Lucas Franco Carmona
Mariana Batista
Nesta quinta-feira, 2 de abril, é celebrado o Dia Mundial de Conscientização do Autismo. A data, estabelecida em 2007 pela Organização das Nações Unidas (ONU), busca conscientizar a população sobre o Autismo. Infelizmente, ainda é frequente por parte da comunidade e dos profissionais da educação e da saúde, o desconhecimento das características desse transtorno, o que dificulta um diagnóstico e uma intervenção precoces, essenciais para que se obtenham resultados mais significativos no tratamento. Além disso, a vida das pessoas autistas e de seus familiares é marcada por reações negativas da sociedade, como exclusão e ridicularização. Por essa razão, a data tem como objetivo divulgar informações a fim de aumentar as chances de identificação precoce do quadro e combater o preconceito e a discriminação sofridos pelos portadores do Transtorno de Espectro Autista (TEA) e por suas famílias.
O TEA é um transtorno do desenvolvimento que aparece nos primeiros anos de vida. Estima-se que, aproximadamente, a cada 59 crianças, uma é diagnosticada com TEA. Esse transtorno afeta, principalmente, o desenvolvimento da linguagem e da socialização. Os principais sinais são: maior ou menor limitação na comunicação, seja linguagem verbal e/ ou não verbal; dificuldade na interação social; comportamentos estereotipados e repetitivos (e.g., balançar as mãos, ranger os dentes); e padrões restritivos de interesses. Esses déficits no desenvolvimento da linguagem e da socialização fazem com que seja necessário o planejamento de ensino de algumas habilidades para que a criança desenvolva comportamentos necessários para que ela e seus familiares tenham uma vida com dignidade e qualidade.
Uma proposta interventiva que tem ganhado destaque por sua eficácia é a intervenção fundamentada nos pressupostos da Análise do Comportamento Aplicada (ABA). Essa intervenção tem demonstrado melhoras referentes aos comportamentos relacionados à socialização, à autonomia, à comunicação, à linguagem expressiva, à linguagem receptiva, entre outros. A intervenção em ABA possibilita que a criança com TEA tenha o direito de desenvolver plenamente suas potencialidades, uma vez que o modelo de intervenção auxilia as pessoas com autismo a viver vidas independentes e exercer os seus direitos básicos.
A efetividade da intervenção embasada na ABA para pessoas diagnosticadas com TEA está relacionada à algumas características importantes, tais como: (1) a intensidade da intervenção (25-40 horas semanais); 2) ao período de duração da intervenção (no mínimo dois anos); (3) o início precoce da intervenção (antes dos 4 anos de idade). Embora essenciais, essas características fazem com que a intervenção seja custosa, em termos financeiros, para os familiares. Como resultado, esse modelo interventivo torna-se pouco acessível para grande parte da população brasileira. Além disso, a alta incidência do transtorno (uma a cada 59) faz com que estratégias eficazes e com menor custo financeiro sejam necessárias.
Considerando os esforços da ONU para fortalecer o compromisso da comunidade com a inclusão e participação plena das pessoas com autismo, como mecanismo para garantir o acesso desses cidadãos aos seus direitos fundamentais, destaca-se a importância de tornar acessível à comunidade os benefícios da intervenção com bases na ABA, principalmente neste momento em que se observa, no contexto brasileiro, um crescimento da oferta de serviços de intervenções analítico-comportamentais aplicadas ao autismo. Isso coloca em questão a postura do analista do comportamento quanto à promoção de estratégias alternativas, como o treinamento com cuidadores e professores e a implementação desse serviço nas redes públicas, como políticas públicas. Essas estratégias podem aumentar a probabilidade de acesso e de sucesso da intervenção, sobretudo em países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento.
As restrições à acessibilidade ao tratamento pautado na ABA em função dos custos elevados se configuram em um problema social, uma vez que muitos autistas e suas famílias não são assistidos apropriadamente. A mudança de práticas sociais, como o investimento em treinamento de cuidadores e educadores e a adequada oferta do serviço na rede pública, pode efetivar o direito dos indivíduos autistas ao acesso à intervenção intensiva e precoce. Além disso, pode garantir maior autonomia aos familiares no convívio diário com a criança. Atentar-se para o desenvolvimento de repertórios efetivos junto aos cuidadores e docentes pode se mostrar uma forma de levar à população os conhecimentos necessários para que os indivíduos possam lidar de forma mais eficiente com o mundo. Compete a nós, analistas do comportamento, assumirmos uma posição quanto ao combate ao enfrentamento da exclusão e segregação da população autista e à promoção da sua dignidade humana. A difusão do conhecimento sobre as relações comportamentais e a luta pela acessibilidade da intervenção baseada na ABA como um direito garantido no sistema público pode ser uma forma possível de expressarmos nosso compromisso social.
Parabéns Lucas! Belo texto. Profissionais conscientes e éticos fazem toda a diferença para todos os que procuram auxílio.
ResponderExcluir