Inteligência
Artificial “DALL·E”, modificada em 19/02/2025.
Ariadne Barbieri
Missiato
Verônica Bender Haydu
Você já se perguntou o que mantém pessoas em relacionamentos abusivos?
Uma das dinâmicas comuns nesses contextos é o gaslighting. Trata-se de
uma forma de manipulação psicológica em que o agressor distorce a percepção da
vítima sobre si mesma e o mundo ao seu redor, levando-a a questionar suas
lembranças, percepções e julgamentos (Abramson, 2014). Essa prática afeta a
confiança da vítima, fazendo-a duvidar de sua própria visão da realidade.
O fenômeno do gaslighting pode ser compreendido como uma forma de controle
coercitivo. A coerção ocorre quando um indivíduo impõe seu domínio sobre outro
por meio de contingências aversivas, que podem incluir punições, ameaças, manipulação
verbal e extinção de comportamentos (Sidman, 1989). Esses conceitos auxiliam na
compreensão de como o agressor modela o comportamento da vítima, diminuindo a
variabilidade de seus comportamentos e reforçando uma dinâmica de poder
desequilibrada.
O comportamento da vítima, muitas vezes, é mantido por meio de reforço
negativo, ou seja, pela retirada de um estímulo aversivo, aumentando a
frequência de determinado comportamento. No gaslighting, isso ocorre
quando a pessoa ameaçada opta por se manter em silêncio para evitar punições,
geralmente verbais (Moreira & Oliveira, 2023). Por exemplo, ela pode
escolher não defender sua posição durante uma discussão por já ter sido
rotulada como “irracional” em situações semelhantes anteriores. Esse tipo de
consequência reforça a submissão e reduz sua capacidade de agir de forma
diversa, perpetuando o ciclo de abuso.
O controle coercitivo ocorre, muitas vezes, por meio de punições verbais,
com afirmações como: “você está inventando coisas” ou “isso nunca aconteceu”. A
repetida negação dessas histórias inibe a capacidade da vítima de se expressar
e até de confiar na visão que ela tem da realidade (Abramson, 2014). Outra forma de
punição é a retirada de bens ou direitos, utilizada para impor controle sobre a
vítima (Moreira & Oliveira, 2023), reforçando sua dependência e
dificultando a resistência às narrativas impostas pelo agressor.
O gaslighting pode ser interpretado, ainda, como uma forma de
controle cultural sutil e discreto, que fortalece relações de poder desiguais
entre os gêneros (Fontana & Laurenti, 2020). A violência simbólica opera
por meio de contingências como o reforço diferencial e o controle ético, desqualificando
das ações e sentimentos da pessoa afetada. Ao desacreditar
sistematicamente a vítima, prática que contribui para o desenvolvimento de
crenças que diminuem sua autonomia, os privilégios e o acesso do agressor a reforçadores sociais são mantidos. Isso cria uma dinâmica que
perpetua sistemas de dominação e dependência.
Referências
Abramson,
K. (2014). Turning up the lights on gaslighting. Philosophical Perspectives,
28(1), 1–30. https://doi.org/10.1111/phpe.12046
Fontana,
J., & Laurenti, C. (2020). Práticas de violência simbólica da
cultura de dominação masculina: Uma interpretação comportamentalista. Acta Comportamentalia, 28(4), 499–515. https://doi.org/10.32870/ac.v28i4.77327
Moreira, J., & Oliveira, P. (2023). Gaslighting e
análise do comportamento: O reforçamento negativo como mecanismo de controle. Revista de Psicologia e Comportamento, 12(3),
45–59. https://doi.org/10.18761/pac29a09
Sidman, M. (1995). Coerção
e suas implicações. Editorial Psy.
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