segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Mulheres e sociedade: o problema da saúde mental


             

Jordana Fontana

        Muito já se ouviu falar sobre a mulher ser o sexo frágil, inclusive no que se refere a doenças psicológicas. Dados da Organização Mundial de Saúde (em inglês, WHO, 2001) demonstram que mulheres têm mais chance de desenvolver transtornos psicológicos, principalmente depressão e ansiedade. Qual o motivo dessa diferença? Seria a mulher biologicamente ou essencialmente mais propensa a ter mais problemas de saúde mental? Alguns estudos da psicologia, em especial da análise do comportamento, têm demonstrado que os problemas de saúde da mulher são uma consequência da nossa sociedade, constituída por práticas que oprimem as mulheres.
        A cultura em que vivemos é caracterizada pela desigualdade entre gêneros – isso não significa uma simples diferença, mas sim que um gênero se beneficia em detrimento do outro: homens são maioria em posições de poder e têm mais acesso a benefícios, ficando as mulheres com menos oportunidades de emprego, salários mais baixos, trabalhos de menor prestígio e condições financeiras mais precárias. Mulheres aprendem que certas coisas são tarefas “de homem”, e que elas não têm capacidade para fazer tais coisas. Falar que algo é “de mulher” é uma expressão comumente utilizada em tom pejorativo, e, portanto, o feminino é visto como inferior. Mulheres são menos respeitadas e sua capacidade intelectual é comumente colocada em cheque. Além disso, sofrem diariamente diversas formas de assédio e violência, que muitas vezes chegam ao extremo, no caso do feminicídio (Fontana, 2019). 

        Atualmente, sabe-se que o conceito de saúde mental envolve diversos aspectos da vida, como boas condições de trabalho, inclusão social, estilo de vida saudável, segurança e garantia de direitos humanos (WHO, 2002). Tendo em vista a condição atual das mulheres, esse ambiente social prejudica o seu bem estar e contribui para o desenvolvimento de transtornos psicológicos. Assim, o argumento da mulher como sexo frágil não se sustenta: os altos índices de transtornos mentais das mulheres são influenciados pela sociedade machista e a acentuada desigualdade entre gêneros.
       E qual o papel da psicologia nesse contexto? Em primeiro lugar, a psicologia tem ajudado a compreender que o problema da saúde mental das mulheres não se dá devido a uma vulnerabilidade inata da mulher, e sim que está relacionada à sua condição social. Além disso, a ciência do comportamento tem, há alguns anos, se esforçado para compreender como se organiza uma cultura, bem como tem delineado estratégias para modificar práticas culturais, e algumas dessas estratégias objetivam a mudança de práticas que prejudicam a vida das mulheres (Pinheiro & Mizael, 2019). Tratar da saúde mental da mulher não requer apenas um trabalho individual, e sim uma mudança social, que depende de diversas pesquisas e intervenções para mudanças de comportamentos e de práticas, para assim poder contribuir para uma melhora na saúde mental das mulheres.  

Fontana, J. (2019). Uma análise da dominação masculina à luz da noção skinneriana de cultura. (Dissertação de mestrado, Universidade Estadual de Londrina, Londrina).

Pinheiro, R., & Mizael, T. (Org.). (2019). Debates sobre feminismo e análise do comportamento. Fortaleza: Imagine publicações.

Organização Mundial da Saúde [WHO]. (2002). Relatório Mundial da Saúde. Saúde mental: Nova concepção, nova esperança. Recuperado de https://www.who.int/whr/2001/en/whr01_po.pdf

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