhar de jaleco branco em um laboratório (em especial a pesquisa experimental básica), isolado do mundo, como um cientista excêntrico retratado em alguns filmes. Há quem pense que a profissão investiga fatos distantes do mundo em que vivemos, ao mesmo tempo, alguns cientistas podem passar dias em laboratórios esterilizados com potes com culturas de células para testar se um novo composto pode ajudar a salvar vidas. Mas, será que teríamos chegado onde estamos sem os cientistas produzindo conhecimento para mudar o mundo para melhor?

A pesquisa científica é fundamental porque produz conhecimento e inovação dentro e fora do contexto em que a pesquisa inicial foi feita. Por exemplo, a penicilina foi descoberta ao “acaso” em uma cultura de laboratório e foi uma descoberta incrível para a manutenção da saúde das pessoas. Medidas usadas para avaliar o quanto determinados materiais dilatam são fundamentais para conseguirmos construir carros, aviões e foguetes que não deixem o combustível vazar e não explodam depois. A pesquisa básica também busca entender como pequenas situações podem afetar o comportamento dos organismos. Um animal em laboratório pode ajudar a entender como podemos melhorar nossa maneira de educar. Grande parte da produção de inovação, desenvolvimento científico e tecnologia resultam de métodos científicos.

A forma de construir o conhecimento a partir da pesquisa experimental básica pode aparentar não ter aplicação imediata na resolução de problemas que fazem parte do cotidiano da maioria das pessoas, mas é fundamental para a construção do conhecimento e para a resolução de problemas futuros. Apesar de levar tempo para ser utilizada em soluções práticas extralaboratório, a pesquisa experimental básica possui grande importância para a sociedade. Essa importância é obtida por meio da produção de conhecimento sobre o que afeta o comportamento e a partir da utilização de métodos científicos para o tratamento de doenças.

Para finalizar, o que permitiu aos seres humanos chegar até a contemporaneidade foi a construção de métodos usados na pesquisa básica. Às vezes esses métodos parecem não estar relacionados diretamente com mudanças e necessidades sociais. Mesmo assim, os cientistas buscam compreender relações detalhadas, posteriormente importantes para outras descobertas. Um exemplo disso é o marca passo, mundialmente conhecido: um aparelho que foi usado pela primeira vez na década de 1950 e emite pulsos elétricos estimulando a atividade do coração. Ainda sobre sua função, o cientista visa garantir desenvolvimento científico, inovação tecnológica e intervenções em diversas áreas. Muitos modelos de estudos desenvolvidos por cientistas “presos em seus laboratórios” possuem grande importância para a sociedade e não poderia ser diferente com a pesquisa básica!

terça-feira, 27 de agosto de 2019

Não se nasce pesquisador, torna-se!



Natalia Ramos Bim
Verônica Bender Haydu

Desde a infância muitas pessoas sonham o que querem ser quando crescer. Muitos querem ser médicos, engenheiros, psicólogos etc. Esse desejo por uma profissão, em geral, conduz o processo de decisão do que cursar no Ensino Superior. O que poucas pessoas sabem, no entanto, é que os conhecimentos aplicados na prestação de serviço são resultados de pesquisas, testes e experimentos. É por meio de estudos desse tipo que a eficácia e eficiência das práticas e procedimentos é comprovada. Um medicamento para dor de cabeça, por exemplo, só chegou ao consumidor depois que equipes de pesquisadores trabalharam arduamente para comprovar resultados favoráveis, reduzindo a dor das pessoas. Fazer pesquisa científica assume um lugar de importância e de prioridade em todos as áreas de atuação. Formar profissionais pesquisadores é tão importante quanto formar profissionais prestadores de serviços. Entretanto, esse é um campo de atuação pouco conhecido dos jovens interessados no Ensino Superior e leva à seguinte questão: como fazer a iniciação científica de alunos dos mais diversos níveis de ensino?
O trabalho científico envolve a formulação de um problema de pesquisa (uma pergunta), a realização do estudo e a apresentação dos resultados do estudo em meios de comunicação científicos. A partir de perspectivas teóricas específicas, o objetivo é avançar em um determinado campo do conhecimento. O comportamento do cientista está sob controle do seu objeto de estudo e é sensível às alterações decorrentes de seus estudos. Sabendo disso, o processo de formação de pesquisadores passa pela modelagem de habilidades básicas específicas, que deve ser iniciada nos primeiros anos do Ensino Fundamental e acompanhado até o Ensino Superior.
Nas escolas – no Ensino Fundamental e Ensino Médio –, os alunos devem ser expostos a conteúdos científicos, com visitas a universidades, centros de pesquisas e laboratórios, e conversas e entrevistas com pesquisadores. É importante que os educadores direcionem interesses dos alunos e os ensine a pensar criticamente sobre os fenômenos naturais. Além disso, que os ensinem a identificar problemas para serem solucionados, a identificar lacunas nas áreas de conhecimento, a formular objetivos de pesquisa, a delinear procedimentos, a coletar dados e a analisá-los cuidadosamente.
No Ensino Superior, especialmente, professores podem desde o primeiro ano da graduação divulgar entre os alunos as pesquisas que eles/elas desenvolvem, a incentivar a participação ativa em grupos de estudos e projetos de pesquisa, bem como a participação em eventos científicos. Nas disciplinas incentivá-los a lerem conteúdos de revistas e periódicos científicos, a realizar pesquisas e incentivar a redação de relatos de pesquisa.
A exposição a essas e outras experiências proporcionará contexto para que os estudantes desenvolvam repertório de pesquisa. São habilidades que pouco a pouco vão sendo aprimoradas, por isso todo o processo de iniciação científica deve ser acompanhado e supervisionado. É preciso haver modelo e também diálogo, feedback e reconhecimento. É isso que manterá o estudante engajado, comprometido e seguro. Assim, pode-se concluir que ser pesquisador não é algo natural, que se nasce sabendo, é preciso arranjo de contingencias para proporcionar essa formação.

Leitura adicional
Fava-de-Moraes, Flavio, & Fava, Marcelo (2000). A iniciação científica: muitas vantagens e poucos riscos. São Paulo em Perspectiva, 14(1), 73-77. https://dx.doi.org/10.1590/S0102-88392000000100008

quinta-feira, 8 de agosto de 2019

Ser criativo: um comportamento que pode ser aprendido




Thaís Sousa Silva
Verônica Bender Haydu

É bastante comum, em diversos momentos da vida, ouvir a sugestão de que se deve fazer determinada atividade de um jeito criativo. Será que apenas saber que se deve ser criativo é suficiente para ser? Ser capaz de identificar uma resposta criativa ou, ainda, identificar as consequências advindas dela não torna o sujeito que se comporta imediatamente apto a agir assim. Para analistas do comportamento, saber e fazer são dois comportamentos distintos e estão sob controle de diferentes variáveis. Assim, saber o que é ser criativo pode ser importante, mas não necessariamente para se comportar criativamente. Ser criativo é possível quando as consequências produzidas por ações (respostas) criativas mudam o ambiente e essas mudanças (reforçadores ou punidores) aumentam ou diminuem a probabilidade de ocorrência dessas ações.
O ambiente que nos cerca mais do que apenas influenciar nossos comportamentos, é responsável por selecioná-los. Isso significa que o comportamento criativo antes de adquirir valor para o indivíduo deve ser importante para a comunidade que o cerca. Afinal, essa comunidade é responsável por liberar consequências reforçadoras para o sujeito que se comporta criativamente e, com isso, garantir que esse comportamento volte a ocorrer. Diversas respostas inusitadas que, por ventura, tenham sido emitidas, ao não serem reforçadas pela comunidade verbal podem não ser selecionadas e, por conseguinte, entram em extinção. Isso nos leva a refletir: quantos comportamentos originais podem ter ocorrido e não terem sido estabelecidos porque não foram reforçados pela comunidade verbal?
É por conta dessa validação feita pela comunidade como um efeito selecionador que é importante que, além de sugerirmos uns aos outros que sejamos criativos, estejamos também atentos para reforçar respostas diferentes e originais. Skinner (1968) em seu livro Tecnologia do Ensino afirmou que valorizar o que foge à regra colide com a proposta tradicional de perfeição à qual somos submetidos desde cedo na escola e em casa, durante o processo de aprendizagem. Todavia, é exatamente isso que ele encoraja ao propor uma educação para a criatividade.
Uma das formas de se educar para promover comportamentos criativos é incentivar variações nos comportamentos já estabelecidos. A variabilidade é um componente intrínseco ao comportamento e vai acontecer invariavelmente. Estudos oriundos da pesquisa básica (Neuringer, 2002; Hunziker, 2006) mostraram que ela – a variabilidade – também está sob controle operante, logo, é selecionada pelas consequências que produz. Assim, é fundamental, se desejamos promover a criatividade, prestar atenção às variações do comportamento e oferecer consequências para isso.
Assim, para agir criativamente não basta saber que é importante agir dessa forma, é preciso também que isso tenha se tornado relevante ao longo de uma história de validação de respostas originais, por meio de uma comunidade verbal. Sabendo disso, a responsabilidade de agir com criatividade deixa de ser apenas individual e passa a ser coletiva. Então, cabe a cada sujeito, enquanto parte de uma comunidade, a tarefa de prestar atenção na variação e torná-la valiosa e não apenas sugerir que os indivíduos variem e torcer para que isso aconteça. 

Referências

Hunziker, M. H. L. (2006). Comportamento criativo e análise do comportamento I: Variabilidade comportamental. In H. J. Guilhardi, & N. C. Aguirre (Orgs.), Sobre comportamento e cognição: Expondo a variabilidade (vol. 18, pp. 156-165). Santo André: Esetec.
Neuringer, A. (2002). Operant variability: Evidence, functions, and theory. Psychonomic Bulletin & Review9(4), 672-705. doi: 10.3758/BF03196324.
Skinner, B. F. (1968). The Technology of teaching. New York: Appleton-Century-Crofts




sexta-feira, 26 de julho de 2019

Jogos educativos e o descarte de resíduos sólidos da construção civil



Raquel Neves Balan

Verônica Bender Haydu


O descarte incorreto de resíduos comuns (e.g., plásticos, vidros, papéis e metais) pode gerar diversos prejuízos ao meio ambiente, como contaminação de solo, lençóis freáticos, poluição do ar e a proliferação de animais que são vetores e transmissores de doenças. Devido a isso, constata-se a existência de diversas formas de intervenção direcionadas para a educação ambiental da população em relação ao descarte desse tipo de material. Por exemplo, campanhas na televisão e outros tipos de mídia, aulas educativas nos diversos tipos de instituições, dentre outras. Essas campanhas e aulas, contudo, enfatizam pouco o deve ser feito com outros tipos de materiais, como os resíduos sólidos da construção civil (RSCC).
Alguns dos RSCC, como tijolos, madeiras, areia, cimento e telhas, devem ser descartados em caçambas para posteriormente serem direcionados a empresas especializadas em separar e reciclar esses resíduos. No entanto, também são descartados em caçambas outros materiais que inviabilizam o processo de reciclagem, como tintas, orgânicos, isopor e eletrônicos. Considerando que não existem intervenções que ensina a população quanto ao descarte de RSCC (Pozzobon, 2013), e que o descarte correto desses resíduos pode favorecer o processo de reciclagem e diminuir o consumo de produtos naturais para realização de novas obras, a educação ambiental da população sobre o descarte de RSCC é necessária.
A educação, de maneira geral, pode ser definida como planejamento de contingências que aceleram o processo de aprendizagem e proporcionam situações para que comportamentos específicos sejam emitidos (Skinner, 1968/1972). Uma das maneiras de ensino especificadas na literatura para a educação ambiental são jogos eletrônicos ou de tabuleiro que ensinam crianças e adultos sobre sustentabilidade. O ensino por meio de jogos deve possuir algumas características em conformidade com os princípios de aprendizagem da Análise do Comportamento. Algumas dessas características, de acordo com Perkoski e de Souza (2017), são: a definição clara dos comportamentos a serem ensinados (operacionalização), o uso de estímulos que representem a situação natural (programação da generalização), fornecimento de feedbacks imediatos para maior efetividade na seleção dos comportamentos e a evolução no ritmo do aprendiz.
Os jogos citados na literatura referentes à comportamentos sustentáveis (e.g., Branco et al., 2015; Patriarcha, Zanon, & Souza, 2005; Rosa & de Oliveira, 2009) visam ensinar aos jogadores conhecimentos sobre fauna e flora, conservação de áreas verdes, poluição de ambientes, equilíbrio entre ecossistemas, entre outros. Os resultados dessas pesquisas científicas demonstraram que os jogos desenvolvidos foram eficazes para ensinar aos jogadores os comportamentos pretendidos. diante dos efeitos promissores desses estudos, destaca-se que a área de pesquisa sobre jogos educativos pode ser um dos meios importantes para ensinar crianças, adolescentes, adultos e idosos sobre o descarte correto dos RSCC.
Evidencia-se, assim, o papel dos cientistas do comportamento humano para compreender as variáveis ambientais que selecionam e mantêm repertórios não sustentáveis e, a partir disso, modificar o ambiente por meio de instrumentos e procedimentos específicos a fim de desenvolver comportamentos pró-ambientais. As mudanças de comportamentos individuais evidenciadas nos estudos podem ser replicadas e ampliadas, de modo a gerar grandes alterações na maneira como os homens se comportam em relação ao meio ambiente. Assim como pontuou Skinner (1974, p. 8), “Os principais problemas enfrentados hoje pelo mundo só poderão ser resolvidos se melhorarmos nossa compreensão do comportamento humano”.


Referências
Branco, M. A. A, Weyermüller, A. R., Müller, E.F., Schneider, G. T., Hupffer, H. M, Delgado, J, Mossman, J. B, Bez, M. R, & Mendes, TG. (2015). Games in the environmental context and their strategic use for environmental education. Brazilian Journal of Biology, 75(2, Suppl.), 114-121.
Patriarcha-Graciolli, S., Zanon, Â., & Souza, P. (2013). “Jogo dos predadores”: uma proposta lúdica para favorecer a aprendizagem em ensino de ciências e educação ambiental. Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental, 20.
Perkoski, I., & de Souza, S. (2017). "O Espião”: Uma perspectiva analítico comportamental do desenvolvimento de jogos educativos de tabuleiro. Perspectivas Em Análise Do Comportamento, 6(2), 74-88.
Pozzobon, M. P. (2013). Resíduos da construção civil (Especialização em Direito Ambiental Nacional e Internacional). Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil.
Rosa, A. V., de Oliveira, H. T. (2009). Jogos Educativos sobre sustentabilidade na Educação Ambiental Crítica. Tese de Doutorado, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, São Paulo, Brasil.
Skinner, B. F. (1968/1972).  Tecnologia do ensino. São Paulo: Herder.
Skinner, B. F. (1953/2003). Ciência e comportamento humano. São Paulo: Martins Fontes.



Pais de crianças com autismo: devemos inclui-los na intervenção?




Victória Druzian Lopes
Nádia Kienen
Verônica Bender Haydu

Quantas vezes você já ouviu falar sobre o Autismo (Transtorno do Espectro Autista) esse ano? A popularização do termo, que vem acontecendo nos últimos anos, tem sido acompanhada pelo aumento de campanhas de conscientização e pelo número de diagnósticos realizados. A intervenção que tem demonstrado eficácia, a Análise do Comportamento Aplicada (ABA), deve ocorrer de forma intensiva, a partir de mudanças ambientais. Assim, incluir pais nas intervenções comportamentais de seus filhos com Autismo é muito importante para favorecer o desenvolvimento de repertórios comportamentais adaptativos das crianças.
            As intervenções comportamentais para crianças com diagnóstico de autismo, com base na ABA, devem ser individualizadas, intensivas, duradouras e de início precoce (Barboza, 2015). É necessário analisar funcionalmente os comportamentos da criança, elaborar objetivos terapêuticos, propor estratégias e avaliar mudanças comportamentais das crianças. Devido à complexidade e ao caráter intensivo da intervenção, é um serviço normalmente com alto custo financeiro ao qual poucas famílias conseguem ter acesso. Assim, o treinamento de pais para a aplicação de procedimentos de intervenção baseados na ABA possibilita que mais crianças com Autismo tenham acesso à intervenção continuada e intensiva recomendada (Ferreira, 2015; Oliveira, 2017).
            Os procedimentos de intervenção baseados na ABA dependem fundamentalmente de mudanças no ambiente no qual a criança se comporta, o que necessariamente implica na capacitação dos pais para aprenderem a manejar essas variáveis ambientais no dia a dia da criança com autismo. Eles são parte significativa do ambiente da criança, convivendo com ela a maior parte do tempo. Portanto, eles podem intervir de maneira eficaz no comportamento dos filhos, favorecendo a aprendizagem de novos comportamentos em contextos diversos.
            A ABA é uma forma eficaz de intervir no comportamento das crianças com autismo, desde que seja realizada de forma frequente e intensiva. Considerando o papel dos pais na modificação de variáveis ambientais e a dificuldade de acesso de muitas famílias às intervenções, o treino de pais parece ser uma alternativa viável e pertinente para o desenvolvimento de repertórios comportamentais importantes em crianças com Autismo. 


Referências

Barboza, A. A. (2015). Efeitos de videomodelação instrucional sobre o desempenho de cuidadores na aplicação de programas de ensino a crianças diagnosticadas com autismo (Dissertação de Mestrado). Universidade Federal do Pará, Belém, PA, Brasil. Recuperado de http://ppgtpc.propesp.ufpa.br/ARQUIVOS/dissertacoes/adriano%20alves%20barboza%202015.pdf.

Ferreira, L. A. (2015). Ensino conceitual em ABA e treino de ensino por tentativas discretas para cuidadores de crianças com autismo (Dissertação de Mestrado). Universidade Federal do Pará, Belém, PA, Brasil. Recuperado de http://ppgtpc.propesp.ufpa.br/ARQUIVOS/dissertacoes/Luciene%20Ferreira%202015.pdf.

Oliveira, J. S. C. de. (2017). Intervenção implementada por profissional e cuidador a crianças com TEA (Dissertação de Mestrado). Universidade Federal do Pará, Belém, PA, Brasil. Recuperado de http://ppgtpc.propesp.ufpa.br/ARQUIVOS/dissertacoes/Juliana%20Sequeira%20Cesar%20de%20Oliveira%202017.pdf.

quarta-feira, 10 de abril de 2019

Ser professor é... dominar a arte de planejar

Camila Bianconi Rosa
Nádia Kienen

Início do ano letivo, tudo começando de novo! Alunos e professores com expectativas e ansiedades a respeito do que será feito ao longo daquele período de ensino e aprendizagem. Professores se reencontram com colegas, alunos também reencontram colegas e ambos podem se sentir um pouco perdidos, procurando as salas de aula onde lecionarão ou estudarão. De repente, soa o sinal e as aulas começam. Mas será que ali é realmente o começo do processo?
Quem é ou já foi professor sabe que a resposta a essa pergunta é não! A prática docente não se restringe apenas a “dar aulas”, ao momento em que o professor fala com a turma de alunos sobre assuntos que considera importantes ou passa exercícios no quadro-negro, ou faz a leitura de um texto no livro didático. Você já se perguntou como ele sabe o que fazer, quando fazer e como fazer? Pois ele, sim, pergunta isso a si (ou deveria se perguntar!) antes das aulas começarem.
Essa prática de se perguntar o que, como e quando ensinar tem a ver com o planejamento do ensino e o produto dessa prática dá origem ao plano de trabalho docente (o nome pode variar de região para região ou mesmo de escola para escola). Esse plano de trabalho é um documento elaborado por cada professor, no qual o mesmo deve descrever o que e como pretende ensinar seus alunos durante um período letivo. A partir dele, são definidas as estratégias metodológicas (como ensinar), os materiais necessários (livros didáticos, paradidáticos, cola, tesoura, jornais etc.), os “conteúdos” que devem ser abordados (teorias, esquemas, descrições de eventos históricos etc.) e as avaliações para verificar se ocorreu a aprendizagem (avaliação continuada ou não, por meio de prova escrita, oral, seminários, etc.).
Percebe-se aí a grande importância do planejamento de ensino: é ele quem guiará o professor durante os bimestres a respeito do trabalho a ser desenvolvido em cada série. Devido a sua grande importância no processo de ensino e aprendizagem, o planejamento de ensino deve ser produto da reflexão crítica do professor.
Durante esta reflexão crítica, alguns pontos podem auxiliar o professor a planejar o ensino, como levar sempre em conta a realidade social dos alunos, as dificuldades e desafios com os quais lidam cotidianamente e nos quais precisam de ajuda, de forma que esse planejamento faça mais sentido tanto para o professor quanto para os alunos. Além disso, o professor deve levar em conta o que o aluno já sabe sobre o que será ensinado, para que a aula não fique maçante, tediosa, bem como o que o aluno ainda não sabe, para que a aula não fique tão difícil que ele acabe desistindo de aprender.  
Provavelmente, levando em consideração aspectos como grau de conhecimentos e habilidades atuais de seus alunos e as dificuldades e desafios que encontram em sua realidade social, o professor produzirá um planejamento do ensino mais eficiente, o qual irá ajudá-lo a ensinar de maneira mais significativa, tanto para ele quanto para seus alunos.

Behaviorismo: uma área homogênea?


Yuri Lelis Rafael
Verônica Bender Haydu

Ao entrar em contato com o Behaviorismo, seja em cursos de graduação, livros introdutórios ou palestras e congressos, é possível que o leitor tenha a impressão de que está estudando uma área homogênea, na qual todos os membros concordam sobre as questões mais gerais, além de todos estarem de acordo com as premissas descritas por B. F. Skinner. Porém, uma análise mais detalhada da área pode indicar o equívoco nessa posição e revelar que o behaviorismo é uma área heterogênea, e que seus autores discordam e discutem entre si sobre diversos temas fundamentais sobre o comportamento. É justamente essas discussões que favorecem o desenvolvimento da ciência e que favorecem o planejamento de novas pesquisas.
            Na primeira metade do século XX já é possível encontrar textos sinalizando a falta de homogeneidade no Behaviorismo. Comentando essa característica, Williams (1931) defendeu que o behaviorismo seria uma área muito menos unificada em comparação com a psicologia da Gestalt e a psicologia introspeccionista da época, e descreve cinco autores considerados behavioristas que, segundo ela, apresentam diferentes posições em relação a assuntos fundamentais da psicologia. Williams concluiu que os autores apresentados discordam até mesmo sobre o significado do próprio termo behaviorismo.
            O passar das décadas não solucionou a heterogeneidade do behaviorismo. O'Donohue e Kitchener (1999), décadas depois, em um livro dedicado à temática, descrevem 15 versões de behaviorismo, cada uma com características e pressupostos específicos, ainda que compartilhem características gerais maiores que definam cada um como membro do grupo behaviorista. É importante também comentar que, como indicado pelos autores, os critérios para definir um autor como behaviorista e para definir uma versão do behaviorismo como diferente da outra, não são fixos e totalmente delimitados. Assim, não é possível estimar com clareza quantas versões são encontradas na literatura, dependendo sempre de quem realiza a análise e da forma na qual ela é desenvolvida.
            Algumas das correntes behavioristas citadas por O'Donohue e Kitchener (1999) são: o interbehaviorismo, o behaviorismo funcionalista contextual, o behaviorismo teleológico e o behaviorismo lógico, além do behaviorismo radical. Essa pluralidade permite o desenvolvimento de discussões internas que permitem o desenvolvimento da área. Esses diferentes pontos de vistas devem ser conhecidos e considerados por qualquer um que se interesse pela Ciência do Comportamento, seja para aprimorar sua aplicação prática ou contribuir para o estabelecimento do behaviorismo como uma filosofia da ciência.

Referências

O'Donohue, W. & Kitchener, R. F. (1999). Handbook of Behaviorism (1a ed.). California: Academic Press.
Williams, K. A. (1931). Five Behaviorisms. The American Journal of Psychology, 43(3), 337-360. https://doi.org/10.2307/1414607