Thaís Sousa Silva
Verônica Bender Haydu
É bastante comum, em diversos momentos da vida, ouvir a sugestão
de que se deve fazer determinada atividade de um jeito criativo. Será que
apenas saber que se deve ser criativo é suficiente para ser? Ser capaz de
identificar uma resposta criativa ou, ainda, identificar as consequências
advindas dela não torna o sujeito que se comporta imediatamente apto a agir
assim. Para analistas do comportamento, saber e fazer são dois comportamentos
distintos e estão sob controle de diferentes variáveis. Assim, saber o que é
ser criativo pode ser importante, mas não necessariamente para se comportar
criativamente. Ser criativo é possível quando as consequências produzidas por
ações (respostas) criativas mudam o ambiente e essas mudanças (reforçadores ou
punidores) aumentam ou diminuem a probabilidade de ocorrência dessas ações.
O ambiente que nos cerca mais do que apenas
influenciar nossos comportamentos, é responsável por selecioná-los. Isso
significa que o comportamento criativo antes de adquirir valor para o indivíduo
deve ser importante para a comunidade que o cerca. Afinal, essa comunidade é
responsável por liberar consequências reforçadoras para o sujeito que se
comporta criativamente e, com isso, garantir que esse comportamento volte a
ocorrer. Diversas respostas inusitadas que, por ventura, tenham sido emitidas,
ao não serem reforçadas pela comunidade verbal podem não ser selecionadas e,
por conseguinte, entram em extinção. Isso nos leva a refletir: quantos
comportamentos originais podem ter ocorrido e não terem sido estabelecidos
porque não foram reforçados pela comunidade verbal?
É por conta dessa validação feita pela
comunidade como um efeito selecionador que é importante que, além de sugerirmos
uns aos outros que sejamos criativos, estejamos também atentos para reforçar
respostas diferentes e originais. Skinner (1968) em seu livro Tecnologia do
Ensino afirmou que valorizar o que foge à regra colide com a proposta
tradicional de perfeição à qual somos submetidos desde cedo na escola e em
casa, durante o processo de aprendizagem. Todavia, é exatamente isso que ele
encoraja ao propor uma educação para a criatividade.
Uma das formas de se educar para promover
comportamentos criativos é incentivar variações nos comportamentos já
estabelecidos. A variabilidade é um componente intrínseco ao comportamento e
vai acontecer invariavelmente. Estudos oriundos da pesquisa básica (Neuringer,
2002; Hunziker, 2006) mostraram que ela – a variabilidade – também está sob controle
operante, logo, é selecionada pelas consequências que produz. Assim, é
fundamental, se desejamos promover a criatividade, prestar atenção às variações
do comportamento e oferecer consequências para isso.
Assim, para agir criativamente não basta saber
que é importante agir dessa forma, é preciso também que isso tenha se tornado
relevante ao longo de uma história de validação de respostas originais, por
meio de uma comunidade verbal. Sabendo disso, a responsabilidade de agir com
criatividade deixa de ser apenas individual e passa a ser coletiva. Então, cabe
a cada sujeito, enquanto parte de uma comunidade, a tarefa de prestar atenção
na variação e torná-la valiosa e não apenas sugerir que os indivíduos variem e
torcer para que isso aconteça.
Referências
Hunziker, M. H. L. (2006). Comportamento criativo e análise do
comportamento I: Variabilidade comportamental. In H. J. Guilhardi, & N. C.
Aguirre (Orgs.), Sobre comportamento e cognição: Expondo a
variabilidade (vol. 18, pp. 156-165). Santo André: Esetec.
Neuringer, A. (2002). Operant variability:
Evidence, functions, and theory. Psychonomic Bulletin & Review, 9(4),
672-705. doi: 10.3758/BF03196324.
Skinner, B. F. (1968). The
Technology of teaching. New York:
Appleton-Century-Crofts
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