Como formar melhores condutores para o trânsito
Glisiane Zolim Canali
Nádia Kienen
Você
sabia que o trânsito representa uma das principais causas de morte no mundo? Sendo
a principal entre os jovens na faixa etária de 15 a 29 anos? De acordo com a
Organização Mundial da Saúde (OMS), 1,25 milhão de pessoas morrem a cada ano no
trânsito em todo o mundo (World Health Organization [WHO], 2015). E no Brasil não é
diferente! O ano de 2014 contabilizou, em números absolutos, 43780 vítimas
fatais no país (Observatório Nacional de Segurança Viária [ONSV],
2016b).
Isso significa que o Brasil tem uma taxa de
21,59 mortos por 100 mil habitantes e, de acordo com a OMS, é o país com maior
número de mortes no trânsito por habitante da América do Sul (WHO, 2015). O
gasto total com acidentes de trânsito no Brasil ultrapassou o valor de R$ 56
bilhões de reais em 2014 (ONSV, 2016a). Esse elevado número de acidentes
de trânsito tem produzido um grande impacto social e econômico para o país.
Embora
o Brasil tenha implementado leis para o aumento da segurança e diminuição dos
índices de fatalidades relacionadas ao trânsito, isso não tem sido suficiente
para conter ou diminuir o número de óbitos. A OMS destaca que a redução dos índices de acidentes se
dá com a aplicação das leis e com “mudanças positivas” dos comportamentos da
população (WHO, 2015). Essa
mudança de comportamento é essencial, uma vez que 90% dos acidentes de trânsito
estão relacionados à falha humana (ONSV, 2015). Visando esse objetivo, o Conselho Nacional
de Trânsito (CONTRAN) modificou a estrutura do curso para a formação de
condutores com o aumento da carga horária de aulas de direção defensiva¹.
Entretanto, manteve-se a tendência de crescimento do número de óbitos em
acidentes de trânsito.
Investir
em propostas que tragam mudanças significativas no comportamento dos
indivíduos, comparada a outras intervenções (melhoria de vias públicas e/ou
renovação da frota com veículos mais seguros) é, possivelmente, a alternativa
que pode trazer melhores resultados, além de ser a mais economicamente viável
dadas as condições atuais do país. E se o aumento da carga horária do curso de
direção defensiva não tem sido suficiente para diminuir os índices de acidentes
de trânsito, cabe o questionamento sobre como estão sendo preparados os novos
condutores nos centros de formação. O que está sendo ensinado para eles? Muitas
vezes o processo ensino-aprendizagem está focado em “passar conteúdos” para o
aprendiz e acaba negligenciando o aspecto mais importante: prepará-lo para
lidar com as situações com que se deparará no trânsito em seu cotidiano.
Nesse
aspecto, a “Programação de Condições de Desenvolvimento de Comportamentos”
(PCDC), uma área que se desenvolveu a partir da Análise Experimental do
Comportamento, tem muito a contribuir. Ao atentar para a identificação,
caracterização e desenvolvimento dos comportamentos que são esperados do
aprendiz, a PCDC permite programar condições propícias para a ocorrência de
aprendizagem. Ao ensinar novos comportamentos, no caso, os relacionados à
direção defensiva, algumas dúvidas podem surgir, como por exemplo: “quais são
os comportamentos que uma pessoa necessita apresentar para que se possa dizer
que ela está dirigindo defensivamente? ”. O estudo de Russi (2016) identificou, a partir do
Capítulo III do Código de Trânsito Brasileiro (CTB), 415 classes de
comportamentos componentes da classe geral “conduzir veículo motorizado”,
dentre eles, 182 classes de comportamentos referentes à direção defensiva.
Assim, analisar materiais que têm sido usados em centros de formação de
condutores parece ser promissor como forma de ampliar a compreensão a respeito
de “dirigir defensivamente em vias públicas”, estudo iniciado por Russi. Esses materiais apresentam comportamentos do condutor
de veículo automotivo relacionados ao veículo, via de trânsito, ambiente e
regras gerais de trânsito. Dessa forma, ao caracterizar quais comportamentos são
esperados de um condutor para que ele dirija defensivamente evidencia-se o que o
aprendiz necessita aprender no seu processo de formação. Buscando assim, formar
condutores mais capazes de promoverem um trânsito mais seguro.
1.Direção Defensiva: “é a forma de dirigir, que permite reconhecer
antecipadamente as situações de perigo e prever o que pode acontecer com o
motorista, os acompanhantes, o veículo e os outros usuários da via” (DENATRAN, 2005).
Para mais informações, consultar:
DENATRAN. (2005).
Direção defensiva: trânsito seguro é um direito de todos. Retirado de
http://www.vias-seguras.com/comportamentos/direcao_defensiva_manual_denatran
Kienen, N., Kubo, O.
M., & Botomé, S. P. (2013). Ensino programado e programação de condições
para o desenvolvimento de comportamentos: alguns aspectos no desenvolvimento de
um campo de atuação do psicólogo. Acta Comportamentalia, 21(4),
481–494.
Observatório Nacional
de Segurança Viária. (2015). 90% dos acidentes são causados por falhas humanas. Retirado de http://www.onsv.org.br/noticias/90-dos-acidentes-sao-causados-por-falhas-humanas-alerta-observatorio
Observatório Nacional
de Segurança Viária. (2016a). Custos dos acidentes. Retirado de http://iris.onsv.org.br/iris-beta/#/stats/profiles/0/cost
Observatório Nacional
de Segurança Viária. (2016b). Mortes. Retirado de http://iris.onsv.org.br/iris-beta/#/stats/profiles/0/death
Russi, E. K. (2016). Identificar
os comportamentos básicos componentes da classe geral de comportamentos
denominada “Conduzir veículo motorizado” conforme o Código de Trânsito
Brasileiro. (Dissertação de mestrado não publicada). Universidade Federal
do Paraná. Curitiba, PR.
World Health Organization. (2015). Global status report on
road safety 2015. Genebra: World Health Organization. Retirado de
http://www.who.int/violence_injury_prevention/road_safety_status/2015/en/