Poliana Sanches, Karen Rancura, Letícia de
Assis P. Jardim,
Andressa Félix Ferreira, Maria Cecília Bonfim
dos Santos e
Verônica Bender Haydu
Será que o que fazemos acontece por acaso? Você já parou para pensar na
razão pela qual nos comportamos do jeito que o fazemos? Compreender o que
fazemos e por que o fazemos é parte do processo de autoconhecimento. Essa
análise pode nos ajudar a tomar decisões que sejam compatíveis com aquilo que
esperamos como resultados de nossas ações. É olhando para as consequências do
que fazemos que nos tornamos mais sensíveis aos motivos de nos comportamos de determinada
maneira. A análise do comportamento é uma ciência que busca responder algumas
questões como as apresentadas acima. Uma das principais ferramentas utilizadas
por essa ciência para compreender o ser humano e suas ações é a análise
funcional do comportamento.
Para explicarmos o que é a análise funcional para o analista do
comportamento, precisamos caracterizar o que é comportamento. O comportamento é
entendido como a relação entre (a) o contexto em que uma ação ocorre, (b) a
própria ação e (c) as consequências dessa ação. Assim, para entender a função
dos nossos comportamentos – a razão pela qual ele ocorre – precisamos olhar não
só para nós mesmos, mas para o que está acontecendo quando nos comportamos, e o
que ocorre depois de nos comportarmos. As consequências de nossas ações são
muito importantes nessa análise: elas alteram a probabilidade de voltarmos (ou
não) a fazer o que fizemos. Isso, algumas vezes, pode parecer óbvio, mas em
outros momentos, pode acontecer sem que percebamos.
Então o que é a análise funcional? É a investigação dessa interação.
Observar em qual situação o comportamento aconteceu, a ação em si, e as
consequências que a ação produziu, para então tentarmos identificar qual a
função daquele comportamento que faz com que ele continue acontecendo.
Para a análise funcional consideramos os comportamentos que foram
mantidos, ou seja, aqueles que produziram consequências reforçadoras. Por
exemplo, podemos descrever o comportamento de uma criança que fez birra no supermercado porque queria
um doce. Seu pai ficou com vergonha do comportamento da criança e entregou o doce
para ela parar de chorar. Por meio da análise funcional, conseguimos observar
que a criança faz birra porque anteriormente esse comportamento fez com que ela
obtivesse o que queria.
Em um segundo exemplo, podemos imaginar que estamos
com dor de cabeça, uma situação aversiva. Então decidimos tomar um medicamento
e a dor é aliviada. Fazendo a análise funcional verificamos que tomamos o
medicamento porque anteriormente, ao realizarmos essa ação, nossa dor foi
aliviada. Esses são exemplos simples, para auxiliar na compreensão de como é
feita uma análise funcional. No entanto, é possível realizar análise funcional
de comportamentos complexos, como ansiedade, depressão, relações afetivas,
entre outros. Esse procedimento pode ser realizado com a ajuda de analistas do
comportamento em contextos terapêuticos, nos quais são analisados comportamentos
relevantes para você e que você deseja compreender e mudar.
Ser capaz de realizar análises
funcionais do próprio comportamento pode contribuir tanto para o
desenvolvimento do autoconhecimento quanto para a possibilidade de mudança. Quando
encaramos nossas ações como fruto do acaso, não existe nada que possa ser feito
para mudar, mas quando compreendemos que nossos comportamentos são mantidos por
suas consequências e identificamos suas funções, podemos prever nossas
respostas de acordo com os contextos e emitir comportamentos alternativos que
nos propiciem o acesso as consequências desejáveis.
Você pode acessar um artigo de
revisão da literatura sobre este tema em:
Costa, S. E. G.
de C., & Marinho, M. L. (2002). Um modelo de apresentação de análise
funcionais do comportamento. Estudos de Psicologia (Campinas), 19(3),
43-54. https://dx.doi.org/10.1590/S0103-166X2002000300005