quarta-feira, 13 de maio de 2020

Quer atuar como psicólogo organizacional e do trabalho e não sabe por onde começar? Vamos do começo


Carina Honório Rotter
Verônica Bender Haydu
Nádia Kienen
Será que o começo seriam dicas do que fazer? Ou de como fazer? Calma, ainda não. Skinner, em Ciência e Comportamento Humano, escreveu “confusão na teoria significa confusão na prática” (Skinner, 2003, p.10). O campo de atuação em Psicologia Organizacional e do Trabalho (POT) abrange funções e atividades diversificadas. Pesquisas apontam que pouco mais da metade dos profissionais que realizam intervenções nesse campo atuam sem um referencial teórico de base ou, ainda, que atuam a partir de mais de uma teoria (considerados ecléticos) (cf. Gusso et al., 2019). A clareza quanto aos fundamentos teóricos da psicologia deve orientar a atuação profissional e, portanto, esse é o primeiro aspecto a ser considerado para iniciar sua atuação como psicólogo organizacional.
O campo psicológico se constitui historicamente como filosofia, como ciência e como profissão, pois exige simultaneamente um esforço reflexivo, uma investigação científica e se estabelece como uma profissão de ajuda (Tourinho, 2003). A Psicologia é composta por diversos tipos de conhecimentos (denominados como “abordagens”), que se diferenciam devido às maneiras específicas a partir das quais possibilitam interpretar e atuar diante de um fenômeno ou processo comportamental (Botomé & Kubo, 2002). A Análise do Comportamento é uma matriz conceitual (Starling, 2000) que estabelece maneiras específicas de interpretar e intervir sobre esses processos, inclusive em contextos organizacionais.
A subárea da Análise do Comportamento que se dedica especialmente ao contexto organizacional é chamada de Organizational Behavior Management (OBM). No Brasil é mais conhecida como Análise do Comportamento Aplicada às Organizações. O profissional dessa área atua analisando variáveis que constituem e influenciam a organização e propõe intervenções para solução de problemas e melhoria da qualidade das relações. Conforme Krzyzanovski (2019), essa atuação visa criar condições para atingir os objetivos organizacionais, contribuindo, assim, para que a organização cumpra sua função na e para sociedade.
Atuar com base na fundamentação teórica da Análise do Comportamento aumenta as chances de o psicólogo organizacional e do trabalho atuar sobre as necessidades da sociedade e não apenas sobre a demanda do cliente (ou seja, quem paga pelo serviço). Para isso, cabe ao psicólogo ter clareza de alguns conceitos que funcionam como pré-requisitos para atuar em uma organização. Krzyzanovski (2019) dá alguns exemplos:
...conceitos básicos da Análise do Comportamento como: comportamento, análise funcional, contingência, controle de estímulos, esquemas de reforçamento, tríplice contingência, comportamento objetivo (ou comportamento-alvo), controle aversivo, entre outros são importantes para a atuação do profissional ... , uma vez que indicam as variáveis que o profissional deve ficar sob controle para atuar. Além desses, também há conceitos específicos da Análise do Comportamento Aplicada às Organizações que embasam as intervenções no campo: Pinpoint, Análise ABC, Análise PIC/NIC, Behavior System Analysis (BSA), Performance Management (PM), Behavior Based Safety (BBS), organização, entre outros. (p. 24-25)

O profissional que deseja atuar como psicólogo organizacional e do trabalho deve inicialmente aprofundar os estudos no que se refere à orientação teórica. A Análise do Comportamento Aplicada às Organizações constitui-se de orientações e diretrizes que possibilitam ao psicólogo atuar nesse campo de modo coerente com o conhecimento científico existente.


REFERÊNCIAS
Botomé, S. P. & Kubo, O. M. (2002) Responsabilidade dos programas de Pós-Graduação e formação de novos cientistas e professores de nível superior. Revista Interação em Psicologia, vol. 6 num. 1. pp. 81-110.
Gusso, H. L., Alvarenga, A. S., Nunes, P. P., Nunes, M. F. O., De Luca, G. G., & Oliveira, M. Z. (2019). Psicologia Organizacional e do Trabalho no Sul do Brasil: Características dos profissionais, da atuação e dos contextos de trabalho. Revista Psicologia: Organizações e Trabalho, 19(3), 644-652. doi: 10.17652/rpot/2019.3.16131
Krzyzanovski, A. S. (2019). Classes de comportamentos básicos constituintes da intervenção do analista do comportamento sobre rocessos comportamentais em organizações. (Dissertação de Mestrado, Universidade Federal do Paraná).
Skinner, B. F. (2003). Ciência e comportamento humano (Vol. 10). São Paulo: Martins Fontes.
Starling, R. R. (2000). Behaviorismo radical: uma (mal amada) matriz conceitual. In R. C. Wielenska (Org.), Sobre comportamento e cognição: Questionando e ampliando a teoria e as intervenções clínicas e em outros contextos (vol. 6, pp. 3-12). Santo André: ARBytes.
Tourinho, E. Z. (2003). A produção de conhecimento em Psicologia: A Análise do Comportamento. Psicologia, Ciência e Profissão, 23(2), 30-41.

Um comentário:

  1. Muito legal esse texto! Me interessei sobre a AC como matriz conceitual, seria ótimo que falassem mais sobre esse tema.

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