quarta-feira, 10 de abril de 2019

Behaviorismo: uma área homogênea?


Yuri Lelis Rafael
Verônica Bender Haydu

Ao entrar em contato com o Behaviorismo, seja em cursos de graduação, livros introdutórios ou palestras e congressos, é possível que o leitor tenha a impressão de que está estudando uma área homogênea, na qual todos os membros concordam sobre as questões mais gerais, além de todos estarem de acordo com as premissas descritas por B. F. Skinner. Porém, uma análise mais detalhada da área pode indicar o equívoco nessa posição e revelar que o behaviorismo é uma área heterogênea, e que seus autores discordam e discutem entre si sobre diversos temas fundamentais sobre o comportamento. É justamente essas discussões que favorecem o desenvolvimento da ciência e que favorecem o planejamento de novas pesquisas.
            Na primeira metade do século XX já é possível encontrar textos sinalizando a falta de homogeneidade no Behaviorismo. Comentando essa característica, Williams (1931) defendeu que o behaviorismo seria uma área muito menos unificada em comparação com a psicologia da Gestalt e a psicologia introspeccionista da época, e descreve cinco autores considerados behavioristas que, segundo ela, apresentam diferentes posições em relação a assuntos fundamentais da psicologia. Williams concluiu que os autores apresentados discordam até mesmo sobre o significado do próprio termo behaviorismo.
            O passar das décadas não solucionou a heterogeneidade do behaviorismo. O'Donohue e Kitchener (1999), décadas depois, em um livro dedicado à temática, descrevem 15 versões de behaviorismo, cada uma com características e pressupostos específicos, ainda que compartilhem características gerais maiores que definam cada um como membro do grupo behaviorista. É importante também comentar que, como indicado pelos autores, os critérios para definir um autor como behaviorista e para definir uma versão do behaviorismo como diferente da outra, não são fixos e totalmente delimitados. Assim, não é possível estimar com clareza quantas versões são encontradas na literatura, dependendo sempre de quem realiza a análise e da forma na qual ela é desenvolvida.
            Algumas das correntes behavioristas citadas por O'Donohue e Kitchener (1999) são: o interbehaviorismo, o behaviorismo funcionalista contextual, o behaviorismo teleológico e o behaviorismo lógico, além do behaviorismo radical. Essa pluralidade permite o desenvolvimento de discussões internas que permitem o desenvolvimento da área. Esses diferentes pontos de vistas devem ser conhecidos e considerados por qualquer um que se interesse pela Ciência do Comportamento, seja para aprimorar sua aplicação prática ou contribuir para o estabelecimento do behaviorismo como uma filosofia da ciência.

Referências

O'Donohue, W. & Kitchener, R. F. (1999). Handbook of Behaviorism (1a ed.). California: Academic Press.
Williams, K. A. (1931). Five Behaviorisms. The American Journal of Psychology, 43(3), 337-360. https://doi.org/10.2307/1414607

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