sábado, 4 de junho de 2022

Ciência e Religião: Fronteiras Instransponíveis?

Imagem: Ilustração da relação entre ciência e religião. 

Roberto Salbego Donicht
Thays da Cruz Silva
Rafael Peres Macedo
Verônica Bender Haydu

           Por muito tempo Religião e Ciência conviviam sem conflitos, nessa época a ciência era chamada de teologia natural ou filosofia natural. Uma das razões para essa harmonia ter surgido veio da argumentação de Tomás de Aquino de que Ciência e Religião possuíam “reinos” distintos de estudo e conhecimento, cada qual instransponível para o outro. O fim dessa paz veio com o advento da Ciência Secular (Século XIX), a qual surgiu das contribuições darwinistas e, principalmente, a profissionalização dos cientistas. A argumentação de Tomás continuou, no entanto, sendo usada agora para justificar a desarmonia entre essas áreas do saber. Diante disso, ficam os seguintes questionamentos: A argumentação de Tomás de Aquino faz sentido? Ciência não deve se meter com Religião e vice-versa?

            Embora, a argumentação apresentada por Tomás de Aquino possa ser considerada desnecessária, ela provavelmente foi um diferencial. Na época de Aquino, um contexto predominante religioso, qualquer argumento que favorece o livre fazer científico era importante. Logo, essa lógica permitiu que os cientistas realizarem suas pesquisas sem terem que discutir constantemente com a religião.

            Em relação a cisão Ciência-Religião, temos algumas respostas na Análise do Comportamento (uma área da ciência) no livro “Religion and Human Behavior”[1] (Schoenfeld, 1993). Para Schoenfeld, a enorme influência religiosa existente no cotidiano dos indivíduos deveria bastar como justificativa para haver maior interesse dos analistas do comportamento em pesquisar esse fenômeno. Segundo Schoenfeld, se Deus falou na língua dos homens, essa língua é comportamento. Ademais, há a ideia de que tanto a religião como a ciência podem ganhar muito com o diálogo mútuo. A compreensão de fenômenos religiosos por uma perspectiva científica pode tanto elucidar problemáticas presentes em nossa sociedade (discussões morais, por exemplo) quanto auxiliar em discussões religiosas, como a compreensão da “língua dos homens” utilizada por Deus.

         Diante do exposto, o argumento de Tomás de Aquino já não é mais justificativa para o afastamento da Análise do Comportamento e da Ciência, como um todo, de um fenômeno tão presente na humanidade como a religião. Atualmente, a Ciência e a Religião são áreas do saber bastante consolidadas em seus respectivos “reinos”, cabendo a elas abrirem as fronteiras para uma discussão proveitosa e frutífera.

Referência

Schoenfeld, W. N. (1993). Religion and Human Behavior. Boston: Authors Cooperative.



[1] O qual é provavelmente o único livro da Análise do Comportamento destinado a estudar exclusivamente o fenômeno religioso.    

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