sábado, 6 de agosto de 2022

Entre Skinner, Lutero e o Black Metal Saudita


Imagem: Logo da banda de Black Metal Saudita intitulada Am-Namrood. Disponível em:
https://de.wikipedia.org/wiki/Al-Namrood#/media/Datei:Al_Namrood_Logo.jpg

 Roberto Salbego Donicht

Rafael Peres Macedo

Thays da Cruz Silva

Verônica Bender Haydu

        A participação em instituições religiosas ou agências controladoras religiosas fazem parte do cotidiano de inúmeras pessoas ao redor do globo. Essas agências controlam o comportamento de inúmeros indivíduos e grupos sociais, influenciando as decisões da sociedade que as compõem. Diante disso, surge o questionamento: há algo a ser feito quando essas instituições religiosas possuem um poder de controle muito grande e/ou quando utilizam esse poder para fins pessoais ou para ganhos de suas instituições?

        Para responder a essa pergunta, podemos retornar ao livro Ciência e Comportamento Humano do analista do comportamento B. F. Skinner (1953/1981). Segundo Skinner, o controle das agências religiosas deriva de uma alegada conexão com o sobrenatural (e.g., Deus, mundo metafísico, paraíso, karma etc.), em que uma das principais técnicas de controle é uma extensão de práticas de controle grupal, ético e/ou governamental, de classificar o que é “certo” e “errado” (e.g., para ter acesso ao paraíso, o certo é X e não Y). No controle religioso, os comportamentos não são simplesmente classificados como “bom/legal” (controle ético) ou “ruim/ilegal” (controle governamental), mas sim como “moral/virtuoso” e “imoral/pecaminoso”. Concomitante a essa classificação, os estímulos reforçadores/punidores utilizados pela a instituição religiosa são muito mais intensos (e.g., o inferno é um local de eterno sofrimento e isso tende a ser mais intenso que a ideia de um sofrimento temporário). Devido a essas características, o controle religioso tende a ser mais poderoso e rígido que o controle governamental, ético ou grupal.

        Embora a influência da agência controladora religiosa possa ser bastante poderosa, ela não é onipotente, onisciente e nem onipresente. A partir do exposto por Skinner (1953/2005), podemos pensar em duas categorias de contracontrole a esse tipo de instituição. A primeira categoria seria quando a agência controladora religiosa é limitada/contracontrolada por fatores/variáveis externos a ela. Por exemplo, na Arábia Saudita, país conhecido por possuir uma agência controladora religiosa bastante influente, existe uma banda de Black Metal denominada “Al-Namrood” (“Os não crentes”, tradução livre) que compõem de modo anônimo diversas músicas contrárias ao excessivo e aversivo controle religioso que ocorre no país.

        O segundo tipo é quando o limite/contracontrole se dá por fatores/variáveis internos a agência controladora religiosa, podendo-se citar como exemplo a história da Reforma Protestante. Martin Lutero era um padre católico que se revoltou contra alguns preceitos do catolicismo da época e então elaborou as 95 teses sobre o que deveria mudar na igreja católica. Tal contracontrole foi denominado de Reforma Protestante, a qual contribuiu para a criação de inúmeras novas agências controladoras religiosa que conhecemos hoje (e.g., Luteranismo, Calvinismo etc.). Note-se que nesse exemplo, o contracontrole ocorreu por um membro da própria agência controladora, o qual ocasionou mudanças na compreensão sobre o papel das agências controladoras religiosas cristãs da época.

        Retornando ao nosso questionamento inicial, percebemos que existe inúmeras formas de contracontrolar de influência religiosa em uma sociedade. Desde atos culturais até reflexões teológicas - as opções são inúmeras e diversas. Logo, a questão a ser respondida não é se “há algo a ser feito” e sim o “que fazer” quando nos deparamos com instituições religiosas (ou econômicas, governamentais etc.) que exercem controle de modo considerado aversivo para a sociedade.

Referência

Skinner, B. F. (1981). Ciência e Comportamento Humano. Martins Fontes. (Publicado originalmente em 1953).

 


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