Guilherme Alcântara Ramos
Verônica Bender Haydu
Você já imaginou o que faria se ganhasse 15 mil reais?
Algumas pessoas possivelmente escolheriam comprar um carro popular (usado) ou
uma moto, ou pelo menos usar o valor como entrada. Imagino que poucas pessoas
guardariam o dinheiro ou investiriam o valor para o futuro. Se você aplicar
esse valor no tesouro direto (de acordo com informações de um site de
investimentos, verificado no dia 02/04/2017) você poderia resgatar o valor de
R$184.350,00 (suficiente para comprar uma BMW 0 Km no valor atual) no ano de 2045.
Apesar de a quantia final ser bastante significativa, acredito que poucos
leitores tenham pensado na possibilidade de aplicar o dinheiro em longo prazo
ao considerar o que poderiam fazer com os 15 mil reais. Porque isso acontece?
Animais em geral, humanos e não humanos, tendem a escolher consequências
mais imediatas, mesmo quando isso significa receber um benefício menor. A
preferência por consequências imediatas possivelmente é fruto do processo de
seleção natural de comportamentos. Quanto mais os animais demoravam para
consumir os alimentos, maiores os riscos envolvidos (Green & Myerson,
1996). Não consumir um alimento que estava disponível, envolvia riscos como: o
alimento estragar, ser consumido por outro animal ou, no caso de presas,
deslocar-se para uma região mais distante ou tornar-se inacessível. Assim, a
preferência por resultados mais imediatos, mesmo quando menores, pode ter sido
selecionada pelo seu valor de sobrevivência.
O padrão de comportamento impulsivo, de baixo autocontrole,
pode não ter o mesmo valor de sobrevivência para o homem, e pode ser
considerado até um problema. Comprar bens de consumo com o dinheiro disponível
produzirá certa satisfação pelo acesso aos bens e decorrências derivadas de sua
posse, porém poderá comprometer a qualidade de vida na posteridade. Da mesma
forma que exagerar no consumo de doces e alimentos gordurosos, que produzem
satisfação imediata ao serem consumidos, poderá aumentar a probabilidade de
problemas de saúde no futuro. Nos dois exemplos citados, a escolha pelo
resultado imediato acarreta em prováveis resultados não desejáveis no futuro.
Estudos sobre o comportamento de escolha
(autocontrole/impulsividade) visam produzir conhecimento que auxilie as pessoas
a tomarem decisões mais adequadas, considerando as possibilidades e os efeitos
em curto prazo versus aqueles em longo prazo. Alguns dos resultados encontrados
apontam que, por exemplo, o álcool afeta negativamente o autocontrole das
pessoas, tornando-as mais impulsivas e propensas a comportamentos de risco
(Johnson, Sweeney, Herrmann, & Johnson, 2016), portanto é preferível tomar
decisões importantes apenas quando estiver totalmente abstêmio. Ficar na
presença daquilo que deseja, como um delicioso hambúrguer, torna mais difícil
manter o autocontrole (Grosch & Neuringer, 1981), então é preferível evitar
ambientes em que se fique na presença de alimentos proibidos quando se está
fazendo uma dieta. Realizar alguma atividade que seja incompatível com o
comportamento impulsivo auxilia na manutenção do autocontrole, ou seja, vale a
pena ter algum hobby ou passatempo
prazeroso para lhe entreter nos momentos que quiser evitar se engajar em algum
comportamento não desejado. Assim, antes de tomar
uma decisão, considere as decorrências das possibilidades que você dispõe, não
tome decisões importantes sob efeito de álcool, evite tomar decisões em um
primeiro momento, ainda mais quando estiver na presença daquilo que está
considerando adquirir, e pense em atividades alternativas que possa fazer
quando precisar manter seu autocontrole. Lembre-se que o autocontrole deve ser
desenvolvido, as dicas são apenas para lhe auxiliar nesse caminho.
Referências
Green, L., & Myerson, J. (1996). Exponential
Versus Hyperbolic Discounting of Delayed Outcomes: Risk and Waiting Time. American Zoologist, 36(4), 496–505. doi: 10.1093/icb/36.4.496
Grosch, J., & Neuringer, A. (1981).
Self-control in pigeons under the Mischel paradigm. Journal of the Experimental Analysis of Behavior, 35(1), 3–21. doi: 10.1901/jeab.1981.35-3
Johnson, P. S.,
Sweeney, M. M., Herrmann, E. S., & Johnson, M. W. (2016). Alcohol Increases
Delay and Probability Discounting of Condom-Protected Sex: A Novel Vector for
Alcohol-Related HIV Transmission. Alcoholism: Clinical and Experimental
Research, 40(6), 1339–1350. doi: 10.1111/acer.13079
Nenhum comentário:
Postar um comentário