Pedro
E. A. Costa
Paulo
R. H. Gurgel
Verônica
Bender Haydu
Alex
E. Gallo
Mentir é tão humano como errar ou talvez
até mais. Mas por que mentimos? Como aprendemos a mentir? É possível identificar quando alguém está
mentindo? Compreender os processos de aquisição e manutenção do comportamento
de mentir é importante para esclarecer esse comportamento sob a perspectiva
analítico-comportamental. Aqui será discutido como esse comportamento é aprendido
e algumas maneiras de identificar o comportamento de mentir por meio de
observação.
O mentir, sob a perspectiva analítico-comportamental,
é um operante verbal – um comportamento que gera consequências mediadas pelo
outro, as quais o fortalecem. O comportamento verbal tem uma característica
própria, ele afeta o comportamento de outras pessoas fazendo-as se comportar de
determinadas maneiras (Haydu, 2005a). Enquanto
operante verbal, o mentir pode ser aprendido na interação do indivíduo com os
membros da comunidade verbal desde os primeiros anos de sua vida (Haydu, 2005a;
Honório, 2012). Ele poder ser modelado por suas consequências e pode ser
adquirido por meio de imitação e/ou de instruções. Observa-se uma frequência maior
de mentiras quando o indivíduo é exposto a ambientes considerados punitivos
(Haydu, 2005b; Hübner, da Roch,
& Zotto, 2010). Outro motivo que pode levar a emissão da mentira é a
possibilidade de acesso a algo que o mentiroso não acredita conseguir de outra
forma, tais como prestigio e vantagens (Haydu, 2005b). Reafirmado,
comportamento de mentir é mantido pelas consequências que produz.
O mentir não é apenas comportamento
verbal, vocal e consciente. Estudos empíricos relatam que por muitas vezes o
corpo pode apresentar diversos “sinais’’ não passiveis de controle, que podem
servir como pistas para identificar quando o indivíduo está mentindo (Honório,
2012; Hübner et al., 2010).
Esses comportamentos, tais como expressões faciais, são denominados não verbais,
e podem servir como indicativos de sentimentos e sensações.
Ao mentir, é possível se observar que o mentiroso
apresenta com maior frequência: dificuldade em desenvolver o assuntou ou
história, evitação de contato visual, baixa frequência de movimentos de braços e
movimentos da cabeça incompatíveis com suas verbalizações do sim e do não. Por mais inusitado que pareça, o mentiroso
tende a movimentar verticalmente a cabeça quando diz não e horizontalmente a
cabeça quando diz sim (Hübner et
al., 2010). Entretanto, deve-se considerar que outros fatores, por
exemplo, a ansiedade, medo, dor e até mesmo um bom treino de como omitir ou
apresentar tais comportamentos, podem interferir em uma análise funcional desse
comportamento.
A comunicação, por muitas vezes, vai muito
além da vocalização e o comportamento não verbal pode fornecer informações que
diferem ou completam o que foi dito. Os argumentos apresentados nos parágrafos
anteriores permitem sugerir que o comportamento de mentir é uma das funções
básicas de linguagem, é consciente ou inconsciente, verbal ou não verbal, e tem
por objetivo oferecer informações falsas ou privar das verdadeiras. Além disso,
o mentir é uma parte integrante repertório verbal estabelecido ao longo da
interação do indivíduo com a comunidade verbal e a instalação do repertório é
tão importante quanto sua identificação.
Referências
Haydu,
V. B. (2005a). Como se aprende a mentir? Tribuna do Vale do Paranapanema,
Rolândia, nº 1193, p. 3. Disponível em: http://www.uel.br/pessoal/haydu/textos/como_se_aprende_a_mentir.pdf
Haydu,
V. B. (2005). Por que as pessoas mentem?
Tribuna do Vale do Paranapanema, Rolândia, nº 1195, p. 7. Disponível em: http://www.uel.br/pessoal/haydu/textos/por_que_as_pessoas_mentem.pdf.
Honório,
F. F. (2012). Precisão na detecção de
mentiras: Investigação sobre o efeito da detecção indireta. Dissertação de
Mestrado em Ciências do Comportamento, Universidade de Brasília. Brasília.
Hübner, M. M., da Rocha, G. M., & Zotto,
L. L. S. (2010). Mentira. In P. I. C. Gomide (Org.), Comportamento Moral: Uma Proposta para o Desenvolvimento das Virtudes.
Curitiba, PR: Juruá.
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