terça-feira, 4 de agosto de 2015

PAIS TORCEDORES: DICAS SOBRE A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS NA VIDA ESPORTIVA DOS FILHOS




Amanda Oliveira Morais
Silvia Regina de Souza

Quando se trata da participação em alguma modalidade esportiva a expectativa de alguns pais relacionada ao desempenho das crianças é alta. Mesmo que as intenções desses pais sejam boas, altas exigências de desempenho no contexto esportivo podem prejudicar o desenvolvimento saudável das crianças. O objetivo geral da prática de esportes por crianças é o aprendizado nas áreas social, emocional e moral além do aprendizado de habilidades técnicas e táticas da modalidade. Se enfatizarmos apenas resultados esses benefícios não serão alcançados por completo.

Imagem retirada do Guia dos Pais Torcedores
Canato & Souza (2007)
O contexto esportivo envolve naturalmente competições e situações de cobranças por um desempenho cada vez mais preciso e, por essa razão, cobranças exageradas por desempenho são desnecessárias. Nesse cenário os pais são figuras importantes para garantir que todos os benefícios da prática esportiva sejam aproveitados. Para que isso ocorra é importante que os pais sigam algumas dicas. A primeira delas é: permita que seu filho escolha a modalidade esportiva que ele pretende praticar. Aos pais cabe apenas a tarefa de apresentar aos filhos as diferentes possibilidades e de propiciar as condições necessárias para a prática da modalidade escolhida por ele, isto é, levar aos treinos, comprar o material necessário para a prática do esporte etc. Muitos pais, ainda, sonham com carreiras esportivas que não puderam realizar e acabam depositando nos filhos a obrigação de realizar seus desejos pessoais. Lembre-se sempre que seu filho terá seus próprios desejos, e eles podem não ser os mesmos que os seus.
Imagem retirada do Guia dos Pais Torcedores
Canato & Souza (2007)

Não dediquem todo investimento apenas na carreira esportiva dos filhos
. A grande maioria das crianças e jovens que pratica algum esporte não chegará a ser profissional, e dos que conseguem pouquíssimos serão grandes campeões. Isso não significa que se seu filho quiser seguir uma carreira esportiva você não o apoiará. O apoio da família é importante, mas ele deve ser dado de forma realista. Conhecer a realidade do mercado profissional da modalidade que seu filho pratica é importante para criar expectativas reais sobre as possibilidades que ele terá.
A terceira dica é: pequenas atitudes no dia-a-dia da prática esportiva dos filhos são grandes oportunidades de ensinar grandes lições e propiciar a eles um desenvolvimento emocional mais saudável. Portanto, ao invés de apenas cobrar resultados, demonstre interesse pelo treinamento da criança ou jovem; elogie os pequenos avanços e importe-se menos com os erros; encoraje seu filho a resolver sozinho os problemas que a equipe apresentar.
Imagem retirada do Guia dos Pais Torcedores
Canato & Souza (2007)

Finalmente, aprenda a ser um torcedor melhor. Evite dar instruções da arquibancada, pois isso pode deixar a criança confusa caso a instrução dada pelo treinador(a) seja diferente da sua. É papel do treinador(a) instruir e corrigir os atletas. Se você não concordar com algo que o treinador(a) faz, é melhor marcar um horário para conversar em particular sobre suas dúvidas. Nunca brigue com o treinador(a) em público! Aliás, nunca brigue com ninguém durante treinos e competições. Se você brigar, xingar, agredir o árbitro, os adversários, ou seu próprio filho, são essas atitudes que você estará ensinando às suas crianças. Você ajudará seus filhos a lidar melhor com vitórias e derrotas se você mesmo souber lidar melhor com essas situações.  Caso seu filho vença a partida ou jogo, seja respeitoso e não deprecie os adversários. Se seu filho(a) ou a equipe dele(a) perder entenda que isso faz parte do esporte.
Alguns pais podem estar se perguntando: mas então eu não posso mais torcer pelo meu filho, só assistir? Claro que você pode torcer! Incentivar e elogiar seus filhos e/ou a equipe está mais que liberado.  Contudo, enquanto pais de pequenos “atletas” deveríamos nos questionar: o que esperamos que nossas crianças aprendam nas equipes e campeonatos dos quais participam? Alguns pais poderiam argumentar que vivemos em uma sociedade competitiva, portanto, deveríamos preparar nossos filhos para essa sociedade. Para esses pais afirmamos que o fato de vivermos em uma cultura de competição não significa que essa é a melhor maneira de vivermos em comunidade. Nós temos sim a possibilidade de promover práticas mais solidárias, colaborativas e menos competitivas. Afinal, o mundo é o que fazemos dele.

Publicado em:

Morais, Amanda Oliveira & Souza, Sílvia Regina de (26 mar 2014). Pais torcedores: Orientações sobre a participação dos pais na vida esportiva dos filhos. Noticia, Londrina, p. 2.
Canato, Thalita. & Souza, Sílvia Regina de (2007). Guia dos pais torcedores. Universidade Estadual de Londrina.

RELACIONAMENTO ENTRE PAIS E FILHOS: UMA ARMA PODEROSA CONTRA O BULLYING ESCOLAR




Izadora Ribeiro Perkoski

Silvia Regina de Souza

       A violência escolar é um fenômeno de interesse para toda a sociedade, não apenas por colocar crianças, adolescentes e educadores em risco, mas por ser reflexo da violência em outros contextos. O bullying é uma manifestação específica da violência escolar que pode ser definida como uma agressão persistente de alunos direcionada a outros alunos, dentro do ambiente escolar ou relacionada a ele. Este termo é aplicado especificamente para situações onde um ou mais estudantes perseguem, assediam, humilham, excluem, ameaçam outro estudante ou grupo. Uma de suas marcas mais fortes é o fato de não ser provocado, ou seja, não é apenas uma briga ou rixa. Geralmente, os agressores utilizam-se de algum desequilíbrio de poder, alguma vantagem que possuam sobre a vítima, por exemplo, são mais fortes, mais populares, possuem melhor condição financeira ou melhores notas.
      Enquanto as vítimas possuem risco aumentado para evasão escolar, diminuição do desempenho acadêmico, isolamento social, dificuldade para se relacionar, dentro e fora da escola, depressão e tentativas de suicídio, os agressores parecem estar mais propensos ao envolvimento com comportamentos antissociais, além de poderem também passar a enfrentar rejeição pelos outros alunos e mesmo pelos professores.
Contrariando o mito de que bullying é algo natural, uma brincadeira entre crianças e adolescentes, esse tipo de agressão pode ter efeitos severos na vida dos indivíduos. 
       Vulnerabilidades socioeconômicas, ocorrências na história de vida individual, como exposição a situações de violência ou uma criação sem regras e limites, características culturais da comunidade em que o indivíduo se encontra, são fatores que interagem para determinar o risco de se envolver em uma situação violenta e a capacidade de se recuperar dela. É importante lembrar, porém, que o bullying atinge diversas camadas sociais, não estando limitado a escolas públicas ou privadas. Em razão das consequências negativas deste tipo de comportamento, tanto para a vítima quanto para o agressor, é importante que a escola e os pais estejam preparados para identificar a ocorrência de tais situações e tomar providências no sentido de evitá-las.
       Não é raro ouvir relatos de pais surpresos ao descobrirem que seu filho tem sido vítima ou praticante de bullying. Na verdade, nem sempre os sinais da criança ou do adolescente são claros. Conhecer bem os filhos poderá facilitar esta tarefa: saber quais são seus interesses, hobbies, preferências e quem são os amigos do seu filho é uma maneira de se aproximar sem toda a cobrança típica das conversas sobre a rotina escolar. Quando os pais se mostram interessados e não apenas preocupados pelas experiências do filho, um vínculo de confiança se cria com maior facilidade. Com esse vínculo bem estabelecido e uma rotina de conversas que vão além de relatórios dos fatos negativos, possíveis problemas de relacionamento na escola podem ficar evidentes em um estágio muito mais precoce. Mudanças no comportamento dos filhos podem ser dicas importantes de que algo não está bem. Quando se trata de bullying, o afastamento dos amigos, recusa a ir à escola, falas negativas sobre si mesmo, perda do interesse por atividades que antes eram importantes, reações de agressividade ou passividade não presentes anteriormente podem ser indicadores importantes. De fato, qualquer mudança comportamental extrema e de início repentino pode caracterizar a vitimização por bullying.
       bullying. Em seguida, é importante entrar em contato com a escola – sempre deixando seu filho ciente desse contato e do teor da conversa, o máximo possível. Algumas instituições estão muito bem preparadas e acolhem as denúncias, buscando maneiras de lidar com o problema. Caso a escola negue a ocorrência do bullying, os pais devem ponderar outras medidas cabíveis. Por exemplo, os pais podem ensinar os filhos a lidar com as agressões quando estas não apresentam risco à sua integridade física e falar sobre a necessidade de denunciar e para quem a denúncia deve ser feita.
Melhor que remediar é prevenir a ocorrência de violência escolar, e os pais podem contribuir neste sentido ensinando aos filhos conceitos como generosidade, empatia e respeito, não apenas falando sobre isso, mas também oferecendo exemplos. Discutir com crianças e adolescentes sobre direitos e deveres, reciprocidade e como esses direitos devem ser defendidos também pode ajudar. Falar sobre suas necessidades, solicitar mudança de atitude e pedir ajuda são coisas que podem ser ensinadas sem que precisemos esperar que uma situação de crise ocorra. Ao suspeitar que seu filho possa estar sofrendo violência na escola, os pais devem buscar, sempre que possível, abordar o problema de forma direta com a criança ou adolescente, pois a sensação de não poder confiar em ninguém ou de que suas queixas não serão ouvidas é um dos fatores que dificulta a denúncia de

        Ao descobrir que o filho é agressor, e não vítima de bullying, a surpresa pode ser ainda maior. Nesses casos, é importante explicar para a criança ou adolescente o que é bullying e suas consequências e estimulá-lo a se colocar no lugar do outro. Não se deve abrir mão de uma reparação do dano e um pedido de desculpas público. Os pais também devem avaliar outras medidas educativas que possam ser necessárias, além de ficarem atentos para a possibilidade de reincidência.
Perceber os sinais de agressão nos filhos também provoca reações intensas nos pais. Afinal de contas, quem não teria raiva ao ver uma criança sofrer, especialmente se essa criança é seu próprio filho? E, mais do que isso, quem de nós nunca enfrentou uma situação de violência e a sensação de impotência que isso causa? Embora a revolta dos pais seja compreensível, devemos nos lembrar da importância de romper o ciclo de violência. Nossa missão como pais e educadores é ensinar e, claro, aprender a reagir de maneira não violenta. O melhor caminho para combater a violência é ensinar e viver relacionamentos mais harmoniosos.