Greicy dos Anjos
Verônica Bender
Haydu
Silvia Regina de
Souza
A hora da
educação física é vista por muitas pessoas como a hora da brincadeira e da
diversão. Ela está, muitas vezes, associada a momentos de descontração com os
colegas e de realização de atividades prazerosas. As aulas de educação física se constituem no
ambiente onde o ensino de habilidades como cooperação, enfrentamento de
estresse, tolerância à frustração e atraso de recompensa podem ser trabalhados,
dando suporte a educação social dos alunos. Contudo, esse pode ser também o
momento em que “os nervos ficam a flor da pele”. Isso porque nas aulas de
educação física pode haver um clima de competição tendo em vista que as
atividades propostas podem levar a comparação de desempenhos. Nessas situações,
pode haver a ocorrência de xingamentos, uso de apelidos entre os colegas e até
brincadeiras violentas, que muitas vezes são vistas como inofensivas por quem
as pratica. Mas, será que essas atitudes são mesmo inofensivas? A ausência de
habilidades necessárias para a prática de esportes e atividades físicas, aliadas
a professores despreparados para o exercício de sua função, pode contribuir,
sim, para a ocorrência do que conhecemos como bullying.
O conceito de bullying vem sendo discutido há algum tempo
por educadores e cientistas (Stelko-Pereira & Wiliams, 2010). O bullying pode ser definido como um tipo
de violência entre pares e que ocorre de forma sistemática contra uma pessoa ou
grupo, sem motivação aparente. Existem diversas matérias de jornais que
denunciam sua ocorrência e suas consequências, como brigas, evasão escolar, crianças
e adolescentes que desenvolvem depressão, e alguns chegam a cometer suicídio por
passarem por situações de humilhação frequente no ambiente escolar. Por essa
razão, o bullying é um fenômeno que
deve ser discutido e melhor tratado.
Quando se trata
de bullying e atividade física, o
relato que se ouve é o de que experiências ruins nas aulas de educação física
contribuíram para a interrupção de atividades dessa natureza. Esses discursos,
geralmente são acompanhados de outros, como: “não sou bom em esportes” ou “não
gosto de praticar atividades físicas e esportes”. Sabe-se, contudo, que a
pratica regular de atividades física e esporte, quando bem conduzidas,
contribuem para uma melhor qualidade de vida e de interações sociais.
A pratica de
atividade física está diretamente relacionada à saúde e a prevenção de doenças.
Praticar atividades físicas regularmente gera diversos benefícios para o
organismo, entre eles a prevenção e controle de doenças como as cardiovasculares
e a diabetes, e a aceleração do metabolismo (maior facilidade em perder peso ou
maior dificuldade em ganhar peso). Além da liberação de substâncias relacionadas
ao prazer e bem-estar. Experiências negativas no contexto escolar em relação a
pratica de atividades físicas podem interferir no engajamento nesse tipo de
atividade na fase adulta (Williams, D’Affonseca, Correira, & Albuquerque,
2011).
Nesse sentido,
para evitar a ocorrência de bullying
nas aulas de educação física é importante que o profissional que atua nessa
área esteja preparado. Embora cada situação seja única, são dadas, a seguir,
algumas dicas que podem auxiliar os professores a prevenirem a ocorrência de bullying ou a lidarem adequadamente com
elas. As dicas são:
1. Planeje sua aula com o objetivo de minimizar
situações que possam ser conflituosas e competitivas, sempre deixando claro os
limites e as regras do jogo (Weimer, 2014). Nas situações em que ocorre algum
tipo de conflito, caso as regras e os limites estejam bem estabelecidos, o
espaço de questionamento diminui, diminuindo também a probabilidade de ocorrência
de episódios de violência e conflitos durante as aulas.
2. Proponha
atividades que possam ser realizadas por todos os alunos. Desse modo, o aluno
menos habilidoso tem a oportunidade de fazer parte do grupo e o mais habilidoso
a lidar com situações que, para ele, poderiam ser conflituosas.
3. Priorize atividades nas quais todos os alunos
participem e crie condições para que os alunos se saiam bem nas atividades
propostas. Para que isso ocorra, é importante que sua aula seja preparada
levando em consideração as habilidades e déficits de cada aluno no que se
refere às atividades físicas e esportes. Sentimentos de autoconfiança estão
relacionados a comportamentos bem-sucedidos.
4. Promova diálogos e debates entre e intrassalas, a
fim de aumentar o conhecimento dos alunos sobre esse fenômeno. Discuta com eles
o que é bullying, quais as consequências
para os envolvidos nesses episódios e formas de denunciar a ocorrência desse
tipo de violência.
5. Oriente os pais acerca do conceito de bullying. Explique os eventos que podem
contribuir para que o bullying ocorra, bem como, as consequências para os
envolvidos. Você pode ainda dar dicas que possam auxiliá-los a identificar e sobre
como proceder quando percebem que seu filho ou filha sofre bullying na escola.
6. Por fim, fique atento ao que acontece nas suas
aulas. Observar o comportamento de seus alunos durante as aulas e ouvi-los
atentamente é fundamental.
Estar alerta e
informado sobre o assunto é muito importante. O bullying não é uma brincadeira e pode produzir consequências negativas
para os envolvidos que perdurarão por muito tempo.
Referências
Stelko-Pereira, A. C. & Williams, L. C. A.
(2010) Reflexões sobre o conceito de violência escolar e a busca por uma
definição abrangente. Temas em Psicologia,
18(1), 45-55.
Weimer, W. R. (2014) Violência e Bullying: Manifestações e consequências
nas aulas de educação física escolar. Revista
Brasileira de Ciência do Esporte, 36(1), 257-274.
Williams, L. C. A., D’Affonseca, S. M., Correia, T.
A., P. P. Albuquerque (2011) Efeitos a longo prazo de vitimização na escola. Gerais: Revista Interinstitucional de
Psicologia. 4(2). p. 187-199.