quinta-feira, 2 de abril de 2020

Construindo caminhos alternativos para a intervenção analítico-comportamental com indivíduos com TEA


Lucas Franco Carmona
Mariana Batista

Nesta quinta-feira, 2 de abril, é celebrado o Dia Mundial de Conscientização do Autismo. A data, estabelecida em 2007 pela Organização das Nações Unidas (ONU), busca conscientizar a população sobre o Autismo. Infelizmente, ainda é frequente por parte da comunidade e dos profissionais da educação e da saúde, o desconhecimento das características desse transtorno, o que dificulta um diagnóstico e uma intervenção precoces, essenciais para que se obtenham resultados mais significativos no tratamento. Além disso, a vida das pessoas autistas e de seus familiares é marcada por reações negativas da sociedade, como exclusão e ridicularização. Por essa razão, a data tem como objetivo divulgar informações a fim de aumentar as chances de identificação precoce do quadro e combater o preconceito e a discriminação sofridos pelos portadores do Transtorno de Espectro Autista (TEA) e por suas famílias.
Mas, afinal, o que é o TEA?
O TEA é um transtorno do desenvolvimento que aparece nos primeiros anos de vida. Estima-se que, aproximadamente, a cada 59 crianças, uma é diagnosticada com TEA. Esse transtorno afeta, principalmente, o desenvolvimento da linguagem e da socialização. Os principais sinais são: maior ou menor limitação na comunicação, seja linguagem verbal e/ ou não verbal; dificuldade na interação social; comportamentos estereotipados e repetitivos (e.g., balançar as mãos, ranger os dentes); e padrões restritivos de interesses. Esses déficits no desenvolvimento da linguagem e da socialização fazem com que seja necessário o planejamento de ensino de algumas habilidades para que a criança desenvolva comportamentos necessários para que ela e seus familiares tenham uma vida com dignidade e qualidade.
Uma proposta interventiva que tem ganhado destaque por sua eficácia é a intervenção fundamentada nos pressupostos da Análise do Comportamento Aplicada (ABA).  Essa intervenção tem demonstrado melhoras referentes aos comportamentos relacionados à socialização, à autonomia, à comunicação, à linguagem expressiva, à linguagem receptiva, entre outros. A intervenção em ABA possibilita que a criança com TEA tenha o direito de desenvolver plenamente suas potencialidades, uma vez que o modelo de intervenção auxilia as pessoas com autismo a viver vidas independentes e exercer os seus direitos básicos.
A efetividade da intervenção embasada na ABA para pessoas diagnosticadas com TEA está relacionada à algumas características importantes, tais como: (1) a intensidade da intervenção (25-40 horas semanais); 2) ao período de duração da intervenção (no mínimo dois anos); (3) o início precoce da intervenção (antes dos 4 anos de idade). Embora essenciais, essas características fazem com que a intervenção seja custosa, em termos financeiros, para os familiares. Como resultado, esse modelo interventivo torna-se pouco acessível para grande parte da população brasileira. Além disso, a alta incidência do transtorno (uma a cada 59) faz com que estratégias eficazes e com menor custo financeiro sejam necessárias.
Considerando os esforços da ONU para fortalecer o compromisso da comunidade com a inclusão e participação plena das pessoas com autismo, como mecanismo para garantir o acesso desses cidadãos aos seus direitos fundamentais, destaca-se a importância de tornar acessível à comunidade os benefícios da intervenção com bases na ABA, principalmente neste momento em que se observa, no contexto brasileiro, um crescimento da oferta de serviços de intervenções analítico-comportamentais aplicadas ao autismo. Isso coloca em questão a postura do analista do comportamento quanto à promoção de estratégias alternativas, como o treinamento com cuidadores e professores e a implementação desse serviço nas redes públicas, como políticas públicas. Essas estratégias podem aumentar a probabilidade de acesso e de sucesso da intervenção, sobretudo em países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento.
As restrições à acessibilidade ao tratamento pautado na ABA em função dos custos elevados se configuram em um problema social, uma vez que muitos autistas e suas famílias não são assistidos apropriadamente. A mudança de práticas sociais, como o investimento em treinamento de cuidadores e educadores e a adequada oferta do serviço na rede pública, pode efetivar o direito dos indivíduos autistas ao acesso à intervenção intensiva e precoce. Além disso, pode garantir maior autonomia aos familiares no convívio diário com a criança. Atentar-se para o desenvolvimento de repertórios efetivos junto aos cuidadores e docentes pode se mostrar uma forma de levar à população os conhecimentos necessários para que os indivíduos possam lidar de forma mais eficiente com o mundo. Compete a nós, analistas do comportamento, assumirmos uma posição quanto ao combate ao enfrentamento da exclusão e segregação da população autista e à promoção da sua dignidade humana. A difusão do conhecimento sobre as relações comportamentais e a luta pela acessibilidade da intervenção baseada na ABA como um direito garantido no sistema público pode ser uma forma possível de expressarmos nosso compromisso social.

Um comentário:

  1. Parabéns Lucas! Belo texto. Profissionais conscientes e éticos fazem toda a diferença para todos os que procuram auxílio.

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