quinta-feira, 26 de janeiro de 2023

Encontrando as funções dos nossos comportamentos

 


 

Poliana Sanches, Karen Rancura, Letícia de Assis P. Jardim,

Andressa Félix Ferreira, Maria Cecília Bonfim dos Santos e

Verônica Bender Haydu

Será que o que fazemos acontece por acaso? Você já parou para pensar na razão pela qual nos comportamos do jeito que o fazemos? Compreender o que fazemos e por que o fazemos é parte do processo de autoconhecimento. Essa análise pode nos ajudar a tomar decisões que sejam compatíveis com aquilo que esperamos como resultados de nossas ações. É olhando para as consequências do que fazemos que nos tornamos mais sensíveis aos motivos de nos comportamos de determinada maneira. A análise do comportamento é uma ciência que busca responder algumas questões como as apresentadas acima. Uma das principais ferramentas utilizadas por essa ciência para compreender o ser humano e suas ações é a análise funcional do comportamento.

Para explicarmos o que é a análise funcional para o analista do comportamento, precisamos caracterizar o que é comportamento. O comportamento é entendido como a relação entre (a) o contexto em que uma ação ocorre, (b) a própria ação e (c) as consequências dessa ação. Assim, para entender a função dos nossos comportamentos – a razão pela qual ele ocorre – precisamos olhar não só para nós mesmos, mas para o que está acontecendo quando nos comportamos, e o que ocorre depois de nos comportarmos. As consequências de nossas ações são muito importantes nessa análise: elas alteram a probabilidade de voltarmos (ou não) a fazer o que fizemos. Isso, algumas vezes, pode parecer óbvio, mas em outros momentos, pode acontecer sem que percebamos.

Então o que é a análise funcional? É a investigação dessa interação. Observar em qual situação o comportamento aconteceu, a ação em si, e as consequências que a ação produziu, para então tentarmos identificar qual a função daquele comportamento que faz com que ele continue acontecendo.

Para a análise funcional consideramos os comportamentos que foram mantidos, ou seja, aqueles que produziram consequências reforçadoras. Por exemplo, podemos descrever o comportamento de uma criança que fez birra no supermercado porque queria um doce. Seu pai ficou com vergonha do comportamento da criança e entregou o doce para ela parar de chorar. Por meio da análise funcional, conseguimos observar que a criança faz birra porque anteriormente esse comportamento fez com que ela obtivesse o que queria.

Em um segundo exemplo, podemos imaginar que estamos com dor de cabeça, uma situação aversiva. Então decidimos tomar um medicamento e a dor é aliviada. Fazendo a análise funcional verificamos que tomamos o medicamento porque anteriormente, ao realizarmos essa ação, nossa dor foi aliviada. Esses são exemplos simples, para auxiliar na compreensão de como é feita uma análise funcional. No entanto, é possível realizar análise funcional de comportamentos complexos, como ansiedade, depressão, relações afetivas, entre outros. Esse procedimento pode ser realizado com a ajuda de analistas do comportamento em contextos terapêuticos, nos quais são analisados comportamentos relevantes para você e que você deseja compreender e mudar.

            Ser capaz de realizar análises funcionais do próprio comportamento pode contribuir tanto para o desenvolvimento do autoconhecimento quanto para a possibilidade de mudança. Quando encaramos nossas ações como fruto do acaso, não existe nada que possa ser feito para mudar, mas quando compreendemos que nossos comportamentos são mantidos por suas consequências e identificamos suas funções, podemos prever nossas respostas de acordo com os contextos e emitir comportamentos alternativos que nos propiciem o acesso as consequências desejáveis.

           

Você pode acessar um artigo de revisão da literatura sobre este tema em:

Costa, S. E. G. de C., & Marinho, M. L. (2002). Um modelo de apresentação de análise funcionais do comportamento. Estudos de Psicologia (Campinas), 19(3), 43-54. https://dx.doi.org/10.1590/S0103-166X2002000300005

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