terça-feira, 11 de dezembro de 2018

É possível ser feliz na universidade?


Fernanda Torres Sahão
Nádia Kienen

            “Passei no vestibular! Agora é só alegria”, disse o calouro, em meio a risadas e expressões de “dó” dos amigos e familiares que já passaram pela universidade. O sofrimento vivido nesse contexto, apesar de algumas vezes levado na brincadeira, vem sendo fonte de preocupações e cada vez mais recorrente no meio universitário. Sobrecarga de atividades, assuntos mais complexos e exigência de desenvolvimento de um novo repertório para lidar com tudo isso são fatores presentes na sua vida, não são? Você passa a maior parte do seu tempo nesse contexto, precisando conciliar aspectos da sua vida pessoal com os desafios da formação profissional. As experiências vividas na universidade têm grande impacto na sua qualidade de vida, dentro e fora desse contexto. 
            A qualidade de vida dos estudantes vem sendo alvo de reportagens, estudos empíricos e teóricos, e foco de intervenção, tanto no Brasil quanto em outros países do mundo. Constata-se um aumento na frequência de distúrbios de comportamento na população universitária, especialmente em relação aos níveis de estresse, ansiedade e depressão (Padovani et al., 2014). Além disso, o tema tem sido amplamente discutido e até polemizado nas redes sociais, com estudantes alertando para o custo de estar na universidade, a pressão sentida e o sofrimento causado pelas demandas, além da rotina exaustiva vivenciada.
            Não é possível separar as experiências vividas na universidade de outros aspectos da sua vida fora do contexto universitário, considerando o tempo que você passa nesse ambiente e as interações sociais que você estabelece. Para entendermos a complexidade da adaptação acadêmica, precisamos considerar pelo menos cinco dimensões da vida do estudante (Almeida, Soares, & Ferreira, 2002): (1) a dimensão pessoal (ajustamento psicológico e bem-estar geral), (2) interpessoal (nível de integração com amigos e percepção de apoio), (3) carreira (decisão e satisfação com a escolha), (4) estudo (nível de organização e compromisso com estudo) e (5) institucional (satisfação e vínculo com a instituição).
            Alguns aspectos comuns que estão relacionados a essas dimensões são: desempenho acadêmico, gestão do tempo, autonomia, administração dos recursos financeiros, problemas com professores e colegas, ajustamento a novas regras, assumir novas responsabilidades, lidar com tarefas acadêmicas mais exigentes e expectativas com o mundo do trabalho. Isso tudo lhe parece familiar? O que é possível fazer para lidar com tantos fatores que, aparentemente, podem parecer fora do seu alcance? Será que há uma luz no fim do túnel?
            Respondendo a essas perguntas, alguns autores apresentam sugestões que podem facilitar a sua vida na universidade, como: (a) buscar informações sobre as oportunidades oferecidas pela universidade (tanto atividades acadêmicas quanto atividades que promovam a socialização); (b) comprometer-se com a vida acadêmica, pois desenvolver-se intelectualmente pode auxiliar na adaptação; (c) organizar o seu tempo, de modo a planejar momentos não só de estudo, mas também para lazer; (c) realizar atividades que estejam de acordo com seus objetivos profissionais; (d) procurar professores, colegas, funcionários caso esteja precisando de informações, ajuda ou mesmo de um ombro amigo! Ter uma rede de apoio é imprescindível para levar uma vida mais satisfatória na universidade. Lembre-se: você não está sozinho nessa! Caso esteja passando por momentos de sofrimento intensos, procure a clínica psicológica da universidade, ou busque informações sobre locais que oferecem esse tipo de serviço.
E então... será que é possível ser feliz na universidade? O túnel pode ser um pouco longo, escuro e com alguns obstáculos. Mas, com um pouco de ajuda, podemos agir de modo a abrir algumas frestas nesse caminho, enfrentar os obstáculos e ver a luz não só no fim do túnel, mas durante todo o percurso!

Referências
Almeida, L. S., Soares, A. Paula C., & Ferreira, J. A. (2002). Questionário de vivências acadêmicas (QVA-r): avaliação do ajustamento dos estudantes universitários. Avaliação Psicológica1(2), 81-93. Recuperado de: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677-04712002000200002&lng=pt&tlng=pt

Padovani, R. C., Neufeld, C. B., Maltoni, J., Barbosa, L. N. F., Souza, W. F. de; Cavalcanti, H. A. F., & Lameu, J. N. (2014). Vulnerabilidade e bem-estar psicológicos do estudante universitário. Revista Brasileira de Terapias Cognitivas10(1), 2-10. doi: 10.5935/1808-5687.20140002

Teixeira, M. A. P., Castro, G. D., & Piccolo, L. R. (2007). Adaptação à universidade em estudantes universitários: um estudo correlacional. Interação em Psicologia, 11(2), 211-220.

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