Verônica Bender Haydu
Quando
falamos em lembrar ou esquecer pensamos em memória, que por sua vez, nos faz
pensar em recuperar, armazenar, imaginar, codificar e outros termos desse tipo.
Essas expressões fazem parte de nossa linguagem coloquial e estão relacionados
a uma forma de conceituar memória como sendo um lugar, um espaço ou uma parte
do cérebro onde as informações estão armazenadas. A memória é ainda, com
freqüência, considerada como sendo um construto que mantém status físico, assumindo
função causal. Por exemplo, considera-se que as pessoas se comportam de
determinadas formas porque têm ou não têm uma boa memória.
Essas
formas de conceituar memória diferem da forma como o analista do comportamento
o faz, pois, em princípio, o sujeito nesta visão é o locus onde
variáveis independentes manipuláveis têm seus efeitos e não o locus de
onde o comportamento emerge. E devido às implicações estruturalistas do termo
memória, ele é evitado pela maioria dos analistas do comportamento, sendo os
termos lembrar e recordar mais usados. Esses termos – lembrar e recordar -
deixam claro que estamos nos referindo a um processo e não a uma estrutura, ou
seja, que nosso objeto de estudo é um comportamento.
Considerar
memória como um comportamento permite analisá-lo funcionalmente e permite,
portanto, predição e influência. A análise funcional de um comportamento
consiste em observar e descrever as relações que o organismo mantém com o
ambiente, havendo a necessidade da descrição do comportamento emitido e de como
ele é colocado e/ou mantido sob o controle de estímulos. A análise pode ser de
comportamentos dos outros ou do próprio comportamento e pode ser de
comportamentos abertos ou encobertos. Há ainda, a possibilidade de serem os
comportamentos sob análise, eventos atuais ou eventos vivenciados
anteriormente. Assim, o próprio indivíduo pode estar se comportando e ser
aquele que analisa funcionalmente o comportamento.
A análise funcional do comportamento permite, portanto, identificar as variáveis das quais o comportamento é função e arranjar as contingências ambientais para aumentar a probabilidade de recordar um fato ou um comportamento esquecido. Ou seja, emitir respostas precorrentes do recordar que levam à alteração das condições ambientais e tornam a resposta a ser recordada mais provável.
Para leitura
adicional ver:
Aggio, N. M., & Varella, A. A.
B. (2012). A memória e a retenção da aprendizagem por pessoas com Deficiência
Intelectual. DI-Revista de Deficiência Intelectual, 3(2), 20-23. https://www.calameo.com/read/0013472525e8d0cc50a5b
Aggio, N. M.; Varella, A. A., Silveira, M. V., Rico, V. V., de Rose, J. C. C. (2014). Memória sob a ótica analítico comportamental. In L. M. H. Sadi & C. Vichi. (Org.). Comportamento em Foco (v. 14, p. 421-432). ABPMC. https://abpmc.org.br/comportamento-em-foco/
Leite, E. F. da C., & Micheletto, N. (2019). Criatividade para Skinner como um comportamento complexo encadeado: semelhanças e diferenças com resolução de problemas, autocontrole, tomada de decisão e recordar. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, 21(3), 372–389. https://doi.org/10.31505/rbtcc.v21i3.1325
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