Éllen
Patrícia Alves Castilho
Verônica
Bender Haydu
No processo de
aprendizagem escolar podem aparecer as chamadas dificuldades de aprendizagem.
Muitas vezes, recorre-se aos fatores intrínsecos às crianças para justificar os
casos de não atender às expectativas para a faixa etária ou ano escolar. Inteligência
e maturidade são exemplos de fatores intrínsecos. Eles podem e devem ser
levados em consideração, mas não exclusivamente. A perspectiva
analítico-comportamental exige que ampliemos nosso olhar acerca da questão das variáveis envolvidas
na aprendizagem.
Justificar uma dificuldade
de aprendizagem por meio de fatores intrínsecos é reduzir a expectativa acerca
dos efeitos de uma intervenção, porque o problema é atribuído à criança. Se considerarmos
que o problema está na criança, a questão que se apresenta é: o que podemos
fazer? Os princípios da Análise do Comportamento permitem afirmar que mesmo com
limitações ou deficiências, todos são capazes de aprender (cf. de Rose, 2012) e
de que o ambiente tem papel fundamental no processo de aprendizagem. A partir
desta perspectiva muito pode ser feito.
No processo de
aprendizagem, as consequências, que são mudanças produzidas no ambiente
derivadas de nossa ação, determinam a probabilidade de voltarmos ou não a
emitir tal ação no futuro. Não nos comportamos para conseguir determinado
resultado, mas porque no passado, comportar-se de determinada maneira gerou uma
consequência que aumentou a probabilidade de nos comportarmos dessa forma. Se
um aluno levanta a mão e expõe uma dúvida, e a professora explica de forma mais
compreensível elogiando a iniciativa, a possibilidade de esse aluno
voltar a sinalizar suas dúvidas no futuro aumenta. Essa compreensão levanta uma
importante questão: nossa história pessoal. Nossas experiências passadas influenciam
o modo como agimos.
Procedimentos de ensino
adequados são aqueles que aumentam a probabilidade de o aluno aprender. Se a nossa
história é tão importante a ponto de influenciar o modo como nos comportamos, é
relevante proporcionar às crianças experiências que favoreçam o aprendizado. A
experiência diz respeito à necessidade do aluno e não somente ao esperado para
a faixa etária ou ano escolar. Se, por exemplo, uma criança do 1ºano do Ensino Fundamental, ainda
não dominar o alfabeto, é preciso que se ensine esse pré-requisito, pois o
conteúdo previsto para essa série implica nesse conhecimento. Investir nas
habilidades que o aluno precisa desenvolver pode evitar problemas futuros. Quando
não se identifica que um fator de ensino pode ser crucial, justificar por
fatores intrínsecos torna-se conveniente, mas não produtivo.
O ensino adequado é norteado
pelas reais habilidades da criança e não pelas expectativas. As possibilidades
de investimento nessas habilidades multiplicam-se quando partimos do aporte
teórico da Análise do Comportamento. Então, é possível afirmar que ao falarmos sobre
“crianças que não aprendem”, estamos nos referindo a crianças que podem não ter
sido ensinadas adequadamente ou que, simplesmente, tiveram suas questões de
aprendizagem consideradas exclusivamente pelo viés dos fatores intrínsecos.
Referência
de Rose, J. C. (2012). Análise
comportamental da aprendizagem de leitura e escrita. Revista Brasileira de análise do Comportamento, 1(1), 29-50.
Sugestão de
leitura
Henklain, M. H. O., & Carmo, J. D. S. (2013). Contribuições da
análise do comportamento à educação: um convite ao diálogo. Cadernos de Pesquisa, 43(149), 704-723.
Nenhum comentário:
Postar um comentário