Um homem meditando. A posição das mãos visa mais conforto do que uma representação religiosa. Essa imagem foi gerada com a Inteligência Artificial “DALL·E 2” em 05/09/2023.
Wildson Cardoso AssunçãoCamilla Sant’Anna da SilvaVerônica Bender Haydu
Podemos
considerar o treinamento em mindfulness como
um meio viável no tratamento de distúrbios envolvendo medo e ansiedade? Como
uma análise funcional do comportamento nos permite fazer essa descrição? Quais
princípios podem ser considerados?
Vamos considerar
alguns dos princípios da Análise do Comportamento.
A extinção
respondente consiste no enfraquecimento de uma resposta reflexa devido à
apresentação repetida do estímulo eliciador condicional sem emparelhá-lo com o
estímulo eliciador incondicional. A extinção operante consiste na redução da
frequência ou cessação de uma resposta operante devido à suspensão do reforço
que anteriormente mantinha essa resposta (Sturmey et al., 2020). Resistência à
extinção, por sua vez, ocorre quando a emissão da resposta previamente
condicionada persiste, mesmo quando ela não é mais reforçada.
Conforme
enfatizado por Petscher et al. (2008), a extinção pode produzir efeitos
indesejáveis quando utilizada isoladamente em contextos clínicos e
educacionais. Devido a esse aspecto, além do uso de programas de reforço,
alguns analistas do comportamento (e.g., Fuller & Fitter 2020; Kasson &
Wilson, 2017) propuseram uma alternativa para diversos contextos que consiste
na prática de mindfulness (meditação
guiada).
Em um estudo
desenvolvido por Björkstrand et al. (2019), tomado como exemplo, foi
demonstrado que a mindfulness não só
facilitou a extinção de comportamentos ansiosos, mas também diminuiu a taxa de
recuperação espontânea de tais respostas. Os participantes foram distribuídos
em dois grupos e um praticou meditação guiada diariamente por um período de 10
a 20 minutos durante quatro semanas. Ambos os grupos passaram por um
procedimento de condicionamento pavloviano aversivo, seguido de um procedimento
de extinção e o grupo experimental apresentou uma retenção significativamente
melhor da aprendizagem de extinção do que o grupo controle.
Além desses achados, a influência da mindfulness na sensibilidade à mudança de contingências e na
redução da ressurgência comportamental (comportamento que volta a ocorrer em
condições similares à aprendizagem inicial) foi investigada por McHugh et al.
(2012). Nesse estudo, participantes foram treinados sob diferentes esquemas de
reforço e depois expostos a tarefas de atenção focada (mindfulness) ou desfocada. No esquema de extinção, o grupo com
atenção focada mostrou extinção rápida e menor ressurgência comportamental que
o grupo controle.
Ambos os estudos,
de Björkstrand et al. (2019) e o de McHugh (2012) são relevantes porque
enfatizam princípios fundamentais da Análise do Comportamento aplicados a uma
intervenção clínica, ilustrando como a mindfulness
pode ter um potencial significativo para analistas do comportamento.
Referências
Björkstrand, J., Schiller, D., Li, J. et al. (2019). The effect of
mindfulness training on extinction retention. Scientific Reports 9, 19896 . https://doi.org/10.1038/s41598-019-56167-7.
Fuller, J. L., & Fitter, E. A. (2020).
Mindful Parenting: A Behavioral Tool for Parent Well-Being. Behavior Analysis in Practice, 13,
767-771. https://doi.org/10.1007/s40617-020-00447-6.
Kasson, E. M., & Wilson, A. N. (2016). Preliminary Evidence on the Efficacy of Mindfulness Combined with Traditional Classroom Management Strategies. Behavior Analysis in Practice, 10(3), 242-251. https://doi.org/10.1007/s40617-016-0160-x.
McHugh, L. et al. (2012). The effect of
mindfulness on extinction and behavioral resurgence. Learning & Behavior, v. 40, n. 4, p. 405-415. https://doi.org/10.3758/s13420-011-0062-2.
Petscher, E. S., Rey, C., & Bailey, J. S. (2009). A review of empirical support for differential reinforcement of alternative behavior. Research in Developmental Disabilities, 30(3), 409–425. https://doi.org/10.1016/j.ridd.2008.08.008
Sturmey, P., Ward-Horner, J., & Doran, E. (2020). Respondent and operant behavior. In P. Sturmey (Ed.), Functional Analysis in Clinical Treatment (Second Edition) (pp. 25-56). Academic Press. https://doi.org/10.1016/B978-0-12-805469-7.00002-4