domingo, 9 de dezembro de 2018

A mentira sob a perspectiva analítico-comportamental


Pedro E. A. Costa
Paulo R. H. Gurgel
Verônica Bender Haydu
Alex E. Gallo

Mentir é tão humano como errar ou talvez até mais. Mas por que mentimos? Como aprendemos a mentir?  É possível identificar quando alguém está mentindo? Compreender os processos de aquisição e manutenção do comportamento de mentir é importante para esclarecer esse comportamento sob a perspectiva analítico-comportamental. Aqui será discutido como esse comportamento é aprendido e algumas maneiras de identificar o comportamento de mentir por meio de observação.
O mentir, sob a perspectiva analítico-comportamental, é um operante verbal – um comportamento que gera consequências mediadas pelo outro, as quais o fortalecem. O comportamento verbal tem uma característica própria, ele afeta o comportamento de outras pessoas fazendo-as se comportar de determinadas maneiras (Haydu, 2005a). Enquanto operante verbal, o mentir pode ser aprendido na interação do indivíduo com os membros da comunidade verbal desde os primeiros anos de sua vida (Haydu, 2005a; Honório, 2012). Ele poder ser modelado por suas consequências e pode ser adquirido por meio de imitação e/ou de instruções. Observa-se uma frequência maior de mentiras quando o indivíduo é exposto a ambientes considerados punitivos (Haydu, 2005b; Hübner, da Roch, & Zotto, 2010). Outro motivo que pode levar a emissão da mentira é a possibilidade de acesso a algo que o mentiroso não acredita conseguir de outra forma, tais como prestigio e vantagens (Haydu, 2005b). Reafirmado, comportamento de mentir é mantido pelas consequências que produz.
O mentir não é apenas comportamento verbal, vocal e consciente. Estudos empíricos relatam que por muitas vezes o corpo pode apresentar diversos “sinais’’ não passiveis de controle, que podem servir como pistas para identificar quando o indivíduo está mentindo (Honório, 2012; Hübner et al., 2010). Esses comportamentos, tais como expressões faciais, são denominados não verbais, e podem servir como indicativos de sentimentos e sensações.
Ao mentir, é possível se observar que o mentiroso apresenta com maior frequência: dificuldade em desenvolver o assuntou ou história, evitação de contato visual, baixa frequência de movimentos de braços e movimentos da cabeça incompatíveis com suas verbalizações do sim e do não.  Por mais inusitado que pareça, o mentiroso tende a movimentar verticalmente a cabeça quando diz não e horizontalmente a cabeça quando diz sim (Hübner et al., 2010). Entretanto, deve-se considerar que outros fatores, por exemplo, a ansiedade, medo, dor e até mesmo um bom treino de como omitir ou apresentar tais comportamentos, podem interferir em uma análise funcional desse comportamento.
A comunicação, por muitas vezes, vai muito além da vocalização e o comportamento não verbal pode fornecer informações que diferem ou completam o que foi dito. Os argumentos apresentados nos parágrafos anteriores permitem sugerir que o comportamento de mentir é uma das funções básicas de linguagem, é consciente ou inconsciente, verbal ou não verbal, e tem por objetivo oferecer informações falsas ou privar das verdadeiras. Além disso, o mentir é uma parte integrante repertório verbal estabelecido ao longo da interação do indivíduo com a comunidade verbal e a instalação do repertório é tão importante quanto sua identificação.

Referências

Haydu, V. B. (2005a). Como se aprende a mentir? Tribuna do Vale do Paranapanema, Rolândia, nº 1193, p. 3.  Disponível em: http://www.uel.br/pessoal/haydu/textos/como_se_aprende_a_mentir.pdf
Haydu, V. B. (2005). Por que as pessoas mentem? Tribuna do Vale do Paranapanema, Rolândia, nº 1195, p. 7. Disponível em: http://www.uel.br/pessoal/haydu/textos/por_que_as_pessoas_mentem.pdf.
Honório, F. F. (2012). Precisão na detecção de mentiras: Investigação sobre o efeito da detecção indireta. Dissertação de Mestrado em Ciências do Comportamento, Universidade de Brasília. Brasília. 
 Hübner, M. M., da Rocha, G. M., & Zotto, L. L. S. (2010). Mentira. In P. I. C. Gomide (Org.), Comportamento Moral: Uma Proposta para o Desenvolvimento das Virtudes. Curitiba, PR: Juruá.


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