terça-feira, 30 de junho de 2020

Orgulho LGBT e o papel social e científico dos analistas do comportamento


Leandro Herkert Fazzano

O mês de junho é conhecido como o mês do Orgulho LGBT. Muito provavelmente, você deve ter notado que, ao longo desse mês, diversas empresas estamparam em seus logotipos um arco-íris, que representa a bandeira do movimento LGBT. Ou então, pode ter visto alguns filtros ou postagens em redes sociais falando sobre o mês do Orgulho. A grosso modo, a importância de ter uma celebração do Orgulho LGBT se dá pela necessidade de visibilidade desta população negligenciada e oprimida socialmente.
Mas, o que a Análise do Comportamento, como produtora de conhecimento, tem falado ou contribuído para com a população LGBT? Como esta ciência tem olhado para a esta população?Infelizmente,  ainda há poucas produções da Análise do Comportamento sobre esta população minoritária (Carvalho et al., 2011; Fazzano & Gallo, 2015; Mizael, 2018).Os estudos analítico-comportamentais existentes sobre essa população sobretudo no contexto brasileiro, caracterizam-se como estados da arte (Menezes, 2000) ou estudos descritivos ou exploratórios (Devides, 2018, Teixeira, 2019; Fazzano, 2014).
Parece então que, dentro da própria Análise do Comportamento, ainda há poucos estudos e desenvolvimento de intervenções para várias situações a quais a população LGBT está submetida. Ou seja, há uma vasta possibilidade para a atuação e para a pesquisa! Modelos de relacionamento afetivo, desenvolver comportamentos de enfretamento, estratégias para diminuir a ocorrência da violência, capacitações para diversas profissões que têm contato com essa população ou mesmo compreender como práticas sociais heteronormativas funcionam como variáveis para o desenvolvimento de repertórios são apenas alguns dos exemplos de possibilidades de atuação que a Análise do Comportamento poderia ter junto com essa população.
Vale ressaltar que não é apenas a partir da pesquisa científica que os analistas do comportamento podem ajudar na luta contra a LGBTfobia. Para melhor elucidar, vamos imaginar um psicólogo escolar, analista do comportamento, que em seu cotidiano depare-se com um adolescente (ou mesmo uma criança) sofrendo, constantemente sendo chamado de “viadinho”, “bixinha” ou algum outro xingamento tipicamente LGBTfobico, inclusive tais ofensas ocorrendo na presença de educadores que não tomam qualquer atitude a respeito[1]. O que esse analista do comportamento poderia fazer a respeito desse indivíduo que está sendo verbalmente agredido? Uma reposta válida seria, por exemplo, encaminhá-lo para terapia. Mas, se para a Análise do Comportamento, o ambiente é uma variável importante, quais mudanças ambientais poderiam ser promovidas? Este analista do comportamento poderia trabalhar com os professores ou com os próprios agressores, alterando o ambiente e, consequentemente, diminuindo as agressões e o sofrimento aos quais esse adolescente (ou criança) poderia passar.
É importante que tenhamos um olhar crítico e ações concretas que modifiquem práticas vivenciadas no nosso próprio cotidiano, a fim de diminuir o sofrimento das populações minoritárias e dar maior visibilidade a essas pessoas. Como analistas do comportamento, podemos tanto modificar o nosso próprio ambiente quanto ensinar outras pessoas a fazerem isso, em prol do bem-estar e direito de existir de indivíduos que estão em posição de invisibilidade e que são alvos diários de injustiças e preconceitos gerados por práticas culturais que podem e devem ser alteradas. Assim, acredita-se que a Análise do Comportamento, com toda a sua tecnologia e avanços científicos, possa ter muito a contribuir com a bandeira LGBT, caso participe das lutas dessa população.
Referências

Carvalho, M. R. A., Silveira, J. M. da, & Dittrich, A. (2011). Tratamento dado ao tema “homossexualidade” em artigos do journal of applied behavior analysis: Uma revisão crítica [Articles on homosexuality in the Journal of Applied Behavior Analysis: A critical review]. Brazilian Journal of Behavior Analysis, 7, 72–81.
Devides, M. B. C. (2018). A violência contra travestis e transexuais mulheres a partir de uma perspectiva analítico-comportamental (Dissertação de Mestrado). Universidade Estadual de Londrina, Londrina, PR, Brasil.
Fazzano, L. H. (2014). Análise do fenômeno da homofobia: identificando contingências envolvidas (Dissertação de mestrado).Universidade Estadual de Londrina, Londrina, PR, Brasil.
Fazzano, L. H., & Gallo, A. E. (2015). Uma análise da homofobia sob a perspectiva da análise do comportamento. Temas Em Psicologia, 23(3), 535–545. https://doi.org/10.9788/TP2015.3-02
Menezes, A. B. (2005). Análise da investigação dos determinantes do comportamento homossexual humano (Dissertação de mestrado). Universidade Federal do Pará Belém do Pará, PA, Brasil.
Mizael, T. M. (2018). Perspectivas Analítico-Comportamentais sobre a homossexualidade : análise da produção científica * Behavior Analytic Perspectives on Homosexuality : Analysis of the Scientific Publications Perspectivas Analítico-Conductuales sobre la Homosexualidad : Anál. Perspectivas Em Análise Do Comportamento, 09(01), 15–28.
Rekers, G. A., & Lovaas, O. I. (1974). Behavioral treatment of deviant sex-role behaviors in a male child. Journal of Applied Behavior Analysis, 7(2), 173–190. https://doi.org/10.1901/jaba.1974.7-173
Teixeira, R. dos S. (2019). Criminalização da LGBTfobia: Uma análise comportamental de Projetos de Lei (Dissertação de Mestrado). Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho, Bauru, SP, Brasil.





[1] Caso baseado na dissertação de mestrado de Fazzano (2014)

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