Raquel Neves Balan
Verônica Bender Haydu
O
descarte incorreto de resíduos comuns (e.g., plásticos, vidros, papéis e metais)
pode gerar diversos prejuízos ao meio ambiente, como contaminação de solo,
lençóis freáticos, poluição do ar e a proliferação de animais que são vetores e
transmissores de doenças. Devido a isso, constata-se a existência de diversas
formas de intervenção direcionadas para a educação ambiental da população em
relação ao descarte desse tipo de material. Por exemplo, campanhas na televisão
e outros tipos de mídia, aulas educativas nos diversos tipos de instituições, dentre
outras. Essas campanhas e aulas, contudo, enfatizam pouco o deve ser feito com
outros tipos de materiais, como os resíduos sólidos da construção civil (RSCC).
Alguns
dos RSCC, como tijolos, madeiras, areia, cimento e telhas, devem ser
descartados em caçambas para posteriormente serem direcionados a empresas
especializadas em separar e reciclar esses resíduos. No entanto, também são
descartados em caçambas outros materiais que inviabilizam o processo de
reciclagem, como tintas, orgânicos, isopor e eletrônicos. Considerando que não
existem intervenções que ensina a população quanto ao descarte de RSCC
(Pozzobon, 2013), e que o descarte correto desses resíduos pode favorecer o
processo de reciclagem e diminuir o consumo de produtos naturais para
realização de novas obras, a educação ambiental da população sobre o descarte
de RSCC é necessária.
A
educação, de maneira geral, pode ser definida como planejamento de
contingências que aceleram o processo de aprendizagem e proporcionam situações para
que comportamentos específicos sejam emitidos (Skinner, 1968/1972). Uma das
maneiras de ensino especificadas na literatura para a educação ambiental são
jogos eletrônicos ou de tabuleiro que ensinam crianças e adultos sobre sustentabilidade.
O ensino por meio de jogos deve possuir algumas características em conformidade
com os princípios de aprendizagem da Análise do Comportamento. Algumas dessas características,
de acordo com Perkoski e de Souza (2017), são: a definição clara dos
comportamentos a serem ensinados (operacionalização), o uso de estímulos que
representem a situação natural (programação da generalização), fornecimento de feedbacks imediatos para maior
efetividade na seleção dos comportamentos e a evolução no ritmo do aprendiz.
Os
jogos citados na literatura referentes à comportamentos sustentáveis (e.g., Branco
et al., 2015; Patriarcha, Zanon, & Souza, 2005; Rosa & de Oliveira,
2009) visam ensinar aos jogadores conhecimentos sobre fauna e flora,
conservação de áreas verdes, poluição de ambientes, equilíbrio entre
ecossistemas, entre outros. Os resultados dessas pesquisas científicas
demonstraram que os jogos desenvolvidos foram eficazes para ensinar aos
jogadores os comportamentos pretendidos. diante dos efeitos promissores desses
estudos, destaca-se que a área de pesquisa sobre jogos educativos pode ser um
dos meios importantes para ensinar crianças, adolescentes, adultos e idosos
sobre o descarte correto dos RSCC.
Evidencia-se,
assim, o papel dos cientistas do comportamento humano para compreender as variáveis
ambientais que selecionam e mantêm repertórios não sustentáveis e, a partir
disso, modificar o ambiente por meio de instrumentos e procedimentos
específicos a fim de desenvolver comportamentos pró-ambientais. As mudanças de
comportamentos individuais evidenciadas nos estudos podem ser replicadas e
ampliadas, de modo a gerar grandes alterações na maneira como os homens se
comportam em relação ao meio ambiente. Assim como pontuou Skinner (1974, p. 8),
“Os principais problemas enfrentados hoje pelo mundo só poderão ser resolvidos
se melhorarmos nossa compreensão do comportamento humano”.
Referências
Branco, M. A. A, Weyermüller, A. R., Müller, E.F.,
Schneider, G. T., Hupffer, H. M, Delgado, J, Mossman, J. B, Bez, M. R, &
Mendes, TG. (2015). Games in
the environmental context and their strategic use for environmental education. Brazilian Journal of Biology, 75(2,
Suppl.), 114-121.
Patriarcha-Graciolli,
S., Zanon, Â., & Souza, P. (2013). “Jogo dos
predadores”: uma proposta lúdica para favorecer a aprendizagem em ensino de
ciências e educação ambiental. Revista Eletrônica do Mestrado em Educação
Ambiental, 20.
Perkoski, I., & de Souza, S. (2017). "O
Espião”: Uma perspectiva analítico comportamental do desenvolvimento de jogos
educativos de tabuleiro. Perspectivas Em Análise Do Comportamento, 6(2),
74-88.
Pozzobon, M. P. (2013). Resíduos
da construção civil (Especialização em Direito Ambiental Nacional e
Internacional). Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Rio
Grande do Sul, Brasil.
Rosa, A. V., de Oliveira, H. T. (2009). Jogos
Educativos sobre sustentabilidade na Educação Ambiental Crítica. Tese de
Doutorado, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, São Paulo, Brasil.
Skinner, B. F. (1968/1972). Tecnologia
do ensino. São Paulo: Herder.
Skinner, B. F. (1953/2003). Ciência e comportamento humano. São
Paulo: Martins Fontes.
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