Fotografia de policial olhando para o lado direito em local de crime isolado para perícia. Disponível em: https://www.pexels.com/pt-br/
foto/crime-delito-criminoso- bandido-7101498/
Natalia Rocha de Azevedo
A atividade policial é considerada
estressante, de alto e constante risco. Segundo Azevedo (2020), ainda que o policial
não esteja em atividades operacionais, são diversos os casos em que, tendo seu
trabalho descoberto, ele sofre violências que podem colocar ele e seus
familiares em perigo ou levá-los à óbito. Além disso, sua atuação normalmente
se dá em ambientes e em momentos conflituosos. As atribuições dos diferentes
cargos das forças policiais do país são especificadas por leis, mas no
imaginário social, isso tem pouca importância, pois o policial é o responsável
por solucionar questões que necessitam ou possam necessitar do uso de força.
Costumeiramente, espera-se que ele seja forte, capaz de lidar com todos os seus
conflitos, que esteja sempre em condições de atuação e atendimento eficiente
das demandas de sua função.
A construção da cultura da carreira
policial no imaginário desse profissional também é repleta de idealizações, que
podem vir a representar fator importante para futuros problemas psicológicos.
Diante disso, temos situações como o excesso de demandas, muitas vezes sem
solução a curto prazo, que geram exposição prolongada às violências diversas e
questões organizacionais internas. O profissional impotente diante dos fatos
pode, após infrutíferas tentativas de autoproteção, lidando com tantos
componentes aversivos na rotina laborativa, adoecer.
A atividade policial mudou, pelas
mudanças sociais, tecnológicas e pelo perfil exigido para o ingresso nos cargos
(e.g., cada vez mais técnico, com formações acadêmicas específicas e menos
pautado nos aspectos físicos). O estereótipo do sujeito forte e destemido que
tem como atuação principal prevenir a criminalidade, deter criminosos, enviesa
e influencia a formação desse profissional para sua atuação nas instituições de
segurança pública e em sua convivência interpessoal.
Os estudos referentes à saúde do
trabalhador perpassam os mais diversos referenciais teóricos, tanto na
Psicologia quanto em outras áreas de conhecimento. Para a Análise do
Comportamento, o comportamento humano se dá pela interação de variáveis em três
níveis: filogenético, que é a história genética de cada espécie; ontogenético,
que é a história da interação do indivíduo com o meio, e o nível cultural,
relacionado às interações dos grupos, transmitidas a seus integrantes de
geração a geração. As
relações entre esses níveis ajudam na manutenção de práticas comportamentais e
produtos dessas práticas.
A Análise do Comportamento
representa uma possibilidade interventiva, por se mostrar hábil na compreensão
e caracterização dos comportamentos envolvidos para a manutenção cultural. Aqui,
mais especificamente, considerando a cultura da atividade policial, no intuito
de abrir novas discussões e compreensões sobre aspectos relativos à saúde e ao
adoecimento na atuação profissional dessa categoria. Além disso, apontar
possibilidades de intervenção, inclusive – e especialmente – de forma
preventiva, fomentando atuações e ambientes mais alinhados às novas demandas e
posturas sociais e menos prejudiciais aos envolvidos.
Referência
Azevedo, N. R. (2020). Perícia Criminal Federal e os crimes
cibernéticos de cunho sexual contra crianças e adolescentes sob a perspectiva
analítico comportamental. Dissertação de Mestrado em Análise do
Comportamento, Universidade Estadual de Londrina, Londrina (PR), Brasil.