Wildson Cardoso Assunção, Thayná Krueger, Isabela Caroline Machado
Ariany Estefani de Lima Deltrejo, Verônica Bender Haydu
A questão sobre a origem da criatividade tem sido discutida há
muito tempo, com especulações que variam entre talento inato, dom divino ou
mesmo resultado do acaso. Com base no senso comum, acredita-se que pessoas
inteligentes, que leem e estudam muito, possuem maior disposição a serem
criativas. Entretanto, a criatividade não é algo inato, mas uma habilidade que
pode ser desenvolvida e aprimorada ao longo da vida. A leitura e o estudo podem
ampliar nosso conhecimento e repertório, o que pode contribuir para uma maior
capacidade criativa. Importante ressaltar que a criatividade não é um fenômeno
isolado, mas está sempre relacionada ao ambiente e às situações em que nos
encontramos.
A criatividade é conceituada pela Análise do Comportamento
(ciência que estuda o comportamento humano) como um comportamento e, como todo
comportamento, tem uma função. Conforme essa perspectiva, há a criatividade-p,
que se refere à emissão de comportamentos novos (ou pelo menos um comportamento
próximo a um comportamento novo) do indivíduo. Esses comportamentos podem
emergir na resolução de problemas diários ou em situações que possuem alguma
relevância para o próprio indivíduo. Por exemplo, imagine que você seja
proprietário de um estabelecimento comercial e tenha enfrentado problemas nos
horários de pico, criando excesso de demanda e desorganização. Você resolve
então desenvolver, utilizando materiais recicláveis, um mecanismo de controle
de entrada - uma catraca - por meio da qual pode controlar a quantidade de
pessoas que estão ao mesmo tempo dentro de seu estabelecimento. Esse é um
comportamento novo para você e seus clientes, possivelmente efetivo na
resolução do problema, podendo ser considerado um exemplo de criatividade-p.
Agora, imagine que você, de
repente, ficasse sozinho no planeta Terra e, após alguns anos nesse cenário
hipotético, você fundasse uma empresa de criação de catracas produzidas com
materiais recicláveis, para que suas produções pudessem ser utilizadas em
outras empresas e ambientes. Qual seria a função de suas produções, se não há
mais ninguém? Lembre-se que para “criar” essa catraca você emitiu um
comportamento novo individual. Entretanto, qual seria a função de aperfeiçoar e
patentear esse equipamento, se não há mais ninguém além de você? Para que um comportamento
dessa natureza seja considerado criativo, é necessário que exista um problema a
ser resolvido, que essa resolução seja considerada socialmente relevante (na
opinião de quem está participando ou sendo beneficiado) e que seja efetiva.
Aqui, nos referimos a outro tipo de criatividade, a criatividade-h. Esse
conceito é parecido com o da criatividade-p, mas possui uma função para além do
comportamento do indivíduo, uma dimensão social.
Diante dos dois conceitos de
criatividade, é natural que surjam perguntas sobre como podemos estimular o
desenvolvimento de comportamentos criativos. Não existe uma receita, pois cada
pessoa se comporta de forma diferente, mesmo que vivam em ambientes semelhantes.
Para ser criativo o comportamento deve ser novo. Existem algumas possibilidades
de estimulações à criatividade como, por exemplo, o arranjo de ambientes que
propicie exposição a novas situações. Assim, pode emergir uma variabilidade na
forma de se comportar em relação ao ambiente ao qual uma pessoa foi exposta (pessoas,
lugares, coisas, brinquedos/brincadeiras, jogos, lazer, trabalho, leitura
etc.). Outra forma de estimular a criatividade é,
em meio à exposição ao ambiente novo, fornecer ou programar situações que
demandem de resoluções de problemas, a partir da solução de problemas mais
simples aos mais complexos. Espera-se que ao longo do tempo haja o que chamamos
de recombinação de repertórios (ou recombinação de comportamentos aprendidos).
Essa recombinação faz com que uma dada resolução de problemas previamente
aprendida possa ser útil em outros contextos ou, ainda, várias resoluções podem
se tornar uma única resolução para um problema complexo novo.
Conclui-se, portanto, que a
criatividade não é uma característica inata, um dom divino ou resultado do
acaso, mas que ela pode ser desenvolvida e aprimorada ao longo da vida. Existem
diferentes tipos de criatividade, cada um com uma função específica, mas todos
relacionados ao ambiente e às situações em que nos encontramos. Para estimular
a criatividade, é necessário expor-se a novas situações e fornecer ou programar
situações que demandem resoluções de problemas, permitindo a recombinação de
repertórios. Dessa forma, é possível desenvolver habilidades criativas que
sejam efetivas e socialmente relevantes.
Para saber mais sobre esses e
outros conceitos de criatividade, aprofundar seus conhecimentos e se divertir
em uma boa leitura, recomendamos o livro Criatividade:
Suas origens e produtos sob uma perspectiva comportamental, publicado em
2018 por Hernando Borges Neves Filho.