terça-feira, 9 de maio de 2017

Promovendo o engajamento e a persistência em atividades de baixa probabilidade: High-P Procedure

 

André Luiz

Verônica Bender Haydu

Carlos Eduardo Costa

Promover o engajamento e a persistência em atividades de baixa probabilidade de engajamento é um problema comum que o psicólogo enfrenta em contextos clínicos, educacionais, organizacionais etc. Um dos objetivos do processo clínico, por exemplo, é estabelecer condições para que o cliente realize tarefas em que antes não se engajava. Quanto mais difícil essa tarefa for para o cliente, menor é a probabilidade de engajamento. De acordo com Nevin (1996), uma vez que essa tarefa é completada, o terapeuta deve se preocupar com um novo objetivo: criar condições para que o cliente continue apresentando o comportamento desejado, ou seja, persista na tarefa realizada.   
Um dos procedimentos utilizados para promover o engajamento em atividades de baixa probabilidade é denominado High-p procedure (Mace et al., 1988). Nesse procedimento, solicita-se a um indivíduo que realize uma sequência de tarefas sucessivas em que ele se engajaria facilmente. Completar cada uma das tarefas produz consequências como elogios, tempo para descanso ou acesso a brinquedos. Após o término dessa sequência, solicita-se ao indivíduo que realize uma tarefa em que ele normalmente não se engajaria. Completar essa tarefa também produz as consequências descritas anteriormente. Se o indivíduo se engajar com maior facilidade na atividade de baixa probabilidade, após ter passado por uma série de atividades de alta probabilidade, considera-se que esse processo fortaleceu a classe de comportamentos de engajamento. Uma vez fortalecida essa classe de comportamentos, atividades de baixa probabilidade inicial passam a ser realizadas com maior facilidade e de forma mais frequente. Por exemplo, expor uma criança a uma série de solicitações em que ela obedeceria mais facilmente é uma maneira de fortalecer a classe de comportamentos de obedecer. Após isso, é mais provável que solicitações com baixa probabilidade de obediência sejam realizadas com maior frequência.
       Quanto maior for o fortalecimento da classe de comportamentos de engajamento maior será a persistência dessa classe ao ser confrontada com solicitações em que o indivíduo não se engaja com frequência. Diferentemente do primeiro exemplo, em vez de expor o indivíduo a apenas uma atividade de baixa probabilidade de engajamento após ter passado por uma sequência de atividades de alta probabilidade, no teste de persistência, o indivíduo é exposto a uma sequência de atividades de baixa probabilidade. A persistência dessa classe é, frequentemente, avaliada comparando duas condições prévias a exposição a uma sequência de atividades de baixa probabilidade: (a) quando o indivíduo não passa previamente por uma sequência de atividades de alta probabilidade e; (b) quando o indivíduo passa previamente por uma sequência de atividades de alta probabilidade. O número de atividades de baixa probabilidade (ou outro critério, e.g., tempo para iniciar a atividade) em que o indivíduo se engaja após essas duas condições prévias, determina a persistência.
De forma geral, é importante entender que engajamento é uma classe de comportamentos e, dessa forma, é possível arranjar condições para que ela seja fortalecida promovendo maior sucesso terapêutico. Portanto, terapeutas de plantão, não esqueçam: para que seus clientes se engajem, dentro e fora do contexto terapêutico, em atividades que vocês planejaram, é preciso criar condições para que aumente a probabilidade de que isso ocorra.

Referências

Mace, F. C., Lalli, J. S., West, B. J., Belfiore, P., & Brown, D. K. (1988). Behavioral Momentum In the Treatmant Of Noncompliance. Journal of Applied Behavior Analysis, 2, 123–141.
Nevin, J. A. (1996). The momentum of compliance. Journal of Applied Behavior Analysis, 4(4), 535–547.