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sexta-feira, 5 de janeiro de 2024

Memória: lembrar e esquecer

Fonte: Ilustração gerada pela Inteligência Artificial “DALL·E”, modificada em 05/01/2024

 

Verônica Bender Haydu    

Quando falamos em lembrar ou esquecer pensamos em memória, que por sua vez, nos faz pensar em recuperar, armazenar, imaginar, codificar e outros termos desse tipo. Essas expressões fazem parte de nossa linguagem coloquial e estão relacionados a uma forma de conceituar memória como sendo um lugar, um espaço ou uma parte do cérebro onde as informações estão armazenadas. A memória é ainda, com freqüência, considerada como sendo um construto que mantém status físico, assumindo função causal. Por exemplo, considera-se que as pessoas se comportam de determinadas formas porque têm ou não têm uma boa memória.

Essas formas de conceituar memória diferem da forma como o analista do comportamento o faz, pois, em princípio, o sujeito nesta visão é o locus onde variáveis independentes manipuláveis têm seus efeitos e não o locus de onde o comportamento emerge. E devido às implicações estruturalistas do termo memória, ele é evitado pela maioria dos analistas do comportamento, sendo os termos lembrar e recordar mais usados. Esses termos – lembrar e recordar - deixam claro que estamos nos referindo a um processo e não a uma estrutura, ou seja, que nosso objeto de estudo é um comportamento.

Considerar memória como um comportamento permite analisá-lo funcionalmente e permite, portanto, predição e influência. A análise funcional de um comportamento consiste em observar e descrever as relações que o organismo mantém com o ambiente, havendo a necessidade da descrição do comportamento emitido e de como ele é colocado e/ou mantido sob o controle de estímulos. A análise pode ser de comportamentos dos outros ou do próprio comportamento e pode ser de comportamentos abertos ou encobertos. Há ainda, a possibilidade de serem os comportamentos sob análise, eventos atuais ou eventos vivenciados anteriormente. Assim, o próprio indivíduo pode estar se comportando e ser aquele que analisa funcionalmente o comportamento.

A análise funcional do comportamento permite, portanto, identificar as variáveis das quais o comportamento é função e arranjar as contingências ambientais para aumentar a probabilidade de recordar um fato ou um comportamento esquecido. Ou seja, emitir respostas precorrentes do recordar que levam à alteração das condições ambientais e tornam a resposta a ser recordada mais provável. 

Para leitura adicional ver:

Aggio, N. M., & Varella, A. A. B. (2012). A memória e a retenção da aprendizagem por pessoas com Deficiência Intelectual. DI-Revista de Deficiência Intelectual, 3(2), 20-23. https://www.calameo.com/read/0013472525e8d0cc50a5b

Aggio, N. M.; Varella, A. A., Silveira, M. V., Rico, V. V., de Rose, J. C. C. (2014). Memória sob a ótica analítico comportamental. In L. M. H. Sadi & C. Vichi. (Org.). Comportamento em Foco (v. 14, p. 421-432). ABPMC. https://abpmc.org.br/comportamento-em-foco/

Leite, E. F. da C., & Micheletto, N. (2019). Criatividade para Skinner como um comportamento complexo encadeado: semelhanças e diferenças com resolução de problemas, autocontrole, tomada de decisão e recordar. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, 21(3), 372–389. https://doi.org/10.31505/rbtcc.v21i3.1325


sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Esquecer. Um problema?





Heiny Harold Diesel
Verônica Bender Haydu

Tudo que é aprendido pode ser esquecido. Cada nome, endereço ou senha que exige que algo seja lembrado contém nessa própria condição a possibilidade de que algo seja esquecido. Dentro de um contexto cotidiano, talvez a consequência de esquecer um nome, localização ou outra trivialidade nem se note, em outros contextos o esquecimento pode ser até benéfico, já para um contexto jurídico esquecer de algo pode não ser uma boa. Esse tema é certamente um assunto que interessa a muitos e impulsiona vários campos de pesquisa, como tem ocorrido desde Ebbinghaus (1885) ao estudar memória de longo prazo até autores da Análise do Comportamento como Catania (1984) ao propor propostas interessantes de estudos de memória. O esquecimento é um fenômeno do nosso cotidiano e compreender seu funcionamento parece ser uma tarefa importante uma vez que a depender do contexto, consequências diferentes o seguem.
É tentador atribuir características negativas para o esquecimento já que esquecimento em demasia realmente pode ser um problema. Porém lembrar em excesso também pode gerar complicações. Um indivíduo com capacidade de lembrar segundo a segundo do que viveu em um dia, talvez levaria um dia inteiro para lembrar o que aconteceu no dia anterior, caso se engajasse nessa tarefa. Abstrair, organizar, categorizar e até mesmo esquecer, são condições que favorecem que o indivíduo fique sobre controle de eventos presentes, atuais e até futuros. Como lembrar que seu aniversário está chegando e programar algo divertido com pessoas que você gosta. Outros possíveis benefícios do esquecer podem estar relacionados com a economia cognitiva e a adaptação ao meio em que o indivíduo vive (Izquierdo, 2006).
Afinal, esquecer é ou não um problema? Para responder essa pergunta talvez seja necessário a utilização de um dos mais clássicos jargões: Depende. Não parece correto imputar de pronto aspectos negativos e apenas esses, quando tratamos do esquecer. Parece necessário olhar para a relação entre o que é esquecido e as consequências (individuais, sociais entre outros aspectos). É quase certo, a não ser que algo tenha sido esquecido entre o começo, o desenvolvimento e a finalização deste material que a aparente ausência de resposta “sim” e “não” sobre a pergunta contida no título esteja mais para um exercício de raciocínio livre do que para um esquecimento corriqueiro.

Referências

Ebbinghaus, H. (1885/1962). Memory: A contribution to experimental psychology. New York: Dover.

Catania, A. C. Aprendizagem: comportamento, linguagem e cognição. Artmed, Porto Alegre, 1999.

Izquierdo I. Memória. Porto Alegre: ArtMed, 2006.