Leandro Herkert Fazzano
O mês de junho é
conhecido como o mês do Orgulho LGBT. Muito provavelmente, você deve ter notado
que, ao longo desse mês, diversas empresas estamparam em seus logotipos um
arco-íris, que representa a bandeira do movimento LGBT. Ou então, pode ter
visto alguns filtros ou postagens em redes sociais falando sobre o mês do
Orgulho. A grosso modo, a importância de ter uma celebração do Orgulho LGBT se
dá pela necessidade de visibilidade desta população negligenciada e oprimida
socialmente.
Mas, o que a Análise do
Comportamento, como produtora de conhecimento, tem falado ou contribuído para
com a população LGBT? Como esta ciência tem olhado para a esta população?Infelizmente, ainda há poucas produções
da Análise do Comportamento sobre esta população minoritária (Carvalho et al., 2011;
Fazzano & Gallo, 2015; Mizael, 2018).Os estudos analítico-comportamentais existentes sobre
essa população sobretudo no contexto brasileiro, caracterizam-se como estados
da arte (Menezes, 2000) ou estudos descritivos ou exploratórios (Devides, 2018,
Teixeira, 2019; Fazzano, 2014).
Parece então que, dentro
da própria Análise do Comportamento, ainda há poucos estudos e desenvolvimento
de intervenções para várias situações a quais a população LGBT está submetida.
Ou seja, há uma vasta possibilidade para a atuação e para a pesquisa! Modelos
de relacionamento afetivo, desenvolver comportamentos de enfretamento,
estratégias para diminuir a ocorrência da violência, capacitações para diversas
profissões que têm contato com essa população ou mesmo compreender como
práticas sociais heteronormativas funcionam como variáveis para o
desenvolvimento de repertórios são apenas alguns dos exemplos de possibilidades
de atuação que a Análise do Comportamento poderia ter junto com essa população.
Vale ressaltar que não é
apenas a partir da pesquisa científica que os analistas do comportamento podem
ajudar na luta contra a LGBTfobia. Para melhor elucidar, vamos imaginar um
psicólogo escolar, analista do comportamento, que em seu cotidiano depare-se
com um adolescente (ou mesmo uma criança) sofrendo, constantemente sendo
chamado de “viadinho”, “bixinha” ou algum outro xingamento tipicamente
LGBTfobico, inclusive tais ofensas ocorrendo na presença de educadores que não
tomam qualquer atitude a respeito[1]. O
que esse analista do comportamento poderia fazer a respeito desse indivíduo que
está sendo verbalmente agredido? Uma reposta válida seria, por exemplo,
encaminhá-lo para terapia. Mas, se para a Análise do Comportamento, o ambiente
é uma variável importante, quais mudanças ambientais poderiam ser promovidas?
Este analista do comportamento poderia trabalhar com os professores ou com os
próprios agressores, alterando o ambiente e, consequentemente, diminuindo as
agressões e o sofrimento aos quais esse adolescente (ou criança) poderia
passar.
É importante que tenhamos
um olhar crítico e ações concretas que modifiquem práticas vivenciadas no nosso
próprio cotidiano, a fim de diminuir o sofrimento das populações minoritárias e
dar maior visibilidade a essas pessoas. Como analistas do comportamento,
podemos tanto modificar o nosso próprio ambiente quanto ensinar outras pessoas
a fazerem isso, em prol do bem-estar e direito de existir de indivíduos que
estão em posição de invisibilidade e que são alvos diários de injustiças e
preconceitos gerados por práticas culturais que podem e devem ser alteradas.
Assim, acredita-se que a Análise do Comportamento, com toda a sua tecnologia e
avanços científicos, possa ter muito a contribuir com a bandeira LGBT, caso
participe das lutas dessa população.
Referências
Carvalho,
M. R. A., Silveira, J. M. da, & Dittrich, A. (2011). Tratamento dado ao
tema “homossexualidade” em artigos do journal of applied behavior analysis: Uma
revisão crítica [Articles on homosexuality in the Journal of Applied Behavior
Analysis: A critical review]. Brazilian Journal of Behavior Analysis, 7,
72–81.
Devides, M. B. C. (2018). A violência contra travestis e transexuais
mulheres a partir de uma perspectiva analítico-comportamental (Dissertação
de Mestrado). Universidade Estadual de Londrina, Londrina, PR, Brasil.
Fazzano, L. H. (2014). Análise do fenômeno da homofobia:
identificando contingências envolvidas (Dissertação de
mestrado).Universidade Estadual de Londrina, Londrina, PR, Brasil.
Fazzano,
L. H., & Gallo, A. E. (2015). Uma análise da homofobia sob a perspectiva da
análise do comportamento. Temas Em Psicologia, 23(3), 535–545.
https://doi.org/10.9788/TP2015.3-02
Menezes, A. B. (2005). Análise da investigação dos determinantes do
comportamento homossexual humano (Dissertação de mestrado). Universidade
Federal do Pará Belém do Pará, PA, Brasil.
Mizael,
T. M. (2018). Perspectivas Analítico-Comportamentais sobre a homossexualidade :
análise da produção científica * Behavior Analytic Perspectives on
Homosexuality : Analysis of the Scientific Publications Perspectivas
Analítico-Conductuales sobre la Homosexualidad : Anál. Perspectivas Em
Análise Do Comportamento, 09(01), 15–28.
Rekers,
G. A., & Lovaas, O. I. (1974). Behavioral treatment of deviant sex-role behaviors in a male child. Journal
of Applied Behavior Analysis, 7(2), 173–190.
https://doi.org/10.1901/jaba.1974.7-173
Teixeira, R. dos S. (2019). Criminalização da
LGBTfobia: Uma análise comportamental de Projetos de Lei (Dissertação de
Mestrado). Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho, Bauru, SP,
Brasil.
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