Thays da Cruz Silva
Rafael Peres Macedo
Roberto Salbego Donicht
Verônica Bender Haydu
Persistir em comportamentos que a princípio não tem sentido, como manter-se em um projeto sem retorno financeiro ou como a condenação ilustrada no Mito de Sísifo (o eterno empurrar de uma enorme pedra), pode parecer inexplicável, misterioso ou místico. No entanto, o comportamento de persistir tem sido foco de investigação científica, como acontece com o fenômeno sunk cost effect. Esse fenômeno foi descrito em outro texto deste Blog, porém, não especificamente numa perspectiva da Análise do Comportamento (AC). As contribuições da AC sobre programas de reforço podem ajudar a explicar o sunk cost effect, de acordo com essa visão.
O termo persistência é sugerido aqui no lugar de sunk cost effect, porque o segundo não é muito bem conceituado na AC (cf. Carreiro, 2007); é necessário avaliar quando a persistência pode ser considerada sunk cost effect. Deve-se destacar que nem todos os casos de persistência são considerados como sendo sunk cost effect. A persistência comportamental é caracterizada como o persistir em um curso de ação (Luiz, Costa e Cançado, 2019), tendo sido apontada como uma forma de resistência à extinção (Goltz, 1992). Assim, consideramos aqui o termo persistência como variável dependente dentro do fenômeno sunk cost effect. Por isso, é importante entender que variáveis, tais quais o histórico de reforço, podem influenciar a persistência comportamental.
Em estudos que investigam os efeitos do histórico de reforço, há duas importantes características: o treino em programas e a ocorrência de um período de extinção. Podem ser entendidos como estudos de história de reforço, aqueles em que são observados, em uma fase de teste, os efeitos do responder após a exposição a diferentes condições experimentais, por exemplo programas de reforço distintos (Aló, 2005). Programas de reforço intermitente produzem persistência comportamental durante uma situação de extinção (Carreiro, 2007), o que torna esse tipo de programa variáveis independentes interessantes a serem investigadas em estudos experimentais.
Um desses estudos, desenvolvido por Goltz (1992), consistiu em avaliar os efeitos do histórico de reforço em uma tarefa de gerenciamento monetário fictício. Os participantes tinham $10.000 disponíveis para alocar entre duas alternativas: (a) investir, com possibilidade de ganhos ou perdas; (b) guardar o dinheiro em um fundo monetário em que não havia possibilidade de ganhar ou perder. A quantia a ser investida a cada escolha variou entre $0 e $10.000 em blocos (incrementos) de $100. Foram realizadas escolhas em condições com possibilidade de diferentes magnitudes de ganhos ou perdas (sinalizadas por uma mensagem) e extinção. Os participantes foram distribuídos entre cinco grupos: um com programação de ganhos em FR (fixed ratio); o segundo em VR (variable ratio); e três grupos em CRF (Continuous Reinforcement), um com pequena magnitude de ganho (+10), o segundo com maior magnitude de ganho (+30) e o terceiro com oito escolhas programadas para ganho (+30) e oito para perda (-10), respectivamente. Os participantes foram informados que ao fim da tarefa deveriam explicar como foi feito o gerenciamento do dinheiro. Observou-se que os participantes do grupo com ganhos contínuos e de menor magnitude foram os que apresentaram maior redução do investimento em ações. Logo, experimentar reforços de forma intermitente produziu maior persistência comparado à obtenção de reforço a cada resposta.
O estudo de outras variáveis relacionadas a história de reforço, como a magnitude dos ganhos e perdas etc, são importantes para compreensão da persistência comportamental. O histórico de reforço é uma das variáveis que afeta o persistir. Na descrição dos tipos de investimentos estudados no sunk cost effect, além do investimento monetário, há investimentos de tempo e esforço, assim como apontam os estudos da AC sobre Momentum comportamental e autocontrole. Portanto, o estudo da persistência comportamental e das variáveis que a afetam trazem contribuições para compreensão do sunk cost effect. Sugerimos que mais estudos sejam conduzidos e que seja realizada uma sistematização e uma organização dos estudos desse fenômeno comportamental de acordo com o princípios da AC.