segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

Educação de crianças e regras: uma conversa com pais



Gabriel Rodrigues Vitti, Gabriela Pires Malacrida, Letícia de Paula Von Backschat,

 Marcos Muryan Nobuhara, Matheus Manganaro de Souza e

Verônica Bender Haydu

Quando você era criança, deve ter ouvido frases como: “Não coloque o dedo na tomada, que você vai levar um choque!”, “Leve o guarda-chuva, que vai chover!” ou, ainda, “Não jogue bola dentro de casa!” São regras e mais regras que você ouviu – e muito provavelmente seguiu – quando era criança e, graças a isso, conseguiu evitar muitos problemas e situações desagradáveis. Um choque bem dolorido, uma chuva gelada e forte ou uma janela quebrada. Ainda bem que você conseguiu evitar tudo isso quando era criança, né? E agora é a sua vez de evitar que seu filho passe por essas situações!

Algo que você talvez nunca tenha observado nessas pequenas regras do dia a dia diz respeito à maneira com que elas são estruturadas. É óbvio que uma regra destaca algo que deve ser feito ou, quase sempre, algo que não deve ser feito. No entanto, há mais informações em uma regra completa. Se você prestar atenção, vai observar que a sentença “não coloque o dedo na tomada, que você vai levar choque”, além da ação a não ser feita (colocar o dedo na tomada), descreve uma consequência que aconteceria se essa fosse executada: receber um choque. Podemos chamar isso de uma justificativa para a instrução. Uma consequência, com toda certeza não muito agradável, que explica por que a regra deve ser seguida.

Outras regras, como exemplificado na sentença “leve o guarda-chuva, que vai chover”, indicam essa relação de uma forma um pouco menos evidente, mas ela ainda está lá. Algo que, muitas vezes, só nossas mães são capazes de observar – indicação de que vai chover. Se chover, você certamente vai querer estar com o guarda-chuva para evitar se molhar com a chuva gelada. Essa regra indica que haverá uma situação na qual você precisará estar com o guarda-chuva para não se molhar. Em outras palavras, ela não indica só a ação e a consequência, mas também a situação que ocorre antes de você precisar abrir o guarda-chuva: a chuva gelada. Temos mais uma justificativa para uma regra aqui.

Agora, vamos observar nosso terceiro exemplo: “não jogue bola dentro de casa!” Aqui, só temos a indicação da ação a ser evitada. Para nós adultos, os motivos de não jogar bola dentro de casa podem ser óbvios: queremos evitar uma janela, um copo ou uma televisão quebrada. No entanto, para a criança esse motivo é vago, incompreensível, obscuro. Tudo o que a regra lhe diz é o que ela não deve fazer. Por quê? Ninguém disse a ela. Ela só sabe que deve seguir essa regra.

Todos temos ótimos motivos para seguir regras. Quando as seguimos, evitamos infortúnios. Embora as regras tenham eminente utilidade, elas também podem trazer prejuízos. Indivíduos que apenas seguem ordens superiores, sem refletir sobre o que estão fazendo, podem perder autonomia e, até mesmo, desenvolver comportamento típicos da ansiedade ou da depressão. Ninguém deseja que seu filho se torne um seguidor obsessivo de regras, não é mesmo? Queremos que nossos filhos saibam o motivo pelo qual devem – ou não devem – fazer algo. Para isso, devemos apresentar as justificativas dessas regras, ou seja, as relações entre a situação na qual a regra deve ser seguida, aquilo que a criança deve ou não fazer, e as consequências dessas ações. Desse modo, podemos ajudar nossos filhos a se orientarem no mundo de maneira mais eficaz, compreendendo a razão de suas ações.

 

Você pode acessar um artigo de revisão da literatura sobre este tema em:

Teixeira Júnior, R. R. (2009). Variáveis do Comportamento Governado por Regras: Uma análise de estudos da área. Acta Comportamentalia, 17(3), 351-385. https://www.redalyc.org/articulo.oa?id=274519448005

 

 

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