Lara Gil Ribeiro Lenza
Verônica Bender Haydu
Você
provavelmente já ouviu falar em Transtorno do Espectro Autista (TEA), certo? Em
março de 2020 foi divulgada a nova prevalência segundo o Centro de Controle e
Prevenção de Doenças (CDC): uma em cada 54 crianças (Baio et al., 2020) tem o
diagnóstico de TEA. Uma das características de crianças com esse diagnóstico é
a dificuldade em seguir instruções básicas do dia a dia. A ausência dessa
classe de comportamentos dificulta o estabelecimento de interações sociais e o
desenvolvimento de outras habilidades. Os métodos de ensino
analítico-comportamentais demonstraram ser particularmente relevantes para o
desenvolvimento do controle instrucional, caracterizando-se como uma forma
adequada de intervenção em casos de TEA.
A dificuldade de seguir
instruções está associada a um dos critérios diagnósticos do TEA, que inclui
déficits persistentes na comunicação social e na interação social em múltiplos
contextos (DSM-V, 2013). Seguir uma instrução exige dois componentes
fundamentais: compreender o que foi instruído e executar o que a instrução especifica
(e.g., Hayes e Hayes, 1989). Esses dois componentes – compreender e executar – envolvem
a interação entre o ouvinte e o falante, e então surge a necessidade de
intervir em tal habilidade.
Uma forma de ensinar a
compreensão e o seguimento de regras a uma criança é a apresentação sistemática
de uma instrução pelo falante, a solicitação da emissão do comportamento pelo
ouvinte e a liberação de uma consequência positiva (reforçadores) para a
resposta de seguir a instrução. O falante pode, por exemplo, pedir para que a
criança guarde um brinquedo. Assim que ela o fizer, é importante que algum item
tangível de sua preferência seja liberado. Vale ressaltar que uma consequência
específica é importante para selecionar o comportamento, no entanto, é
fundamental que aos poucos consequências reforçadoras tangíveis sejam
substituídas por reforçadores sociais como o elogio. Outro ponto importante é a
ajuda: nas primeiras vezes em que a instrução for fornecida a criança pode
precisar de ajuda física para segui-la. Assim como com os reforçadores, o instrutor
deve diminuir sucessivamente a ajuda, até que a criança consiga segui-la
sozinha.
O ensino do seguimento de
instruções permite o desenvolvimento da compreensão do que é solicitado pelo
falante. Essa compreensão pode ser generalizada para diferentes contextos que
exijam independência e autonomia da criança para executar uma série de
comportamentos, sejam eles sociais ou acadêmicos. As
intervenções comportamentais consideram os pré-requisitos e as habilidades individuais
de cada criança ao planejar programas de ensino. Esses programas devem considerar
o ensino de repertórios básicos como a compreensão de instruções e o seguimento
delas, pois dessa forma uma quantidade muito grande de outras habilidades podem
ser ensinadas. .
Referências
Associação
Americana de Psiquiatria. (2013). Manual Diagnóstico e Estatístico de
Transtornos Mentais – DSM-V. 5ª Ed. Washington: Associação Americana de
Psiquiatria.
Baio, J., Wiggins, L., Christensen, D. L., Maenner, M.
J., Daniels, J., Warren, Z. … Dowling, N. F. (2020). Prevalence of Autism
Spectrum Disorder among children aged 8 years – Autism and Developmental
Disabilities Monitoring Network, 11 Sites, United States, 2016. MMWR
Surveill Summ, 67 (No. SS-6): 1–23.
Hayes, S. C. & Hayes, L. J. (1989). The verbal action of the listener as a basis for
rule-governance. In S. C. Hayes (Org.), Rule-governed behavior: Cognition,
contingencies, and instructional control (pp. 153-190). New York: Plenum.
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