sexta-feira, 3 de julho de 2020

Como podemos ensinar crianças com autismo a seguir instruções?



Lara Gil Ribeiro Lenza
Verônica Bender Haydu


            Você provavelmente já ouviu falar em Transtorno do Espectro Autista (TEA), certo? Em março de 2020 foi divulgada a nova prevalência segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC): uma em cada 54 crianças (Baio et al., 2020) tem o diagnóstico de TEA. Uma das características de crianças com esse diagnóstico é a dificuldade em seguir instruções básicas do dia a dia. A ausência dessa classe de comportamentos dificulta o estabelecimento de interações sociais e o desenvolvimento de outras habilidades. Os métodos de ensino analítico-comportamentais demonstraram ser particularmente relevantes para o desenvolvimento do controle instrucional, caracterizando-se como uma forma adequada de intervenção em casos de TEA.
A dificuldade de seguir instruções está associada a um dos critérios diagnósticos do TEA, que inclui déficits persistentes na comunicação social e na interação social em múltiplos contextos (DSM-V, 2013). Seguir uma instrução exige dois componentes fundamentais: compreender o que foi instruído e executar o que a instrução especifica (e.g., Hayes e Hayes, 1989). Esses dois componentes – compreender e executar – envolvem a interação entre o ouvinte e o falante, e então surge a necessidade de intervir em tal habilidade.
Uma forma de ensinar a compreensão e o seguimento de regras a uma criança é a apresentação sistemática de uma instrução pelo falante, a solicitação da emissão do comportamento pelo ouvinte e a liberação de uma consequência positiva (reforçadores) para a resposta de seguir a instrução. O falante pode, por exemplo, pedir para que a criança guarde um brinquedo. Assim que ela o fizer, é importante que algum item tangível de sua preferência seja liberado. Vale ressaltar que uma consequência específica é importante para selecionar o comportamento, no entanto, é fundamental que aos poucos consequências reforçadoras tangíveis sejam substituídas por reforçadores sociais como o elogio. Outro ponto importante é a ajuda: nas primeiras vezes em que a instrução for fornecida a criança pode precisar de ajuda física para segui-la. Assim como com os reforçadores, o instrutor deve diminuir sucessivamente a ajuda, até que a criança consiga segui-la sozinha.
O ensino do seguimento de instruções permite o desenvolvimento da compreensão do que é solicitado pelo falante. Essa compreensão pode ser generalizada para diferentes contextos que exijam independência e autonomia da criança para executar uma série de comportamentos, sejam eles sociais ou acadêmicos. As intervenções comportamentais consideram os pré-requisitos e as habilidades individuais de cada criança ao planejar programas de ensino. Esses programas devem considerar o ensino de repertórios básicos como a compreensão de instruções e o seguimento delas, pois dessa forma uma quantidade muito grande de outras habilidades podem ser ensinadas. .

Referências
Associação Americana de Psiquiatria. (2013). Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM-V. 5ª Ed. Washington: Associação Americana de Psiquiatria.
Baio, J., Wiggins, L., Christensen, D. L., Maenner, M. J., Daniels, J., Warren, Z. … Dowling, N. F. (2020). Prevalence of Autism Spectrum Disorder among children aged 8 years – Autism and Developmental Disabilities Monitoring Network, 11 Sites, United States, 2016. MMWR Surveill Summ, 67 (No. SS-6): 1–23.
Hayes, S. C. & Hayes, L. J. (1989). The verbal action of the listener as a basis for rule-governance. In S. C. Hayes (Org.), Rule-governed behavior: Cognition, contingencies, and instructional control (pp. 153-190). New York: Plenum.


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