Deivid Regis dos Santos
Clínica de Psicologia Attento – Bem Estar e Desenvolvimento Humano
Verônica
Bender Haydu
Universidade
Estadual de Londrina
A Análise do Comportamento tem
estabelecido um diálogo cada vez mais amplo com diversas ciências, como
Biologia, Economia e Neurociências (Cihon & Mattaini, 2020). Nesse contexto
interdisciplinar, surgem e são aplicadas diferentes práticas de intervenção. O neurofeedback,
também conhecido como biofeedback das ondas cerebrais, é uma dessas
intervenções. Essa intervenção tem se mostrado promissora para promover
mudanças permanentes na atividade cerebral. No entanto, sua eficácia depende de
uma compreensão mais aprofundada dos mecanismos envolvidos.
O
neurofeedback é uma técnica de neuromodulação que utiliza eletrodos para
captar, em tempo real, informações sobre a atividade cerebral do indivíduo
(Enriquez-Geppertet al. (2017). Essas informações são processadas por um
amplificador e enviadas para um software, que identifica as regiões do
cérebro em que as ondas estão atuando. A partir disso, o clínico pode programar
quais tipos de ondas devem ser aumentadas ou reduzidas em áreas específicas,
oferecendo ao paciente feedback visual ou auditivo. O termo “neurofeedback”
surge justamente porque o paciente recebe, em tempo real, um retorno sobre o
que está acontecendo em seu cérebro
Com a prática regular, o neurofeedback
pode, por meio da neuroplasticidade, promover mudanças permanentes no padrão de
atividade cerebral, conforme especificou Hammond (2007). Clínicos têm utilizado
essa técnica no tratamento de condições como TDAH, depressão, ansiedade,
Alzheimer, autismo, além de melhorar o desempenho de atletas que buscam maior
foco, autocontrole e velocidade de resposta. E pesquisadores como Vilou et al.
(2023) têm sugerido que o neurofeedback pode ser entendido como um
processo de condicionamento operante, uma vez que as consequências imediatas
das respostas fisiológicas — como o feedback auditivo ou visual —
influenciam a frequência futura dessas respostas em áreas específicas do
cérebro. Assim como no condicionamento operante, no neurofeedback o
paciente é exposto a estímulos imediatos (visuais ou sonoros), que aumentam ou
diminuem a probabilidade de certos padrões de atividade cerebral se repetirem.
Dessa forma, o cérebro aprende a autorregular suas ondas em resposta às
consequências imediatas oferecidas pelo feedback.
Embora muitos defendam a ideia de que o neurofeedback
pode ser explicado pelo condicionamento operante, poucos autores exploram
premissas essenciais para caracteriza-lo como um processo operante. Análises dos
processos de reforço, de discriminação e generalização de estímulos e da extinção
após a suspensão do feedback são fundamentais. Além desses processos,
devem ser consideradas as operações estabelecedoras (cf. Michael, 1993), as
quais afetam o valor reforçador das consequências, tendo a qualidade do reforço
um papel importante na probabilidade de as respostas serem repetidas. Análises dessa
natureza fornecem conhecimento que contribuem para aumentar a qualidade das
intervenções.
Diante dessas considerações, destaca-se que
o neurofeedback é uma intervenção terapêutica promissora. No entanto,
para maximizar sua eficácia, é crucial aprofundar o entendimento dos mecanismos
envolvidos, bem como investigar fatores críticos, como a qualidade do feedback,
sua generalização para além das sessões, os processos de extinção e possíveis
esquemas de reforço.
Referências
Cihon, T. M., & Mattaini, M. A. (Eds.).
(2020). Behavior science perspectives on culture and community.
Springer.
Enriquez-Geppert, S., Huster, R. J., &
Herrmann, C. S. (2017). EEG-neurofeedback as a tool to modulate cognition and
behavior: a review tutorial. Frontiers in Human Neuroscience, 11,
51. https://doi.org/10.3389/fnhum.2017.00051
Hammond, D. C. (2007). What is neurofeedback? Journal
of Neurotherapy, 10(4), 25-36. https://doi.org/10.1300/J184v10n04_04
Michael,
J. (1993). Establishing operations.
The Behavior Analyst, 16(2), 191-206. https://doi.org/10.1007/BF03392623
Vilou, I., Varka, A., Parisis, D., Afrantou,
T., & Ioannidis, P. (2023). EEG-neurofeedback as a potential therapeutic
approach for cognitive deficits in patients with dementia, multiple sclerosis,
stroke and traumatic brain injury. Life, 13(2), 365. https://doi.org/10.3390/life13020365