quinta-feira, 8 de agosto de 2019

Ser criativo: um comportamento que pode ser aprendido




Thaís Sousa Silva
Verônica Bender Haydu

É bastante comum, em diversos momentos da vida, ouvir a sugestão de que se deve fazer determinada atividade de um jeito criativo. Será que apenas saber que se deve ser criativo é suficiente para ser? Ser capaz de identificar uma resposta criativa ou, ainda, identificar as consequências advindas dela não torna o sujeito que se comporta imediatamente apto a agir assim. Para analistas do comportamento, saber e fazer são dois comportamentos distintos e estão sob controle de diferentes variáveis. Assim, saber o que é ser criativo pode ser importante, mas não necessariamente para se comportar criativamente. Ser criativo é possível quando as consequências produzidas por ações (respostas) criativas mudam o ambiente e essas mudanças (reforçadores ou punidores) aumentam ou diminuem a probabilidade de ocorrência dessas ações.
O ambiente que nos cerca mais do que apenas influenciar nossos comportamentos, é responsável por selecioná-los. Isso significa que o comportamento criativo antes de adquirir valor para o indivíduo deve ser importante para a comunidade que o cerca. Afinal, essa comunidade é responsável por liberar consequências reforçadoras para o sujeito que se comporta criativamente e, com isso, garantir que esse comportamento volte a ocorrer. Diversas respostas inusitadas que, por ventura, tenham sido emitidas, ao não serem reforçadas pela comunidade verbal podem não ser selecionadas e, por conseguinte, entram em extinção. Isso nos leva a refletir: quantos comportamentos originais podem ter ocorrido e não terem sido estabelecidos porque não foram reforçados pela comunidade verbal?
É por conta dessa validação feita pela comunidade como um efeito selecionador que é importante que, além de sugerirmos uns aos outros que sejamos criativos, estejamos também atentos para reforçar respostas diferentes e originais. Skinner (1968) em seu livro Tecnologia do Ensino afirmou que valorizar o que foge à regra colide com a proposta tradicional de perfeição à qual somos submetidos desde cedo na escola e em casa, durante o processo de aprendizagem. Todavia, é exatamente isso que ele encoraja ao propor uma educação para a criatividade.
Uma das formas de se educar para promover comportamentos criativos é incentivar variações nos comportamentos já estabelecidos. A variabilidade é um componente intrínseco ao comportamento e vai acontecer invariavelmente. Estudos oriundos da pesquisa básica (Neuringer, 2002; Hunziker, 2006) mostraram que ela – a variabilidade – também está sob controle operante, logo, é selecionada pelas consequências que produz. Assim, é fundamental, se desejamos promover a criatividade, prestar atenção às variações do comportamento e oferecer consequências para isso.
Assim, para agir criativamente não basta saber que é importante agir dessa forma, é preciso também que isso tenha se tornado relevante ao longo de uma história de validação de respostas originais, por meio de uma comunidade verbal. Sabendo disso, a responsabilidade de agir com criatividade deixa de ser apenas individual e passa a ser coletiva. Então, cabe a cada sujeito, enquanto parte de uma comunidade, a tarefa de prestar atenção na variação e torná-la valiosa e não apenas sugerir que os indivíduos variem e torcer para que isso aconteça. 

Referências

Hunziker, M. H. L. (2006). Comportamento criativo e análise do comportamento I: Variabilidade comportamental. In H. J. Guilhardi, & N. C. Aguirre (Orgs.), Sobre comportamento e cognição: Expondo a variabilidade (vol. 18, pp. 156-165). Santo André: Esetec.
Neuringer, A. (2002). Operant variability: Evidence, functions, and theory. Psychonomic Bulletin & Review9(4), 672-705. doi: 10.3758/BF03196324.
Skinner, B. F. (1968). The Technology of teaching. New York: Appleton-Century-Crofts




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