Carina Honório Rotter
Verônica Bender
Haydu
Nádia Kienen
Será que o começo seriam dicas
do que fazer? Ou de como fazer? Calma, ainda não. Skinner, em Ciência e
Comportamento Humano, escreveu “confusão na teoria significa confusão na
prática” (Skinner, 2003, p.10). O campo de atuação em Psicologia Organizacional
e do Trabalho (POT) abrange funções e atividades diversificadas. Pesquisas
apontam que pouco mais da metade dos profissionais que realizam intervenções nesse
campo atuam sem um referencial teórico de base ou, ainda, que atuam a partir de
mais de uma teoria (considerados ecléticos) (cf. Gusso et al., 2019). A clareza
quanto aos fundamentos teóricos da psicologia deve orientar a atuação
profissional e, portanto, esse é o primeiro aspecto a ser considerado para
iniciar sua atuação como psicólogo organizacional.
O campo psicológico se
constitui historicamente como filosofia, como ciência e como profissão, pois
exige simultaneamente um esforço reflexivo, uma investigação científica e se
estabelece como uma profissão de ajuda (Tourinho, 2003). A Psicologia é composta
por diversos tipos de conhecimentos (denominados como “abordagens”), que se
diferenciam devido às maneiras específicas a partir das quais possibilitam interpretar
e atuar diante de um fenômeno ou processo comportamental (Botomé & Kubo,
2002). A Análise do Comportamento é uma matriz conceitual (Starling, 2000) que
estabelece maneiras específicas de interpretar e intervir sobre esses processos,
inclusive em contextos organizacionais.
A subárea da Análise do
Comportamento que se dedica especialmente ao contexto organizacional é chamada
de Organizational Behavior Management (OBM). No Brasil é mais conhecida
como Análise do Comportamento Aplicada às Organizações. O profissional dessa
área atua analisando variáveis que constituem e influenciam a organização e
propõe intervenções para solução de problemas e melhoria da qualidade das
relações. Conforme Krzyzanovski (2019),
essa atuação visa criar condições para atingir os objetivos organizacionais,
contribuindo, assim, para que a organização cumpra sua função na e para
sociedade.
Atuar com base na
fundamentação teórica da Análise do Comportamento aumenta as chances de o psicólogo
organizacional e do trabalho atuar sobre as necessidades da sociedade e não
apenas sobre a demanda do cliente (ou seja, quem paga pelo serviço). Para isso,
cabe ao psicólogo ter clareza de alguns conceitos que funcionam como
pré-requisitos para atuar em uma organização. Krzyzanovski (2019) dá alguns
exemplos:
...conceitos
básicos da Análise do Comportamento como: comportamento, análise funcional,
contingência, controle de estímulos, esquemas de reforçamento, tríplice
contingência, comportamento objetivo (ou comportamento-alvo), controle
aversivo, entre outros são importantes para a atuação do profissional ... , uma
vez que indicam as variáveis que o profissional deve ficar sob controle para
atuar. Além desses, também há conceitos específicos da Análise do Comportamento
Aplicada às Organizações que embasam as intervenções no campo: Pinpoint,
Análise ABC, Análise PIC/NIC, Behavior System Analysis (BSA),
Performance Management (PM), Behavior Based Safety (BBS), organização,
entre outros. (p. 24-25)
O profissional que deseja
atuar como psicólogo organizacional e do trabalho deve inicialmente aprofundar
os estudos no que se refere à orientação teórica. A Análise do Comportamento
Aplicada às Organizações constitui-se de orientações e diretrizes que possibilitam
ao psicólogo atuar nesse campo de modo coerente com o conhecimento científico
existente.
REFERÊNCIAS
Botomé, S. P. & Kubo, O. M. (2002)
Responsabilidade dos programas de Pós-Graduação e formação de novos cientistas
e professores de nível superior. Revista Interação em Psicologia, vol. 6 num.
1. pp. 81-110.
Gusso, H. L., Alvarenga, A. S., Nunes, P. P.,
Nunes, M. F. O., De Luca, G. G., & Oliveira, M. Z. (2019). Psicologia
Organizacional e do Trabalho no Sul do Brasil: Características dos
profissionais, da atuação e dos contextos de trabalho. Revista Psicologia: Organizações e Trabalho, 19(3), 644-652. doi:
10.17652/rpot/2019.3.16131
Krzyzanovski, A. S. (2019). Classes de comportamentos
básicos constituintes da intervenção do analista do comportamento sobre
rocessos comportamentais em organizações. (Dissertação de Mestrado,
Universidade Federal do Paraná).
Skinner, B. F. (2003). Ciência e comportamento
humano (Vol. 10). São Paulo: Martins Fontes.
Starling, R. R. (2000). Behaviorismo radical: uma (mal amada)
matriz conceitual. In R. C. Wielenska (Org.), Sobre comportamento e cognição:
Questionando e ampliando a teoria e as intervenções clínicas e em outros
contextos (vol. 6, pp. 3-12). Santo André: ARBytes.
Tourinho, E. Z. (2003). A produção de
conhecimento em Psicologia: A Análise do Comportamento. Psicologia, Ciência e
Profissão, 23(2), 30-41.
Muito legal esse texto! Me interessei sobre a AC como matriz conceitual, seria ótimo que falassem mais sobre esse tema.
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