Wilson Beraldo e Carolina Bori, durante reunião do Conselho da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência em 1989 (Folha de São Paulo, 22/03/1989, Caderno 8)
No dia 11 de fevereiro comemora-se o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência. Criada pela ONU em 2015, a data tem como objetivo honrar nomes de cientistas mulheres que fizeram história, além de inspirar e engajar outras meninas a seguirem na área, bem como evidenciar o debate sobre a desigualdade de gênero que também ocorre na área científica. Aproveitando a celebração da data, em 2019, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) criou o Prêmio “Carolina Bori Ciência & Mulher” para homenagear as cientistas brasileiras e incentivar as futuras cientistas do país. O prêmio recebe o nome de Carolina Bori em homenagem à primeira mulher presidente da SBPC e à sua notória contribuição para o desenvolvimento científico brasileiro.
Carolina Martuscelli Bori participou de lutas para o
desenvolvimento da Psicologia e da Ciência no Brasil. Participou ativamente na
SBPC e em outras sociedades científicas. Foi uma das principais responsáveis
por tornar a Psicologia uma profissão no Brasil, contribuindo fortemente para a
aprovação da lei que regulamentou a profissão de psicólogo e criou os cursos de
graduação em psicologia no país. Além disso, sempre lutou por uma formação
científica sólida dos estudantes, defendendo a obrigatoriedade de que parte da
formação de pós-graduandos envolvesse trabalhos de campo ou laboratório
(Kerbauy, 2004), dando ênfase à formação metodológica e científica.
Além da sua importância para a Ciência e Psicologia como um
todo no Brasil, Bori teve um papel essencial para repensarmos a Educação no
país, sendo a principal referência da Programação de Ensino, área de pesquisa e
tecnologia de ensino desenvolvida a partir dos princípios da Análise
Experimental do Comportamento (AEC). Sua principal contribuição se deu pela
ênfase e preocupação em ensinar comportamentos relevantes para a vida dos
aprendizes, ao invés do tradicional ensino de conteúdos previamente listados e
que seriam reproduzidos da mesma forma pelos alunos.
A Programação de Ensino de Carolina Bori ainda é estudada e
desenvolvida, agora com o nome de Programação de Condições para o
Desenvolvimento de Comportamentos (PCDC). Essa área de pesquisa envolve a produção
de conhecimento a respeito da descoberta de comportamentos relevantes a serem
ensinados, construção de programas de ensino para ensiná-los e avaliação das
condições e dos resultados do procedimento de ensino, resultando na comunicação
das descobertas realizadas. Carolina Bori revolucionou o ensino de Psicologia
Experimental e outras áreas, além de orientar mais de 100 teses e dissertações,
sempre preocupada em formar pesquisadores e produzir conhecimento (Kerbauy,
2004), dando condições para que seus orientandos e os orientandos desses
orientandos continuassem o seu legado, até os dias de hoje.
Dando continuidade ao desenvolvimento das contribuições
iniciadas pela professora Carolina Bori, várias pesquisas em PCDC têm sido
desenvolvidas recentemente por pesquisadores e estudantes em diferentes
universidades do país. Destaca-se que boa parte dessas pesquisas são
desenvolvidas por mulheres (Agassi, 2013; Archer, 2020; Canali, 2017; Carvalho,
2015; Costa, 2019; De Paula, 2019; Gonçalves, 2015; Kawasaki, 2013; Kienen,
2008; Lopes, 2020; Luiz, 2013; Neri, 2017; Panosso, 2020; Rosa, 2020; Russi,
2016; Sahão, 2019; Silva, 2017; Suhett, 2017; Viecili, 2008; Yoshiy, 2018),
contribuindo para a produção de conhecimento e desenvolvimento de
comportamentos relevantes em diversos contextos de atuação do psicólogo (e.g.
organizações, clínica, educação, trânsito).
Dessa forma, com tantas contribuições à Ciência, Psicologia e Educação, Carolina Bori segue inspirando pesquisas e pesquisadores. Além disso, inspira particularmente mulheres a ocupar espaços na área científica e a contribuir com a produção de conhecimento. Segue um relato a respeito da postura de Carolina Bori nas reuniões da SBPC:
“De compleição franzina e delicada, de voz mansa e suave, de comportamento cordial e educado, de repente Carolina Bori se transfigura. Ela se altera, se agita, eleva a voz. Quem a vê nessas ocasiões, não a reconhece. Aliás, acho que não a conhece! Porque quem a conhece (e, por isso, a admira), sabe que, nessas ocasiões, Carolina Bori está simplesmente extravasando com vigor e firmeza, um dos traços mais marcantes de sua fascinante personalidade: a defesa intransigente de seus princípios e de suas idéias. Ela não arreda pé de suas convicções. A menos, é claro, que seja convencida disso. De qualquer forma, ultrapassada a batalha verbal, quer tenha convencido ou tenha sido convencida, ela volta imediatamente à voz mansa e suave, como se nada houvesse acontecido de diferente (Freire-Maia, 1998, p. 190).
Nesse sentido, espera-se que cada vez mais as mulheres na
Ciência possam ter voz e serem escutadas. E que as condições no contexto
acadêmico e científico sejam mais favoráveis à participação e permanência de
mulheres e ao reconhecimento de suas carreiras e contribuições. Que a postura e
o trabalho da professora Carolina Bori incentivem mulheres a lutar por seu
espaço e a expor e defender suas ideias. Assim, lute como uma garota. Faça
Ciência como Dona Carolina!
Referências
Agassi, I. (2013). Avaliação da eficácia de um programa
de condições de ensino para desenvolver ou aperfeiçoar a cadeia de classes de
comportamentos "ler textos em contexto acadêmico" como parte do
repertório de estudantes de cursos de graduação (Dissertação de Mestrado), Universidade
Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC, Brasil. https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/122737.
Archer, A. B. (2020). Avaliação da efetividade de um
programa de ensino para desenvolver comportamentos profissionais. (Tese de
Doutorado), Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC, Brasil.
Canali, G. Z. (2015). “Dirigir
defensivamente em vias públicas”: Caracterização das classes de comportamentos (Dissertação
de Mestrado), Universidade Estadual de Londrina, Londrina, Brasil. http://www.bibliotecadigital.uel.br/document/?code=vtls000217417
Carvalho, G. S. (2015). “Estabelecer
objetivos de ensino”: Um programa de ensino para capacitar futuros professores
(Dissertação de Mestrado), Universidade Estadual de Londrina, Londrina, Brasil.
http://www.bibliotecadigital.uel.br/document/?code=vtls000209719
Costa, E. N. F. (2019). Autogerenciamento:
Sistematização do conceito e caracterização analítico-comportamental
(Dissertação de Mestrado), Universidade Estadual de Londrina, Londrina, Brasil.
http://www.uel.br/pos/pgac/wpcontent/uploads/2020/03/Autogerenciamentosistematizacao-do-conceito-e-caracterizacao-analitico-comportamental.pdf
De Paula, J. P. (2019). Elaboração
e avaliação de um programa de ensino para treinar líderes organizacionais a
“capacitar os liderados para realizarem as atividades de trabalho”.
(Dissertação de Mestrado). Universidade Estadual de Londrina, Londrina, Brasil.
http://www.uel.br/pos/pgac/wp-content/uploads/2020/01/Elaboracao-e-avaliacao-de-um-programa-de-ensino-para-treinar-lideres-organizacionais-a-capacitar-os-liderados-para-realizarem-as-atividades-de-trabalho.pdf
Freire-Maia, A. (1998). Carolina SBPC Bori. Psicologia
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Gonçalves, V. M. (2015). Avaliação
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Psicologia a “definir variáveis relacionadas a processos comportamentais”.
(Dissertação de Mestrado). Universidade Estadual de Londrina, Londrina, Brasil.
http://www.bibliotecadigital.uel.br/document/?code=vtls000202697
Kawasaki, H. N. (2013). Avaliação da eficiência de um programa
de contingências para desenvolvimento de comportamentos da classe “caracterizar
comportamentos-objetivo” a profissionais de uma organização não-governamental
do campo da educação. (Dissertação
de mestrado), Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC, Brasil.
https://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle/123456789/123011
Kerbauy, Rachel Rodrigues. (2004). A presença de Carolina
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Kienen, N. (2008). Classes de comportamentos
profissionais do psicólogo para intervir, por meio de ensino, sobre fenômenos e
processos psicológicos, derivadas a partir das diretrizes curriculares, da
formação desse profissional e de um procedimento de decomposição de
comportamentos complexos. (Tese de Doutorado), Universidade Federal de
Santa Catarina, Florianópolis, SC, Brasil. https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/92016.
Lopes, V. D. (2020). Treinamento de pais: Comportamentos
para promover a aprendizagem de comportamentos cooperativos em crianças com TEA.
(Dissertação de Mestrado). Universidade
Estadual de Londrina, Londrina, PR, Brasil. http://www.uel.br/pos/pgac/wp-content/uploads/2020/12/Victoria-Druzian-Lopes-Treinamento-de-pais-comportamentos-para-promover-a-aprendizagem-de-comportamentos-cooperativos-em-criancas-com-TEA.pdf
Luiz, F. B. (2013). Classes de comportamentos-objetivo de
aprendizagem de história derivadas de documentos oficiais. (Dissertação de
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Neri, N. J. M. (2017). Caracterização da classe geral de
comportamentos “Capacitar os liderados a se comportarem de forma produtiva e
significativa diante das situações de trabalho com as quais precisam lidar”:
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Panosso, M. G. (2019). Elaboração e avaliação da
eficiência e eficácia de um programa de ensino para capacitar professores a
avaliar e a intervir em situações de bullying escolar. (Tese de Doutorado),
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Rosa, C. B.
(2020). Proposição de comportamentos-objetivo: adaptação e avaliação de um
programa de capacitação para professores do ensino fundamental II.
(Dissertação de Mestrado). Universidade Estadual de Londrina, Londrina, PR,
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Russi, E. K. (2016). Identificar os comportamentos
básicos componentes da classe geral de comportamentos denominada "Conduzir
veículo motorizado" conforme o código de trânsito brasileiro.
(Dissertação de Mestrado), Universidade Federal do Paraná, Curitiba, PR.
Brasil. https://acervodigital.ufpr.br/handle/1884/47339
Sahão, F. T. (2019). Saúde mental do estudante
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(Dissertação de Mestrado), Universidade
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Silva, N. L. F. (2017). Classes de comportamentos
constituintes da classe geral "mediar conflitos de trabalho no contexto
organizacional". (Dissertação de Mestrado), Universidade Estadual de Londrina, Londrina, PR,
Brasil. http://www.bibliotecadigital.uel.br/document/?code=vtls000213343.
Suhett, L.B.R. (2017). Análise do Comportamento e
formação de pedagogos: Contribuições a partir do exame das Diretrizes
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Londrina. Londrina, PR, Brasil. http://www.uel.br/pos/pgac/wp-content/uploads/2017/05/An%C3%A1lise-do-comportamento-e-forma%C3%A7%C3%A3o-de-pedagogos-contribui%C3%A7%C3%B5es-a-partir-do-exame-das-diretrizes-curriculares-nacionais.pdf
Viecili, J. (2008). Classes de comportamentos
profissionais que compõem a formação do psicólogo para intervir por meio de
pesquisa sobre fenômenos psicológicos, derivadas a partir das Diretrizes
Curriculares Nacionais para os cursos de graduação em Psicologia e da formação
desse profissional. (Tese de Doutorado), Universidade Federal de Santa
Catarina, Florianópolis, SC, Brasil. https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/91417
Yoshiy, S.M. (2018) Gerenciamento de tempo: elaboração de um livro autoinstrucional para estudantes universitários. (Dissertação de Mestrado). Universidade Estadual de Londrina, Londrina, PR, Brasil. http://www.uel.br/pos/pgac/wp-content/uploads/2018/05/Gerenciamento-de-tempo-elabora%C3%A7%C3%A3o-de-um-livro-autoinstrucional-para-estudantes-universit%C3%A1rios.pdf
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